Filmes

‘tick, tick…BOOM!’: Lin-Manuel Miranda estreia na direção com um musical sensível e real

Filmes têm o poder de mexer com nossas emoções das mais diversas formas. ‘tick, tick…BOOM!’, musical que estreia hoje (19) na Netflix, é o primeiro trabalho de Lin-Manuel Miranda (‘Hamilton’) como diretor – e, se você é um jovem beirando os 30 anos, provavelmente vai se identificar com o protagonista, Jonathan Larson.

Dito isso, é impossível, para mim, não entrar em um âmbito mais pessoal para falar de do filme. Sou jornalista, tenho 29 anos e Miranda tocou na parte mais escondida da minha mente quando resolveu adaptar a história de um escritor que mudou o rumo da Broadway. Isso porque ele mostra todas as inseguranças do protagonista de uma maneira bastante relacionável.

Jonathan Larson levou quase toda a sua vida para que o mundo reconhecesse sua magnitude, infelizmente parte dela só veio após sua morte. Ele morreu precocemente aos 35 anos, vítima de uma dissecção aórtica, quando sua carreira estava deslanchando.
Andrew Garfield, Lin-Manuel Miranda e o time de produção de ‘tick, tick…BOOM!’ (Crédito: Divulgação/Netflix)

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Larson nunca soube do sucesso de seu musical ‘Rent’, que o renderia três prêmios Tony e um Pulitzer de Teatro, todos póstumos. Sequer conseguiu ver a peça na estreia da Broadway. A vida é injusta e ‘tick, tick…BOOM!’ pincela isso, de uma forma poética e até mesmo educada. O legado de obra do dramaturgo ecoa mais forte do que seu criador, porque o mantém vivo até hoje. ‘Rent’ é uma adaptação moderna da ópera ‘La Boheme’, se passa nos anos 1980 e conta a história de um grupo de amigos que vive o lado bom e ruim da vida de artistas em Nova York – que era basicamente a realidade de Jonathan Larson. A trama trata também de homossexualidade, AIDS e drogas, que eram e ainda são considerados temas tabus. Todo esse contexto embala ‘tick, tick…BOOM!’, que conta com um elenco formado por Andrew Garfield (‘Até O Último Homem’), Alexandra Shipp (‘Com Amor, Simon’), Robin de Jesús (‘The Boys in the Band’), Joshua Henry (da série ‘See’), MJ Rodriguez (‘Pose’) e Vanessa Hudgens (‘A Princesa e a Plebeia’). O longa acompanha uma parte da vida de Jonathan Larson, baseado no musical criado por ele que dá título ao filme. O monólogo biográfico se chamava originalmente ’30/90′ e ganhou outro título quando estreou na Broadway – que contou com Lin-Manuel Miranda no papel principal em um revival em 2014. Sob a ótica do próprio Miranda, a história virou um longa-metragem. A produção traz um formato diferente de musical, algo que o diretor já havia nos mostrado que sabia fazer quando trouxe ‘Hamilton’ ao mundo. Em certos momentos, ‘tick, tick…BOOM!’ é a montagem da peça de Larson, mas em outras é um filme mais tradicional – majoritariamente linear.
Robin de Jesús, MJ Rodriguez e Ben Levi em ‘tick, tick…BOOM!’ (Crédito: Divulgação/Netflix)
Antes de chegar ao streaming, a produção teve uma breve estreia nos cinemas brasileiros, em apenas três salas em todo o país, o que dificultou o acesso. Como uma boa fã de Miranda e de Andrew Garfield, resolvi ir ao cinema sozinha em uma pacata quarta-feira à noite na esperança de assistir a algo bom. Para minha surpresa, vi um musical impecável.

‘tick, tick…BOOM!’: cheiro de Oscar?

Não só as músicas são incríveis, como também o elenco. Garfield é possivelmente um candidato a estatuetas na temporada de premiações com sua atuação, assim como toda a parte musical. Mas ‘tick, tick…BOOM!’ vai além disso: é uma história sobre pessoas reais e com sonhos que jamais se mostram inatingíveis – esse papinho parece clichê, mas, dentro da trama, não é. Coincidentemente, antes de assistir ao filme, eu estava transcrevendo uma entrevista com Ron e Russell Mael, criadores de ‘Annette‘ – que chega ao streaming na próxima semana -, e eles falavam sobre o molde de Hollywood para fazer musicais. Os irmãos Mael gostariam que esse gênero tivesse um outro tipo de sensibilidade, um tom mais mundano, mais realista, e Lin-Manual Miranda consegue sintetizar, de certa forma, o que eles disseram. ‘tick, tick…BOOM!’ tem algo a mais, uma alma que enche a tela e o espectador. Por mais que ainda preencha os pré-requisitos de um filme hollywoodiano e tenha algumas cenas piegas, a produção da Netflix não se resume a isso e esse, talvez, seja o seu diferencial. Andrew Garfield também ajudou nessa tarefa: o Jonathan Larson dele é um ser humano cheio de emoção, sonhos e defeitos.
Andrew Garfield dá vida a Jonathan Larson (Crédito: Divulgação/Netflix)
O personagem principal está o tempo todo se cobrando por estar quase com 30 anos e ainda não ter conquistado nada. Mas, no fundo, não dá para resumir todas as nossas realizações a prêmios e fama, e sim ao nosso dia-a-dia e as pequenas transformações que fazemos na vida de quem amamos. Um dos grandes aprendizados que o escritor deixou é que não devemos desistir do que almejamos, mas que não vale a pena machucar quem nos rodeia no meio do caminho. Durante 35 anos, ele teve muita coragem para viver como bem entendia e levar ao extremo o que era ser um artista. Além de toda essa profundidade, o longa também fala sobre o começo da epidemia de HIV, no anos 1980 e 1990, e da marginalização LGBTQ+. Como vemos, dá, sim, para abordar assuntos importantes e fazer um filme bonito, que te faz sorrir, chorar e entender que a vida é bonita da forma mais mundana possível.

Quer saber mais sobre ‘tick, tick…BOOM!’, incluindo trailer, outros motivos para assistir e o link para ver na Netflix? Clique aqui.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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