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Em ‘Batem à Porta’, M. Night Shyamalan reflete sobre fé e fim do mundo

O cineasta M. Night Shyamalan é uma pessoa que gosta de tecer comentários. Na primeira década dos anos 2000, por exemplo, ele não deixou de falar sobre o medo do desconhecido (‘Sinais‘, ‘O Sexto Sentido’,), sobre o receio com um possível apocalipse (‘Fim dos Tempos’) e até sobre a crença em alguma criatura exterior para ajudar no rumo da humanidade (‘A Dama da Água’). Agora, desde que a pandemia do coronavírus se tornou uma realidade, Shyamalan se fechou e começou a pensar em temas como envelhecimento (‘Tempo‘) e, agora, fé e fim do mundo em ‘Batem à Porta‘.

Filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 2 de fevereiro, o longa-metragem é baseado em um livro de 2018, de Paul Tremblay, e que chegou ao Brasil com o título de ‘O Chalé no Fim do Mundo’. Apesar da publicação da história cinco anos atrás, ela não poderia ser mais atual: fala sobre uma família, formada pelos pais Andrew (Ben Aldridge) e Eric (Jonathan Groff) e a filha Wen (Kristen Cui), que estão passando uns dias de férias em um chalé afastado. Toda a tranquilidade some, porém, quando um grupo de estranhos, liderado por Leonard (Dave Bautista), aparece por ali.
Dave Bautista é Leonard, um dos personagens que invadem a cabana dos protagonistas (Crédito: Universal Pictures)

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Esse grupo diz que estão ali com um objetivo nobre: impedir o apocalipse. Para isso, porém, a família ali no chalé precisa participar de uma decisão: sacrificar um deles pela sobrevivência do mundo ou assistir ao apocalipse completo. A cada recusa em escolher um dos seus para morrer, porém, sangue é derramado: um dos quatro integrantes dessa espécie de seita é morto, na frente de todo mundo, e uma praga é liberada no mundo. É aí que a coisa fica interessante, com os dois homens tentando compreender o que está acontecendo. É tudo balela? Ou é para valer?

Qual o significado de ‘Batem à Porta’?

Gravado quase que inteiramente em um único cenário (o chalé, no caso), o filme é uma história de catástrofe do fim do mundo minimalista. Esqueça, por alguns instantes, o caos histriônico de Roland Emmerich (‘Independence Day’ e ‘2012’), por exemplo. A história aqui contada, assim como aconteceu no mundo todo durante a pandemia do novo coronavírus, acontece em um ambiente fechado, único, enclausurado. Os personagens sabem do final do mundo (ou seria um hipotético apocalipse?) pela televisão, pela janela de casa. Ele nunca chega perto como uma ameaça. É, assim, um retrato bem diferente do que estamos acostumados sobre o que é o final do mundo, da vida, da humanidade. Shyamalan, nesse retrato, se retrai, se encolhe e, assim, leva o medo do fim de uma forma bem distinta.
Mas, mais do que ser um filme sobre fim do mundo, ‘Batem à Porta’ consegue trazer o que há de melhor no livro de Paul Tremblay: uma reflexão metafísica sobre fé, existência e sociedade. Shyamalan pinça essa história, assim como pinçou os quadrinhos de ‘Tempo’, como uma forma de comentar sobre o que nossa sociedade se tornou. Uns contra os outros, sem acreditar exatamente no que os outros dizem — tampouco em algo que nos mova. É uma provocação de Shyamalan, que nos leva a pensar sobre nossa existência e, quem sabe, o significado de estarmos aqui, vivos.

É um bom filme?

Ainda que tenha boas reflexões, vale ressaltar que ‘Batem à Porta’ tem lá seus problemas de execução. Ainda que Shyamalan consiga produzir tensão com minimalismo, algo dificílimo, há algumas coisas que escapam. Muitos momentos simplesmente apostam em uma repetição de ideias (o primeiro sacrifício, por exemplo, é impactante, mas logo se torna redundante) e o final, como já é de praxe nos filmes do cineasta, vai provocar emoção — alguns vão adorar, outros vão detestar. Dificilmente alguém vai ficar no meio do caminho, sem tomar um verdadeiro partido. É, enfim, Shyamalan. Um cineasta que, mesmo usando um material de terceiros como base, continua com a sua saga de provocar, instigar, deixar todo mundo fora da zona de conforto. E, goste ou não, continua sendo feliz na missão. Em termos de atuação, quase todos estão bem, com destaque para Bautista (‘Guardiões da Galáxia‘), Jonathan Groff (‘Hamilton’), Ben Aldridge (‘Our Girl’) e a pequena Kristen Cui. Todos ajudam a criar o clima de tensão e, assim, deixar tudo ainda mais provocativo e ousado. Dá para se divertir e, de quebra, ainda se sentir conectado com personagens.
Kristen Cui é uma das surpresas positivas do longa-metragem (Crédito: Universal Pictures)
Enfim: ‘Batem à Porta’ é mais um filme polêmico de M. Night Shyamalan. Ao longo das próximas semanas, talvez meses, o longa-metragem vai ser discutido, debatido. Alguns vão amar, outros vão detestar. O fato é que o cineasta está, de novo, trazendo discussões relevantes sobre cinema e, agora, até mesmo levantando questões existenciais. É, assim, um filme com seus defeitos, mas, mesmo minimalista, atinge pontos que nem filmes-catástrofes que gastam milhões consegue atingir. E Shyamalan segue, com críticas e elogios, fazendo o que sabe fazer de melhor: provocar.

‘Batem à Porta’ chega aos cinemas nesta quinta-feira, 2 de fevereiro. Para comprar ingressos, clique aqui.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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