Mercado de streaming

Com quarentena, streaming cresce e vive período de consolidação

Em tempos de cinemas vazios, bares sem público, parques fechados e distanciamento social, a audiência e a busca pelo streaming de vídeo chegou a dobrar. O Filmelier ouviu plataformas, agregadores, especialistas e serviços correlatos e pode cravar: o digital virou a arma dessa indústria durante a pandemia da covid-19 e tem tudo para finalmente se consolidar como o presente (e não apenas o futuro) do entretenimento.

Leia também: Plataformas digitais ganham força durante a crise dos cinemas

Dados do próprio Filmelier, que dá indicações de filmes para assistir em diferentes plataformas de vídeo, comprovam esse crescimento. Entre os dias 12 de março e 12 de maio, o número de acessos à plataforma saltou 160%, com incremento de 143% de usuários, em comparação com o período imediatamente anterior.

Além disso, entre os brasileiros que utiliza o Filmelier, o número de direcionamentos de usuários para os filmes nas plataformas digitais cresceu 184%. Enquanto isso, no México, o incremento foi ainda maior, com um salto de 372% no período.
‘Sonic: O Filme’ foi lançado no streaming durante a pandemia – e foi um dos longas mais populares no Filmelier no período (crédito: divulgação / Paramount Pictures)

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No JustWatch, serviço que também indica onde os filmes estão disponíveis para consumir online, o crescimento foi parecido. Apenas no Brasil, a plataforma viu o número de acessos saltar 88% desde o início da pandemia. Em outros países, como Espanha, Colômbia e Argentina, o crescimento passa de 150%. “O video on demand lucra muito com a crise”, afirma Leonard Brahm, líder de SEO do JustWatch. “Nós acreditamos que o desenvolvimento atual acelerará a mudança em andamento da TV linear para o streaming, já que muitas pessoas estão explorando serviços de streaming pela primeira vez”.

Impacto nas plataformas

Essas buscas por filmes, é claro, também estão se traduzindo nos números das plataformas. Globalmente, a Netflix ganhou quase 16 milhões de usuários durante o primeiro trimestre do ano. Um recorde. Afinal, para efeito de comparação, a expectativa da Netflix no período era de 7 milhões. Além disso, o serviço de streaming também bateu recordes de audiência. O filme ‘Resgate’ foi visto 90 milhões de vezes. ‘Troco em Dobro’, 85 milhões.
‘Resgate’, com Chris Hemsworth, é recorde de audiência (Crédito: Divulgação / Netflix)
Pensando em número de acessos, os números também impressionam. De acordo com dados coletados pelo JustWatch, a Netflix viu um incremento de 332% globalmente em sua audiência. Já o Disney+, presente nos EUA e algumas partes da Europa, cresceu 290%. Por fim, o Amazon Prime Video saltou 266%. E esse crescimento não foi visto apenas em plataformas de assinatura. No NOW, serviço de compra e aluguel de filmes da Claro-NET, a audiência teve um crescimento de 36% desde 12 de março. Além disso, cada cliente do NOW agora consome cerca de 114 minutos por dia. Uma evolução de 61%. O Telecine, que conta com uma plataforma de streaming com 2 mil filmes, não revela números exatos. Mas, ao Filmelier, disse que observaram um aumento na “base de usuários, no tempo médio de audiência na plataforma e nas interações pelas redes sociais” ao longo do período de quarentena. “O distanciamento social e o isolamento voluntário impulsionaram de forma vertiginosa o crescimento do consumo de conteúdos em streaming no país”, contextualiza Flavia Hecksher, diretora de marketing e negócios do Telecine. “Esses são números que traduzem uma nova tendência”.

Como o streaming impacta o mercado?

Neste momento de imprevisibilidade, especialistas do mercado veem esse crescimento de diferentes maneiras. No entanto, uma coisa é consenso entre eles: independente de como o mundo estará após o fim da pandemia causada pelo novo coronavírus, o setor audiovisual estará transformado.
O maior número de pessoas em casa também turbinou o crescimento da Netflix no período (crédito: divulgação / Netflix)
Omarson Costa, executivo do setor com passagens por Netflix e Roku, é radical. Segundo ele, este futuro momento vai trazer um novo tipo de comportamento com um consumidor mais “caseiro”, que irá encontrar no video on demand um espaço para explorar todos os tipos de filmes e séries. Para ele, o streaming pode matar toda a cadeia de distribuição. Sejam os já moribundos DVDs, os canais a cabo e, acima de tudo, o cinema de cimento e tijolo. “Quando as pessoas sentem o sabor da liberdade do streaming, não querem mais voltar pra grade. Seja do cinema, da TV, do que for”, afirma o especialista. “O cinema, daqui pra frente, vai ser igual o jornal de papel. Vai ser coisa de geração.”

“Quando essa
geração morrer,
morre junto o cinema.”

Fabio Lima, diretor executivo da Sofa Digital, agregadora de conteúdo em video on demand que faz parte do mesmo grupo do Filmelier, não vê um futuro catastrófico para as salas escuras. Mas acredita, assim como Omarson, em uma consolidação maior do cinema entre vários públicos. “São dois públicos neste momento. Temos o que ia no cinema e que agora topa pagar por filmes. E temos aqueles que, agora, fazem assinaturas”, disse o executivo. “É uma mudança na dinâmica. Muda a relação de forças. O cinema vai ter que aprender a participar deste novo momento do setor.”
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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