‘Anora’, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é filme quase perfeito que humaniza stripper ‘Anora’, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é filme quase perfeito que humaniza stripper

‘Anora’, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é filme quase perfeito que humaniza stripper

‘Anora’, filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024, é o mais acessível do diretor Sean Baker

Mariane Morisawa

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26 de maio de 2024 20:05

As pessoas que vivem à margem do sonho americano – frequentemente profissionais do sexo – são os personagens dos filmes de Sean Baker, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano com Anora.

Em Tangerine (2015), uma prostituta trans (Kitana Kiki Rodriguez) atravessa Los Angeles atrás do cafetão que a traiu. Em Projeto Flórida (2017), que rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante a Willem Dafoe, uma jovem mãe e sua filha de 6 anos (Bria Vinaite e Brooklynn Prince) vivem em um motel ao lado da Disney. Ambos oferecem a experiência de fazer uma jornada com aqueles personagens, sem se preocupar muito com história.

Anora confia muito mais em uma trama e, só por isso, já é mais convencional do que as obras mais famosas do cineasta norte-americano. Há traços de comentário social, pois Anora (a ótima Mikey Madison, da série Better Things) é uma profissional do sexo, mais precisamente uma stripper, vivendo em uma casa modesta em Nova York.

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Quando ela se envolve com o herdeiro de um oligarca russo (Mark Eydelshteyn), sua vida dá um giro de 180º. Anora é apresentada a um mundo a que nunca tinha acesso e obviamente fica encantada. Por sorte, Ivan também é engraçado, querido, embora um tanto irresponsável.

Anora
Anora acompanha o casal de uma stripper e o herdeiro de um oligarca russo (Crédito: Festival de Cannes / NEON)

O relacionamento dos dois progride rapidamente, e eles se casam. Os pais de Ivan entram no circuito, mandando primeiro seus capangas Toros (Karren Karagulian), Garnick (Vache Tovmasyan) e Igor (Yura Borisov, de Vagão Nº 6) para anular o casamento.

Mas os três não são muito competentes nem contavam com a resistência de Ani, como ela prefere ser chamada. O primeiro confronto rende uma cena hilária.

Durante todo o conflito, fica claro que o bem-estar de Anora não é levado em consideração. Ela é vista como ninguém, por ser pobre, mulher, stripper, e, sendo assim, não tem sentimentos nem direitos.

Anora e o filme mais acessível do Sean Baker

Sean Baker tem uma rara habilidade de mostrar essas personagens marginalizadas sem condescendência nem julgamentos, apenas como seres humanos. Anora é um filme praticamente perfeito, com personagens com quem você quer passar tempo, atuações fantásticas, especialmente de Mikey Madion e Yura Borisov, um roteiro no tom certo. O diretor sabe o que está fazendo.

Anora tem tudo para agradar ao público – as sessões em Cannes foram acontecimentos. É uma comédia delícia de assistir e, por isso, o longa mais palatável do diretor. Que ele tenha ganhado a Palma de Ouro com esse filme é surpreendente.

Confira nossa cobertura completa do Festival de Cannes 2024:

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Mariane Morisawa é jornalista formada pela Universidade de São Paulo. Já trabalhou na Folha de S. Paulo, IstoÉ Gente, Marie Claire e hoje é freelancer e colabora com veículos como O Estado de S. Paulo, Elle e outros. Morou oito anos em Los Angeles e cobre o Festival de Cannes desde 2008.