Mercado de streaming

Star+ vale a pena? Forte nos esportes, streaming não empolga nos filmes e séries

Todas as cartas, agora, estão na mesa. O Star+, lançado na última terça (31), era a última grande plataforma de streaming por assinatura aguardada na América Latina – ao menos em um futuro próximo. O serviço chegou para complementar a estratégia da gigante Disney no mercado direto ao consumidor. Agora, será que o novo serviço vale a assinatura?

A resposta depende do seu perfil.

Para começar, é preciso entender primeiro o que é o Star+ – dúvida que está sendo bastante comum fora da bolha daqueles mais ligados em entretenimento e tecnologia.

O Star+ é o segundo serviço de streaming da Disney disponível no Brasil (Crédito: reprodução / Disney)
Existente apenas na América Latina, o novo serviço de streaming surgiu para preencher a lacuna deixada pelo Disney+ – a “irmã mais velha”, com um perfil com conteúdos voltados para toda a família (ou seja, nada com classificação indicativa de 16 anos ou mais).

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Porém, a Disney tem, sim, muito conteúdo para quem tem mais de 16 – incluindo produções da finada Touchstone Pictures, como ‘Uma Linda Mulher’, o catálogo do canal aberto americano ABC (incluindo ‘Lost’), e, claro, tudo que veio da aquisição da 20th Century Fox, há alguns anos – como ‘Os Simpsons’, ‘Family Guy’, ‘Modern Family’, ‘Deadpool’ e muito mais. Tudo isso, junto com o conteúdo de transmissões esportivas que sozinho renderia um ESPN+ (que existe nos EUA, diga-se), a Casa do Mickey criou o Star+ – que custa R$ 32,90 ao mês, um pouco mais caro que o Disney+.

Amigo fã de esportes

É justamente o conteúdo da ESPN (e da Fox Sports) que se sobressai no Star+. São dezenas de transmissões diárias ao vivo de tênis, golfe, futebol americano (incluindo a NFL), ciclismo, automobilismo, basquete (da NBA), motociclismo, boxe e, claro, futebol de ligas da Inglaterra, Espanha, Itália, Argentina, Portugal, França e EUA, além da Copa Libertadores e da Liga Europa. É um pacote robusto, que está incluindo transmissões exclusivas do video on demand, que não vão para os sinais dos canais pagos lineares.
Algumas das categorias esportivas presentes no Star+ em imagem de divulgação (Crédito: divulgação / Disney)
Além disso, há a força da ESPN em seus programas de estúdio (como o famoso ‘SportsCenter’) e de produções documentais como a premiadíssima série ’30 for 30′ – há até um capítulo sobre Bruce Lee, a lenda do kung-fu e do cinema, que vale assistir. Isso tudo é um deleite para o “amigo fã de esportes”, como os apresentadores da ESPN chamam os seus espectadores. Não há, no Brasil e na América Latina, uma outra plataforma com uma diversidade tão grande de conteúdo do gênero. Nem o HBO Max, que também abraçou esse lado, ou o DAZN, serviço exclusivo para esportes. Os maiores concorrentes são, mesmo, os canais lineares – principalmente o SporTV, que ainda tem uma tímida participação no streaming, apenas como um dos “canais ao vivo” junto do Globoplay (que custam R$ 49,90 no plano mensal).

Ok, filmes e séries? Como ficam?

Filmes e séries deveriam formar as outras duas partes do tripé que mantém o Star+ como um serviço de streaming competitivo frente aos rivais. Conteúdo esse que, como dito, provém em grande parte da aquisição de um dos grandes expoentes da Era de Ouro de Hollywood, a 20th Century Fox – hoje chamada apenas 20th Century Studios. Trata-se de um estúdio centenário (a Fox Film original começou em 1915), que nos brindou com clássicos (do passado ou mais recentes) como ‘Cleopatra’, ‘Esqueceram de Mim’, ‘Avatar’, ‘O Náufrago’, ‘Uma Babá Quase Perfeita’, ‘A Vida de Pi’ e ‘Titanic’, além das franquias ‘Alien’, ‘Predador’, ‘O Planeta dos Macacos’, ‘X-Men’ e tantas outras. Na TV, a 20th Century Fox Television tem muita tradição – incluindo clássicos como ‘Viagem ao Fundo do Mar’, ‘Terra de Gigantes’, ‘Daniel Boone’, ‘Perdidos no Espaço’, ‘Batman’ (de 1966) e ‘O Túnel do Tempo’. Já na gestão do empresário Rupert Murdoch e com um canais lineares para preencher de conteúdo, nos trouxe ‘Os Simpsons’, ‘Buffy, a Caça-Vampiros’, ‘Arquivo X’, ‘Prison Break’, ’24 Horas’, ‘American Horror Story’, ‘Glee’ e tantas outras.
A série ‘The Walking Dead’ é um dos destaques do Star+ neste lançamento (Crédito: divulgação / Disney)
Seria lindo ver tudo isso junto, né? Mas o Star+, nesse começo, falha justamente nisso: nem tudo está disponível. Até este momento, são apenas 677 filmes e 110 séries no novo serviço – contra 3.564 filmes e 1.899 séries da Netflix, para comparação. Ok, o Star+ foi lançado nesta semana, muita coisa ainda está por vir. Há uma questão técnica para disponibilizar esses conteúdo, pré-existência de acordos de licenciamento com concorrentes (‘Nomadland’ será exclusivo do Telecine, por exemplo) e o desembarace direitos conexos para localização. No que sobrou, o Star+ falha em empolgar. Em parte porque muito do que está lá foi figurinha repetida no canal pago Fox, além de ter ficado disponível por anos na Netflix e no Telecine.

Clique aqui para conferir parte do conteúdo disponível no Star+.

Para completar o cenário, a Disney tentou dar uma forçada, deixando a temporada mais recente de ‘Os Simpsons’ e ‘American Horror Story’ como exclusivas. Além disso, finalmente lançou pela nova plataforma conteúdos que são exclusivos do Hulu nos EUA, como as séries ‘Love, Victor’, ‘Dollface’ e ‘Only Murders in the Building’, além do longa-metragem ‘Amizade Desfeita’, com John Cena. Porém, nenhum desses títulos parece ter impulsionado as conversas do público, ao menos até aqui. É por isso que a Disney corre para produzir conteúdo original e exclusivo para o Star+. Como estamos falando de uma plataforma regional (não está nos EUA e na Europa existe apenas como um hub de conteúdo dentro do Disney+), as produções latino-americanas viraram uma grande aposta.
Deadpool está sendo usado a exaustão na campanha de lançamento do Star+ (Crédito: reprodução / Disney)
Não podemos, no entanto, negar o empenho do time de aquisição, que buscou cobrir esses furos principalmente com filmes da Universal Pictures – incluindo títulos como ‘O Incrível Hulk’ (que, sim, é do Universo Cinematográfico da Marvel, mas com distribuição do estúdio concorrente), ‘Scarface’, ‘Forest Gump’, ‘Tubarão’, ‘Jurassic Park’ e ‘De Volta Para o Futuro’. Só que, bom, a Universal é parceria de conteúdo de todos os outros streaming, também, o que faz desses longas figurinhas repetidas com Netflix, Amazon Prime Video, Telecine e até o Starzplay. Não existe diferencial.

Qualidade da imagem

Outra dificuldade do Star+ é a qualidade da imagem e do som de alguns conteúdos. Não, não se trata de um problema técnico da plataforma em si. Inclusive, por debaixo do capô, o Star+ é igualzinho ao Disney+, serviço que tem atendido bem aos usuários nesse período no Brasil. Acontece que, sendo bem sincero, a Fox nunca foi tão cuidadosa com o seu conteúdo de televisão quanto a Disney é. Séries como ‘Buffy’ e ‘Arquivo X’ estão com a proporção de tela mutilada: originalmente produzidas em 4:3 (o formato da TV analógica), foram modificadas para ficarem em 16:9, dos aparelhos atuais, mas sacrificando parte do conteúdo em tela ou esticando a imagem. Para quem é mais envolvido com o aspecto técnico do audioviosual, é algo que incomoda. Não se pode falar que é tudo um desastre, porém. ‘Cleopatra’ está com uma imagem impecável, enquanto ‘Os Simpsons’ traz a opção de assistir em 4:3 – ainda que seja difícil de encontrar a opção.

Busca complicada

Talvez o maior calcanhar de Aquiles do Star+ seja mesmo a busca. Diferentemente da plataforma irmã, o novo serviço simplesmente não lista todos os filmes disponíveis em suas categorias na versão para navegador desktop – o erro não se repete no app. Chega ao cumulo da opção “todos os filmes” ter apenas 30 títulos. Pior: mesmo na mesma conta, em dispositivos diferentes, a lista de produções varia bastante. O que aparece para um não aparece para outro, por exemplo – só se houver uma busca pelo nome.
“Todos os filmes” que não traz todos os filmes disponíveis (Crédito: reprodução / Disney)
Tal falha ajuda na sensação de haver pouca coisa para assistir.

Então, o Star+ vale apena?

Se você for um amante de esportes, certamente sim. Ainda que fique devendo categorias nacionais, o Star+ entrega um pacote consistente de transmissões esportivas, incluindo o melhor campeonato de futebol do mundo (a Premier League inglesa), aquele que já foi o melhor (La Liga espanhola) e a Ligue 1 francesa, que tem este ano ninguém menos que Lionel Messi como atrativo. Se o seu negócio são filmes e séries, o Star+ tem pouco de realmente novo (até o momento) para agregar. É possível que muitos dos longas você já tenha assistido em um passado recente, por exemplo. Vale se for fã de conteúdos muito específicos, como ‘Os Simpsons’ e ‘American Horror Story’. De originais, há muito pouco para convencer uma assinatura (de R$ 32,90, cara também por culpa dos direitos esportivos) só por causa deles.
Se você é fã de ‘Os Simpsons’, vai ficar feliz em saber que todas as 32 temporadas da série estão no Star+ (Crédito: divulgação / Disney)
O conteúdo infantil, que é o ponto-chave para muitas famílias, inexiste no serviço. Nesse sentido, o HBO Max é muito melhor: tem desde o esporte para os pais (ainda que em menor quantidade) a animações para as crianças. Agora, tudo isso muda de figura quando se considera o Combo+. Por R$ 45,90 ao mês é possível ter junto o Disney+ e, aí sim, ter na soma um catálogo robusto e completo, incluindo franquias inteiras (ainda que faltem os ‘Homem-Aranha’, que são da Sony). Nessa soma, o catálogo sobe para 1.395 filmes e 385 séries – ainda longe da Netflix, mas próximo dos 1.477 filmes e 353 séries do HBO Max. O preço é, sim, um pouco salgado. Porém, por esse valor, o Combo+ traz conteúdos em resolução 4K. O plano equivalente da Netflix sai por R$ 55,90. Ou seja, se o Ultra HD é um fator decisório para você, o combo sai mais barato que o principal concorrente. Como pode ver, a escolha ou não pelo Star+, passando a euforia inicial, é bastante particular. O que, por si só, já é um ponto negativo na disputa contra os concorrentes…

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

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