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Crítica: ‘Argylle’ ri do cinema de espionagem, mas exagera na piada

É natural que lá pela metade de Argylle: O Superespião, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 1, o espectador perca a noção do que estava acontecendo na tela. Não exatamente por alguma complexidade narrativa, mas mais por um pecado cometido pelo roteirista Jason Fuchs (Mulher-Maravilha, A Era do Gelo 4): há tantas reviravoltas no filme que você, como espectador, começa a se perder dentro do emaranhado de histórias.

E não, isso não é uma coisa boa. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis? O filme começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe de Elly (Bryce Dallas Howard), escritora de romances de espionagem que, da noite para o dia, se envolve em uma trama absurda em que suas histórias estão se revelando reais. Criatividade ou premonição?

Argylle: uma trama de reviravoltas

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É bastante divertida a entrada do espião Aidan (Sam Rockwell) na trama, criando uma quebra de expectativas que tínhamos do agente imaginado por Elly e vivido por Henry Cavill. A direção vigorosa de Matthew Vaughn, que repete seu estilo mais descolado visto em Kingsman e Kick-Ass, traz boas cenas de ação enquanto o humor se faz presente pelo elenco afiado. Tudo vai bem em um primeiro momento, tirando esse excesso de twists.
Henry Cavill e Dua Lipa, no início de Argylle, fazem o perfeito estereótipo do que são os espiões nos cinemas (Crédito: Universal Pictures)
Afinal, os personagens mudam de identidade exageradamente. Primeiramente, isso se revela como uma sacada divertida e que faz graça com histórias de John le Carré, brincando com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião – e, acima de tudo, sobre aquelas tramas de agentes com dupla identidade ou até tripla, como o filme Atômica. A piada é tão repetida que o filme não tem mais clareza do que está contando. Dessa forma, o elo do espectador com os personagens se torna frágil. As mudanças bruscas de vilão para mocinho ou de mocinha para vilã não deixam que qualquer um crie conexão com os acontecimentos da trama. Enfim, tudo se torna líquido: a história, os desejos do filme, nossa conexão com os personagens e os propósitos daquela trama. Se não fosse um bom elenco liderado por Rockwell e Bryce, o filme estaria totalmente perdido. Isso sem falar da falta de originalidade: a premissa do filme, sobre a escritora que vê suas criações vindo à vida, lembra demais a aventura Cidade Perdida, com Sandra Bullock. Afinal, o filme também é sobre uma escritora e os personagens que, de fato, existem.

Ainda assim, boas risadas

Mas, como dito, o elenco ajuda a salvar o trabalho de Fuchs – que já se mostrava o elo fraco dessa produção, com um currículo de filmes que não deram muito certo. Já Vaughn, depois de brincar com os formatos dos filmes de super-heróis em Kick-Ass e de rir dos filmes de espionagem ao estilo James Bond, volta a mostrar que o que realmente gosta de fazer é pegar essas histórias clássicas e transformar em aventuras estilosas.
Cavill, o agente secreto ideal e estereotipado de Argylle (Crédito: Universal Pictures)
Não há aqui o mesmo vigor de Kick-Ass ou as boas ideias do primeiro filme da franquia Kingsman, que depois apresentou um segundo filme bem abaixo da média. Parece uma reciclagem de coisas que deram certo na carreira do diretor, fazendo graça com subgêneros de filmes que já estão próximos de virarem realmente paródias de suas próprias intenções. Só que Argylle, mesmo com esses problemas, diverte por ser, acima de tudo, ingênuo – até nas atuações, que mais se aproximam de um universo lúdico de uma criança imaginando a vida de um agente especial. A simplicidade das cenas, e a forma como coisas complexas se resolvem, fazem do filme uma comédia genuína. Há ainda uma edição criativa, que trabalha para misturar Rockwell e Cavill em cena. Difícil isso pelo menos não tirar um bom sorriso. Assim, você pode sair do filme um tanto quanto frustrado por perceber que não há grandes momentos aqui. Pelo contrário: parece que há mais fragilidades do que pontos fortes, principalmente se tratando de um filme de Vaughn. O segredo, porém, é se deixar levar pelo absurdo de toda a situação e encontrar graça não apenas na paródia dos filmes de espionagem, mas também na forma que o cinema está se enxergando, colocando cada vez mais acontecimentos por minutos para evitar que o público dê aquela espiada no celular.

Argylle chega aos cinemas nesta quinta-feira, 1 de fevereiro. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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