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‘A Tragédia de Macbeth’ absorve expressionismo alemão para amplificar Shakespeare

Foi lá pelos idos de 1600 que William Shakespeare escreveu a tragédia ‘Macbeth’. Pensado para os palcos ingleses daquele século XVII, quando o Barroco dominava as artes, o texto conta a história de Lorde Macbeth, um general que encontra três bruxas no seu caminho. Nada de feitiço, porém: o que nasce desse encontro é uma visão grandiosa.

Segundo elas, Macbeth irá se tornar Rei da Escócia. Como? Ninguém sabe, muito menos o protagonista. É aí que começa a loucura do personagem. Atiçado por ideias e pensamentos da esposa, Lady Macbeth, ele começa a ter ideias de morte, assassinato, traição. Tudo para fazer com que as previsões das bruxas se cumpram e ele se torne rei, enfim.

A história, que é a mais curta do autor de peças como ‘Hamlet’ e ‘Romeu e Julieta’, virou um fenômeno. Ainda que considerada amaldiçoada por muitos no mundo teatral anglófono, e por isso chamada apenas de “a peça escocesa”, ‘Macbeth’ ganhou dezenas de adaptações nos palcos dos teatros e, a partir do século XX, as telas do cinema.
Nos bastidores de ‘A Tragédia de Macbeth’, Joel Coen divide o brilho com elenco estrelar e fotografia de Bruno Delbonnel (Crédito: Divulgação/Apple)

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Ganhou interpretações de nomes como do italiano Mario Caserini (1908), do austríaco Richard Oswald (1921), do norte-americano Orson Welles (1948), do japonês Akira Kurosawa (1957), do polonês Roman Polanski (1971) e do australiano Justin Kurzel (2015) com ‘Macbeth: Ambição e Guerra‘. Mas poucos tiveram êxito como Joel Coen.

Enfim, ‘A Tragédia de Macbeth’

Conhecido por trabalhos ao lado do irmão Ethan Coen, como ‘Fargo‘ e ‘Bravura Indômita‘, o Joel assumiu a bucha de fazer uma nova adaptação. Afinal, além da empreitada solitária, Joel precisava fazer com que ‘A Tragédia de Macbeth’, estreia da última semana no Apple TV+, soasse como algo original. Como competir com Welles e Kurosawa? A primeira solução foi não adaptar o texto de Shakespeare. Há apenas alguns retoques, aqui e ali. Mas o rebuscado da peça teatral de 1600 está ali — não é à toa que o começo do filme é complicado, difícil de acostumar. Além disso, outra opção lembra um pouco o que Welles fez em ‘Macbeth: Reinado de Sangue’: um elenco pouco óbvio e original.
Denzel Washington (‘Dia de Treinamento’), afinal, é um homem negro, mais velho, e que não se encaixa em uma Escócia da Idade Média, ainda mais no papel de Macbeth. O mesmo vale para a esposa do personagem principal, interpretada aqui por Frances McDormand (‘Nomadland‘), que ajuda a dar uma carga mais emocional à personagem.

Mas é o visual que muda tudo

Tudo bem: o elenco está muito acima da média, com atuações dignas de ganhar o Oscar (e não só receberem indicações na temporada), e a direção de Joel Coen é firme. Só que nada se equipara ao visual do longa, em termos de design de produção e fotografia. Rodado em preto e branco, em formato padrão (1.37:1, aquele quase quadrado, conhecido como Academy Ratio e comum no cinema até os anos 1950), o visual tem algo a dizer. Além de uma clara inspiração no cinema de Ingmar Bergman, principalmente no visual da Bruxa que puxa para a Morte em ‘O Sétimo Selo‘, o filme é todo calcado no visual do expressionismo alemão. Com clássicos como ‘Nosferatu‘ e ‘Metrópolis’, o movimento conta com cenários angulares, grandiosos e que mostram a pequenez do ser humano.
Frances McDormand leva potência e verdade para a personagem de Lady Macbeth (Crédito: Divulgação/Apple)
É uma estética que encaixa com perfeição dentro da ideia geral de ‘A Tragédia de Macbeth’. Mais do que falar sobre a história da loucura de um homem, o texto de William Shakespeare fala sobre angústias da existência humana. Macbeth está desesperado por poder e, principalmente, por saber sobre o que pode ser o futuro. É essa visão que o atormenta. A estética angular, com portais grandiosos e escadas monumentais, diminuem o personagem dentro daquele cenário. A tela, no formato mais quadrada, também vai “apertando” os personagens dentro daquela história que nada mais é do que um caldeirão em ebulição. Welles, Kurosawa e Polanski filmaram bem, mas Coen acertou a estética. Fica difícil, agora, pensar em novas adaptações de ‘Macbeth’. O expressionismo alemão, as atuações, a fotografia e o design de produção consolidam o filme como uma união quase perfeita entre teatro e cinema, em que as duas artes conversam e se entendem. Denzel, Frances, Coen e Delbonnel elevaram Shakespeare em pleno século XXI.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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