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O romance substitui o suspense em ‘Rebecca: A Mulher Inesquecível’, novo filme da Netflix

Nesta quarta-feira, 21, ‘Rebecca: A Mulher Inesquecível‘ chegou ao catálogo da Netflix.

O filme tem como base o livro ‘Rebecca’ da britânica Daphne Du Maurier, que também serviu de base para o clássico suspense de Alfred Hitchcock, lançado em 1940.

Ainda que a nova produção não seja um remake do longa do Mestre do Suspense, chega a ser irresistível a comparação entre as duas adaptações – e entender como diferentes abordagens e épocas podem, sim, mudar profundamente como uma história é contada.

Saiba tudo sobre o novo ‘Rebecca’, assista ao trailer e veja como assistir ao filme online.

Afinal, a adaptação de 1940 foi indicada a 11 Oscars, ganhando duas estatuetas — Melhor Filme e Melhor Fotografia em Preto e Branco. Não é fácil ter o legado de Hitchcock nas costas.

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Entre as duas versões, história base é a mesma: uma jovem recém-casada que se muda para a mansão de seu marido, onde ele vive assombrada pela memória da falecida esposa, Rebecca. Mesmo após a morte, o legado dela permanece. A nova produção é dirigida por Ben Wheatley e estrelada por Armie Hammer, Lily James e Kristin Scott Thomas.
Rebecca’ chegou à Netflix nesta quarta-feira (Foto: divulgação/Netflix)
‘Rebecca: A Mulher Inesquecível’, o da Netflix, é uma produção completa – com uma belíssima cinematografia, figurino e maquiagem. O filme foi vendido como suspense, assim como a obra literária, mas acaba funcionando como um drama romântico, bem diferente da versão de Hitchcock.

‘Rebecca’ de Alfred Hitchcock

A obra de Daphne du Maurier teve outras adaptações, séries, especiais na TV e programas de rádio. No entanto, a versão que ficou consagrada foi mesmo a do Mestre do Suspense. O elenco é impecável, formado por Joan Fontaine, Laurence Olivier e Judith Anderson. Todos foram indicados ao Oscar por suas atuações no longa. Joan Fontaine, que era pouco conhecida na época, disputou o papel da segunda Sra. De Winter contra mais de 20 atrizes, incluindo Vivien Leigh, Anne Baxter, Margaret Sullavan e outras estrelas de Hollywood. A escolha final da protagonista acabou gerando um desconforto em Leigh, que era namorada de Laurence Olivier na época. Dizem que Olivier não tratava bem Fontaine nos bastidores e, por isso, a sua atuação de deslocada no filme seria tão crível. ‘Rebecca: A Mulher Inesquecível’ foi o primeiro longa que Hitchcock dirigiu nos Estados Unidos e isso faz que não tenha sua assinatura característica, como em produções posteriores. O filme tem o dedo do produtor David O. Selznick, que também foi responsável por ‘…E O Vento Levou‘. O próprio diretor assume isso em uma entrevista que deu a François Truffaut e registrada no livro ‘Hitchcock/Truffaut: Entrevistas’.
A versão de Hitchcock de ‘Rebecca: A Mulher Inesquecível’ foi indicada a onze prêmios no Oscar (Foto: divulgação/MGM)
“Não é um filme de Hitchcock. É uma espécie de conto, e a própria história data do século XIX. Era uma história bem velhinha, bem fora de moda. Naquela época havia muitas escritoras: não tenho nada contra, mas ‘Rebecca’ é uma história sem humor”, contou ele ao cineasta francês. Apesar da produção ser norte-americana, ele pontua: “É um filme britânico, totalmente britânico; a história é inglesa, os atores também, e o diretor idem”. Apesar disso, a produção carrega todo o suspense que fez com que o diretor se tornasse referência no gênero. ‘Rebecca’ chega a ser duro de assistir, pois causa um desconforto, especialmente com a atuação de Judith Anderson como a governante Sra Danvers. É um thriller psicológico dos bons e extremamente bem executado, uma excelente produção gótica. É relevante ressaltar que Laurence Olivier e Joan Fontaine se tornaram grandes nomes do cinema na Era de Ouro de Hollywood. Na época de ‘Rebecca’, Olivier tinha já estrelado 15 produções. Fontaine também tinha bastante tempo de tela, mas esse foi seu primeiro papel principal. A atriz trabalharia novamente com Hitchcock em ‘Suspeita’, de 1941.

‘Rebecca’ de Ben Wheatley

Se a versão de Alfred Hitchcock é dura de assistir, a do diretor Ben Wheatley é bem mais fácil, pois todo o suspense se transformou em um romance – ainda que Armie Hammer tenha esgotado todo o seu charme em ‘Me Chame Pelo Seu Nome‘, pois deixou a desejar como Sr. De Winter. Laurence Olivier é muito mais atraente como o desejado viúvo. O mesmo não acontece com Lily James. No começo do filme, a torcida para que ela conquiste De Winter é grande. James é carismática e sempre envolve o espectador em seus filmes, e conseguiu transmitir todo seu sofrimento para a interpretação de Sra. De Winter. Em alguns momentos, seu charme transborda na tela – ainda que, em outros, acaba se perdendo. Ela está convincente no papel.
Kristin Scott Thomas tem a melhor atuação na nova versão do clássico (Foto: divulgação/Netflix)
No entanto, quem rouba a cena é Kristin Scott Thomas, que surge como Sra. Danvers. Ela inovou no papel da governanta, trouxe um frescor à personagem e dá gosto vê-la na tela. Thomas consegue causar uma sensação de raiva e melancolia com sua atuação. É possível ver a atriz se encaixando perfeitamente na versão de Hitchcock. Ben Wheatley trouxe uma adaptação consistente de ‘Rebecca’. Ainda que o maior problema seja a falta de mistério, o filme funciona bem como um drama de época – especialmente para quem não conhece a história. É válido comparar que assim como Hitchcock era novo em Hollywood, o mesmo acontece com Wheatley, que dirigiu poucos filmes e teve uma dura tarefa de adaptar um clássico com um grande legado. Não vamos estregar o filme revelando o que acontece na trama, mas é interessante pontuar que o final do ‘Rebecca’ da Netflix é mais esperançoso e romântico do que a versão de 1940, que deixa os acontecimentos a mercê da interpretação do espectador. Esse é mais um dos grandes diferenciais entre as duas adaptações – além, claro, do fato de substituir todo o clima de suspense por um melodrama romântico, o que acaba mudando completamente a história.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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