Conselhos de um Serial Killer Aposentado (Psycho Therapy) é uma comédia ácida que parte de uma premissa absurda: um escritor (John Magaro, de Vidas Passadas), atravessando uma crise criativa e no meio de um processo de separação de sua esposa (Britt Lower, de Ruptura), faz amizade com um assassino serial aposentado (o lendário Steve Buscemi). Por acaso, ele acaba se tornando seu terapeuta de casal durante o dia e consultor para seu livro de assassinos à noite, um experimento que sai de controle de maneiras macabramente divertidas. Um filme que poderia ser uma comédia de situações totalmente previsível é elevado não só pelas atuações, mas pelas reflexões inesperadas que apresenta sobre a vida matrimonial, suas paixões e as distâncias que estamos dispostos a percorrer para reacendê-las.
Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria (If I Had Legs, I'd Kick You) é uma comédia ácida sobre a maternidade, protagonizada por Rose Byrne em um dos melhores papéis de sua carreira (pelo qual ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim). A trama segue uma mãe sobrecarregada com suas responsabilidades: uma filha doente, um marido ausente por causa do trabalho, falta de sono, pacientes complicados na terapia, seu próprio terapeuta hostil, e um buraco que se abre repentinamente no teto de seu apartamento. É um filme macabramente divertido, que encontra a ironia no absurdo, na angústia e no avassalador das situações, com um surrealismo de pesadelo similar do que Eraserhead de David Lynch, e uma formidável Byrne carregando o peso emocional do filme.
Em meio à crise climática em curso a todo vapor, e infelizmente de forma literal, Reconstrução (Rebuilding) se conecta ao nosso tempo, especialmente após os incêndios que devastaram a Califórnia no início de 2025. Segundo longa de Max Walker-Silverman (A Love Song), o filme acompanha a vida de Dustin, um fazendeiro interpretado por Josh O’Connor (La Chimera, Rivais), que perde o rancho da família nos incêndios florestais do Colorado e passa a viver provisoriamente em um acampamento. Enquanto tenta se reconectar com a filha (Lily LaTorre) e a ex-esposa (Meghann Fahy, The White Lotus), ele encontra esperança na comunidade de vizinhos que também buscam recomeçar. Josh O’Connor dá profundidade a um personagem melancólico e vulnerável, um homem com suas próprias cercas emocionais. O que nos faz lembrar dos cowboys lindamente escritos por Jane Campion em Ataque dos Cães. A convivência com a filha, que rende cenas emocionantes, e a proximidade dos vizinhos o fazem vislumbrar a possibilidade de um novo lar. Apesar da temática dolorosa e das perdas irreversíveis de seus personagens, o filme aposta em um olhar de esperança. Por fim, não é um filme-catástrofe: é sobre o que acontece depois, sobre como podemos nos reconstruir enquanto indivíduos e, principalmente, enquanto comunidade.



