‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ traz reflexão sobre a importância das mulheres negras na política ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ traz reflexão sobre a importância das mulheres negras na política

‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ traz reflexão sobre a importância das mulheres negras na política

O Filmelier conversou com as diretoras Éthel Oliveira e Júlia Mariano em uma entrevista exclusiva

18 de setembro de 2020 17:59

Daqui a dois meses, em novembro, teremos as eleições municipais no Brasil – data que foi alterada devido a pandemia do coronavírus e enquanto o país enfrenta um cenário de grande crise política. Em meio a isso, surge o documentário ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’, que consegue ser um respiro ao caos que os brasileiros enfrentam em questões políticas e sociais. O filme foi lançado, grátis, no YouTube nesta semana.

As diretoras Éthel Oliveira e Júlia Mariano acompanharam seis mulheres negras no processo eleitoral de 2018, pouco depois do assassinato da vereadora Marielle Franco, em março do mesmo ano. ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ é um filme necessário, principalmente pelo contexto atual do país quanto por sua força feminina, que dá visibilidade às mulheres na política. O documentário é seco, intenso e dá esperança, pelo menos foi o que senti ao assistir sendo mulher. 

Sementes, lançado grátis no YouTube
A ideia do documentário surgiu depois do assassinato de Marielle Franco (Foto: Reprodução/Embaúba Filmes)

Jaqueline de Jesus, Mônica Francisco, Renata Souza, Rose Cipriano, Tainá de Paula e Talíria Petrone são as personagens do documentário e elas mostram que as mulheres não vão se calar dentro do sistema. Marielle Franco se tornou um símbolo e no filme isso se torna ainda maior, dá para ver como as candidatas retrataram se inspiraram nela – e não só isso, construíram junto com Marielle o desejo por mudança. Importante citar que existem representantes femininas e negras antes mesmo da vereadora.

Marielle

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O Filmelier conversou com as duas cineastas, Éthel Oliveira e Júlia Mariano, sobre ‘Sementes’, que ficará disponível, grátis, até o dia 30 de setembro no canal da Embaúba Filmes no YouTube.

“O filme é a partir de Marielle,
que é o fruto de sementes
de outras mulheres”

“A ideia nasce a partir do assassinato da Marielle, saímos um dia para filmar uma ação que as deputadas Monica Francisco e Dani Monteiro estavam fazendo aqui em Manguinhos, na zona norte do Rio, e foi lá que a gente teve certeza que ali tinha um filmaço, sabe? Porque era muito diferente a forma como elas falavam de fazer política, tinha sempre essa referência à Marielle e a não permitir que esse assassinato silenciasse as mulheres negras. Essa resposta das mulheres negras a gente entende como uma resposta ao assassinato”, afirma Júlia Mariano sobre o processo de criação de ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’.

Éthel Oliveira entrou logo em seguida, pois Mariano achou que esse história deveria ser contada também por outro ponto de vista. “A gente também pensou que tínhamos que convidar uma mulher negra para dirigir esse filme porque não era possível esse filme ser feito apenas por mulheres brancas.” 

Sementes, lançado grátis no YouTube
‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ acompanha seis mulheres negras no processo eleitoral de 2018 (Foto: Reprodução/Embaúba Filmes)

“A Marielle mesmo falava isso, que ela era fruto de uma caminhada política de outras mulheres. Mas claro, o filme é a partir de Marielle, que é o fruto de sementes de outras mulheres”, conta Éthel Oliveira.

“‘Sementes’ é uma
ferramenta política,
para reflexão política”

“A gente tá nesse momento terrível justamente por falta dessa visibilidade de outras  possibilidades  de imaginários políticos. A política das mulheres pretas não é da causa própria, é uma política para toda a humanidade. Quando a gente pensa em política, vamos sempre pensar em um homem branco de gravata e o ‘Sementes’ vem para ampliar esse universo do imaginário político também”, completa.

Filme grátis e urgente

‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ teve sua estreia na internet em 7 se setembro, por conta da pandemia, mas as diretoras revelam que o desejo mesmo era que o lançamento ocorresse no Cine Odeon Claro, no centro do Rio de Janeiro.

“Como veio a pandemia, entendemos que o ‘Sementes’ é um filme urgente, para que as pessoas tenham uma reflexão acerca do seu voto, não era um filme para a gente segurar e tentar um festival, e nem para tentar vender para uma televisão, era um filme que tinha vir pro mundo assim que fosse finalizado”, pontua Júlia Mariano.

“Corremos muito para pôr esse filme no ar antes das eleições, do período de campanha, para que não tivéssemos nenhum problema jurídico e nem criar problemas para as personagens que são candidatas em 2020. E sim, a gente acha que o ‘Sementes’ é uma ferramenta política, para reflexão política”.

“A intenção da distribuição
é fazer o filme chegar
onde o cinema não chega”

O documentário traz a mensagem do quão importante é escolher um candidato e muitas vezes nós, brasileiros, negligenciamos isso pelo simples fato de acharmos um absurdo o voto ser obrigatório. Usar filmes para transmitir esse alerta é uma ferramenta interessante, pois consegue abrir a cabeça do espectador – ou pelo menos, fazer como ele reflita.

“Tem dois desejos bastante marcados com o Sementes, um é que ele seja reconhecido enquanto obra cinematográfica – um documentário importante acerca do momento dramático da democracia brasileira pela perspectiva das mulheres negras, um documento histórico, que a gente seja colocada junto com as grandes obras de documentário”, conta Éthel.

“A outra coisa era fazer de ‘Sementes’ uma ferramenta política. Desejávamos muito que ele chegasse amplamente para o público. Estamos bem orgulhosas do filme como obra”, continua a diretora. “A intenção da distribuição é fazer o filme chegar onde o cinema não chega”, completa Júlia Mariano.

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