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‘O Esquadrão Suicida’ marca a (r)evolução das super-heroínas no cinema

Amanhã, 5, a sequência de ‘Esquadrão Suicida‘, agora sob o comando de James Gunn, chega aos cinemas brasileiros. O filme, quase homônimo ao de 2016 e intitulado ‘O Esquadrão Suicida‘, marca o retorno de parte dos “vilões” que conhecemos na produção anterior, dirigida por David Ayer, mas dá um tom completamente novo à história.

Com todo respeito ao Ayer, é válido dizer que tudo que não funcionou no longa anterior dá muitíssimo certo neste novo. No entanto, o ponto não é nem esse, mas sim como a Warner Bros. e a DC Films têm dando espaço para ótimas personagens femininas nos filmes baseados nas HQs da DC Comics – ou melhor, para a evolução delas.

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‘O Esquadrão Suicida’ estreia na quinta-feira, dia 5, nos cinemas (Crédito: divulgação/Warner Bros.)
Qualquer mulher que cresceu nos anos 1990 e 2000, com o boom de produções de super-heróis, sem dúvida sentia falta de representações cinematográficas com protagonismo feminino. Aproveitando a deixa: eu, Raíssa, sempre quis um filme da Batgirl e uma das minhas adaptações favoritas da infância era ‘Batman & Robin‘ pela simples presença da personagem, interpretada por Alicia Silverstone.

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Até hoje não realizei meu desejo de ver um longa solo da heroína, mas isso há de mudar, afinal já confirmaram que vai acontecer. Voltando ao foco, que é ‘O Esquadrão Suicida’: a narrativa resgata todo o sucesso que a Arlequina (Harley Quinn, em inglês) de Margot Robbie trouxe para o filme de 2016 e reforçou em ‘Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa’, dirigido por Cathy Yan (‘Dead Pigs’). Ela é uma das melhores personagens dessa leva da DC e o que faz a equipe de anti-heróis na visão de David Ayer se tornar minimamente divertida. No entanto, a representação dela era completamente machista na primeira versão, com roupas apertadas – e diferentes da versão dos HQs – e extremamente dependente do Coringa caricato de Jared Leto. Em ‘Aves de Rapina’ a Arlequina já ganhou outro tratamento, com o mesmo charme de Margot Robbie. O figurino mudou, os anseios e motivações também. Ela se torna uma líder incrível tentando superar o ex-namorado e, com isso, ganha uma gangue de mulheres – Canário Negro, Caçadora, Renee Montoya e Cassandra Cain (elas são bem conhecidas no universo dos gibis e de quem acompanhava a série ‘Birds of Prey’).
Margot Robbie em ‘Esquadrão Suicida’, versão de David Ayer (Crédito: divulgação/Warner Bros.)
‘O Esquadrão Suicida’ não é um filme sobre empoderamento feminino, é bom que se diga isso, mas consegue desempenhar um ótimo arco em cima disso. A produção, escrita e dirigida por James Gunn (de ‘Guardiões da Galáxia’), é claramente uma história que não se leva a sério e a ideia é que você entre no jogo. Se quer assistir a um longa de herói com seriedade, é melhor procurar a trilogia do Batman do Christopher Nolan. Por incrível que pareça, Gunn consegue fazer piadinhas de baixo calão com órgãos reprodutores e ainda entregar momentos de bom tom sobre representatividade feminina. Arlequina volta a falar de relacionamentos tóxicos, e que, se um homem der indícios de que não presta, merece o pior – claro que a narrativa leva isso ao extremo, com algo que a gente pensou que veria em ‘Bela Vingaça’. Por mais que seja tudo dominado pelo humor ácido, não deixa de ser uma crítica real à sociedade machista em que vivemos. Isso é um acerto, pois muitas vezes é na base da comédia que paramos para refletir sobre certas situações. Entretanto, há uma certa dose razão para quem considere tudo isso deselegante, intenso demais ou apenas bobo e de mau gosto. Ainda falando da Arlequina, ela faz questão de frisar de que não é uma donzela em perigo e talvez por isso, seja a heroína que a gente precisa. Levando em consideração outras adaptações de HQs com mulheres, ‘Mulher-Maravilha’ e o recente lançamento da Marvel, ‘Viúva Negra’, ainda vemos personagens incríveis que precisam de uma motivação, que seja amorosa ou familiar, diferente da personagem de Margot Robbie.
Rosie Perez, Mary Elizabeth Winstead, Margot Robbie, Ella Jay Basco e Jurnee Smollett-Bell em ‘Aves de Rapina’ (Crédito: divulgação/Warner Bros.)
No fundo, a vilã quer ser amada, querida e ter amigos, mas sabe que não precisa de nada disso e se garante, muito, bem sozinha. É o mais sonoro e sincero: “antes só do que mal-acompanhada”. Arlequina pode ter 99 problemas, mas homem não é um deles. Além dela, ‘O Esquadrão Suicida’ tem também Alice Braga como Sol Soria, uma líder revolucionária; Daniela Melchior como Cleo Cazo (a.k.a Caça-Ratos 2); o retorno de Viola Davis como a imponente Amanda Waller; e outras personagens femininas secundárias que enriquecem a história. Cleo Cazo é um dos pontos mais sensíveis do filme: ela traz o lado familiar, emocional e moral para a narrativa – dando um ar um pouco mais humanizado para uma gangue de vilões que cruza uma linha tênue com heróis. Já Amanda Waller consegue mostrar que tirania não é o caminho. Viola Davis está brilhante, como sempre, interpretando a emblemática figura política do Universo DC, relembrando o porquê o governo é tão odiado pelo Esquadrão Suicida. Além disso, existe um arco grandioso que consegue trazer certa união feminina sem soar pedante. Sabemos que isso tudo é um reflexo da geração #MeToo, que abriu as portas para que o cinema fosse um pouquinho mais diverso – falando aqui especificamente de pautas ligadas às mulheres, sabemos que ainda há um percurso longo quando o foco é diversidade como um todo.
Florence Pugh e Scarlett Johansson em ‘Viúva-Negra’ (Crédito: divulgação/Disney)
É justo dizer que a DC Films conseguiu crescer além da Marvel Studios neste quesito. Não que seja uma competição, mas é uma crítica necessária. É que realmente demorou para ver personagens feminina – que tem muito potencial – conquistarem o merecido espaço no universo dos Vingadores. A Viúva Negra foi pavimentando seu terreno no MCU, mas demorou muito para a personagem para ganhar seu filme solo e esse é um dos deméritos da produção. Por outro lado, ‘Capitã Marvel’ e a série ‘WandaVision’ foram tremendos acertos, ainda que tardios. No passado, tivemos também uma pincelada do heroísmo das mulheres com a adaptação de ‘Elektra’, com Jennifer Garner – mas isso em outro estúdio, a Fox. Com ‘Supergirl‘ (1984), ‘Mulher-Gato’ (2004) – que definitivamente não é o melhor exemplo, mas vamos citar, sim, pois não deixa de ser um tipo de representação – ‘Mulher-Maravilha’, ‘Aves de Rapina’, ‘Mulher-Maravilha 1984‘ e com os futuros títulos ‘Batgirl’ e ‘Zatanna‘, a Warner Bros e a DC Films estão bem empenhadas em trazer para o cinema o girl power das heroínas e vilãs dos quadrinhos. ‘O Esquadrão Suicida’ aos cinemas brasileiros nesta quinta, 5 de agosto. Veja mais informações do filme clicando aqui.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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