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Crítica de ‘Meninas Malvadas’ (o musical): não tão “fetch”

Sempre que surge no horizonte um novo remake de um clássico, a pergunta inevitável é: qual é o ponto? Isso leva, por necessidade, a uma segunda pergunta: o que motiva o remake em questão e o que ele traz de novo? Ambas são questões para Meninas Malvadas (Mean Girls), em sua adaptação musical, que chega aos cinemas brasileiros em 11 de janeiro de 2024.

A resposta óbvia poderia ser: o novo é que é um musical! (Duh!). É, no aparentemente eterno ciclo de reciclagem de nossa cultura pop, uma adaptação do musical da Broadway, por sua vez uma adaptação do filme de comédia de 2004 estrelado por Lindsay Lohan e Rachel McAdams… por sua vez inspirado no livro Queen Bees and Wannabes.

Mas vale a pena analisar se, sob a nova camada de tinta com canto, dança e luzes, o musical cinematográfico de Meninas Malvadas justifica sua existência como produto audiovisual, para sair da sombra da qual, por si só, se estabeleceu como um clássico da comédia americana e sátira da juventude de sua época.

You go, Glen Coco!

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Vamos começar observando que, em termos de trama, o musical de Meninas Malvadas não oferece praticamente nada de novo. Aqueles que viram o filme original encontrarão tudo aqui, desde o Burn Book até o ônibus. Todos os personagens estão aqui, apenas com rostos novos. Para aqueles que não conhecem o clássico, aqui vai um lembrete: a história começa quando Cady Heron (Angourie Rice) se muda para os Estados Unidos para estudar o ensino médio, após uma vida sendo criada e educada por sua mãe (Lena Fischer) na África. Na escola, ela faz amizade com os desajustados Janis (Auliʻi Cravalho, de Moana) e Damian (Jaquel Spivey).
Reneé Rapp é, de longe, o ponto alto desta versão de Meninas Malvadas (Crédito: Paramount Pictures)
Por acaso, ela desperta o interesse das “rainhas da escola”, as infames “Plásticas”: Gretchen Wieners (Bebe Wood), Karen Shetty (Avantika) e sua líder odiosa, Regina George (Reneé Rapp). Com a ajuda de Cady como infiltrada no grupo, Janis e Damian planejam fazer as Plásticas sofrerem por tudo que fizeram a eles e a outros meninos. No entanto, as coisas se complicam quando Cady se envolve cada vez mais com o grupo e se apaixona por Aaron (Christopher Briney), o ex de Regina. Mesmo sem conhecer a trama original, Meninas Malvadas pode ser um pouco previsível, embora, assim como sua antecessora, ela se destaque pelo humor que abraça o absurdo, a estupidez e a loucura. Uma arma de dois gumes sobre a qual falaremos mais adiante. No entanto, essa versão apresenta uma nova camada de tinta. Os resultados são mistos. Quando as coisas dão certo, sua espetacularidade é indiscutível. Rapp como Regina George é SENSACIONAL (sim, em maiúsculas), e cada número musical que ela protagoniza é hipnotizante e emocionante (Rapp foi suplente na produção da Broadway, e dá para entender por quê). No entanto, nem todos os números musicais têm a mesma qualidade. Enquanto Someone Gets Hurt é cativante e engenhoso, por exemplo, outros como Revenge Party parecem ser retirados de qualquer episódio de Glee, com decisões estilísticas questionáveis. Essa irregularidade se estende também (infelizmente) ao elenco, onde há certas lacunas de carisma e potência vocal. Embora tenha demonstrado talento cênico, Angourie Rice é, evidentemente, a menos talentosa no grupo. Ela é a protagonista e, no entanto, protagoniza menos sequências musicais em comparação com outros personagens, ficando ofuscada imediatamente por Rapp e Cravalho (mesmo que esta última tenha alguns dos números menos vistosos e mais supérfluos do conjunto). Mas, quando acerta, Meninas Malvadas realmente faz brilhar sua nova cara. Risadas garantidas – talvez um pouco diluídas pela inevitável sensação de déjà vu –, e os fãs mais ardentes do original vão se deliciar em reviver essa história.

Meninas Malvadas é, afinal, plástico

No entanto, aí reside a contradição deste remake. É um presente para os fãs que cresceram assistindo à versão com Lohan e McAdams? Ou é uma atualização da história para uma nova geração? Ao ser praticamente uma cópia narrativa do filme original, Meninas Malvadas acaba sendo redundante em ambas as possibilidades. Tomada em seu sentido mais banal, a versão de 2004 transcendeu sua condição de cápsula do tempo e se consolidou como um clássico, graças às suas piadas e frases icônicas. E a imensa maioria, desde Glen Coco até 3 de outubro, passando pela vestimenta obrigatória das quartas-feiras, tudo se replica aqui, quase sem mudanças.
Pouca novidade, muito déjà vu nessas Meninas Malvadas (Crédito: Paramount Pictures)
No entanto, vale a pena lembrar que a primeira versão foi escrita como um comentário satírico sobre os comportamentos agressivos entre os adolescentes americanos de sua época, baseado no livro de não ficção Queen Bees and Wannabes. Duas décadas se passaram desde o filme, e se a trama é a mesma, caberia supor que não muito mudou nas escolas do país norte-americano. As modificações em Meninas Malvadas são estéticas: a linguagem de TikTok é implementada de maneira orgânica mas superficial nos enquadramentos, assim como hashtags são inseridos em algumas piadas. Mais do que ser um meio de economia narrativa, as formas como as redes sociais exacerbam o bullying não têm um impacto tangível ou realista neste mundo. Embora inegavelmente divertido, o remake musical acaba por se sentir como um produto preso desconfortavelmente entre dois tempos. O que era um comentário divertido, que justificou sua permanência como um clássico ainda vigente, se torna pouco mais que uma redundância nostálgica. Frio, brilhante e rígido plástico. Publicado primeiramente na versão mexicana do Filmelier News.

O musical de Meninas Malvadas chega aos cinemas brasileiros neste 11 de janeiro.

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Lalo Ortega

Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.

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Lalo Ortega

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