‘Terrifier 2’ abraça o slasher de vez em filme que não economiza na violência
‘Terrifier‘, filme de terror de baixo orçamento lançado em 2016, nunca se assume como slasher. Ainda que tenha certas referências de ‘Halloween’, o longa-metragem é mais uma exibição em longa-metragem desse palhaço assassino que já era, há alguns anos, trabalhado pelo diretor Damien Leone em curtas. É uma sucessão de mortes, todas elas violentas e bem gráficas, sem um contraponto ao bizarro Art the Clown. Mas, tudo muda agora com ‘Terrifier 2‘.
Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 29, o longa-metragem mostra Leone buscando se provar como realizador. Tudo aqui é maior: o tempo de duração (que salta de 1h26 para 2h18), a violência empregada nas mortes, a força psicopata do palhaço, a quantidade de mortes. É uma sina que muitos realizadores de primeira viagem acabam derrapando quando fazem uma sequência inesperada de um filme de terror. Não buscam melhorar a história, mas engrandecê-la.
Com isso, muito da essência simples e funcional de ‘Terrifier’ se perde neste segundo capítulo. Os sucessivos assassinatos de Art the Clown chocam no início, mas logo se tornam tão corriqueiros que não impressionam tanto assim — a morte de uma garota ali na metade, com o palhaço jogando até mesmo sal em cortes imensos, é a que mais causa desconforto. Depois disso, a barra está tão alta que algumas ações do vilão chegam a passar batidas.
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Afinal, é natural que o espectador vá criando uma “casca”. Algo pode te chocar uma primeira vez. Mas conforme você vai fazendo isso repetidas vezes, o chocante se torna rotineiro. No final do filme, ver mortes não causa sequer emoção. Além disso, mesmo em tempos de filmes com mais de três horas, como ‘Avatar: O Caminho da Água’, essas 2h18 de ‘Terrifier 2’ são excessivas. Não há muito a ser contado com a trajetória de Art the Clown, que sai matando por aí durante a noite de Halloween até encontrar Sienna (Lauren LaVera), uma jovem que fará de tudo para se defender e proteger sua família dessa ameaça sobrenatural. Sem dúvida alguma, 1h30 de filme resolveria bem a história.
Ainda assim, ‘Terrifier 2’ consegue segurar a atenção
Apesar desses dois erros fundamentais, ‘Terrifier 2’ não é daqueles filmes que perdem nossa atenção com menos de meia hora de projeção. O longa-metragem segura a audiência. Como? Simples: enquanto o outro filme apenas mostra Art the Clown andando de lá pra cá, matando pessoas das formas mais absurdas e inacreditáveis possíveis, a sequência traça objetivos, dilemas e desafios para o palhaço assassino. Ele quer matar alguém, mas não consegue facilmente.
Essa pessoa é, justamente, Sienna. Ela é, incontestavelmente, a alma do filme. Ainda que possa não ser tão querida, estranhamente, como Art the Clown, a nova protagonista cria o contraponto necessário para fazer com que a trama ande. Os personagens se enfrentam, mesmo que não fisicamente, colocando a história pra frente. Você fica empolgado em saber que há, enfim, alguém a altura de Art. É o mesmo acerto de Laurie (Jamie Lee Curtis) e Michael Myers. É, em essência, uma mistura divertida, violenta e inusitada de ‘It: A Coisa’, ‘Halloween’ e ‘Jogos Mortais’. Com elementos de cada um deles, encontramos um longa-metragem que agradar vários públicos do cinema de horror. Fora, é claro, o show à parte de David Howard Thornton. O ator, que interpreta Art the Clown, apresenta maneirismos em sua atuação que deixam tudo ainda mais macabro. Os sorrisos estáticos, os gestos típicos de palhaços. Tudo isso é parte da composição do ator, que sabe interpretar um vilão de slasher fora do comum, bem diferente do que estamos acostumados, e que dá medo — curiosamente, principalmente quando não há cenas de violência extrema no filme. Não dá pra saber, é claro, se a franquia terá fôlego de verdade para mais um filme, como o diretor já confirmou. Fica a torcida para que o cineasta saiba manter a bizarrice ao redor de Art enquanto explora ainda mais o mundo do slasher. Com isso, e os bons resultados de bilheteria de ‘Terrifier 2’, Art the Clown vai aos poucos entrando em um curioso panteão dessas assombrações que dão medo apenas com a sugestão de sua imagem e sem qualquer palavra dita.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.