Não há dúvidas de que ‘Druk: Mais uma Rodada’, filme dinamarquês amplamente reconhecido na temporada de premiações de 2021, cause certo estranhamento num primeiro contato do público brasileiro com a história. Afinal, a trama acompanha um grupo de professores, todos eles amigos há anos, que decide beber doses de álcool antes das aulas. É como um experimento, para entender se aquilo vai aumentar a performance, a alegria e o rendimento. Obviamente, muita coisa sai errado e até temos alguns escapismos para o humor. Mas não adianta: na direção, temos Thomas Vinterberg. Repetindo sua parceria com Mads Mikkelsen após ‘A Caça’, o cineasta busca investigar os dilemas e os problemas do consumo de álcool sem limites -- uma questão real na Dinamarca, onde adolescentes bebem e são incentivados a beber desde muito cedo. Não cai em banalidades, tampouco em um drama sentimental qualquer. Em ‘Druk: Mais uma Rodada’, há boas questões sobre vida, masculinidade e ego, com uma cena final deslumbrante.
Berço de grandes histórias e lendas, a mitologia nórdica ganha uma adaptação feita pelos próprios noruegueses. É daqui que, por exemplo, J.R.R. Tolkien buscou temas dos livros de ‘Senhor dos Anéis’ e de onde J.K. Rowling tirou alguns elementos para as histórias de Harry Potter. Em ‘O Rei da Montanha’ temos o grande personagem folclórico Ashlad como protagonista, em uma aventura para toda a família. O longa recebeu o selo de aprovação de seus conterrâneos, sendo a segunda maior bilheteria na Noruega em 2017.
A Noruega, nos últimos anos, tomou gosto pelo “cinemão”. Ainda que produções independentes sejam o forte do país, filmes com uma pegada de ação, e até mesmo com teor apocalíptico, começaram a pipocar no País e a fazer sucesso no exterior. Foi o caso de ‘A Onda’, longa-metragem sobre um tsunami no país escandinavo e que até mesmo rendeu a continuação ‘Terremoto’. Agora, a Noruega volta a se debruçar em efeitos visuais com o longa-metragem ‘O Túnel’. Bebendo da fonte de ‘Daylight’, com Sylvester Stallone, o filme mostra um grupo de pessoas presas em um túnel. E a situação é complicadíssima. Afinal, do lado de dentro, um incêndio de proporções dantescas assusta. Do lado de fora, uma forte nevasca impede as pessoas de sair. A partir disso, o diretor Pål Øie se vale dos tipos e situações clássicas do gênero, devendo agradar o público que busca uma ação divertida e um tanto quanto descompromissada -- saindo, ainda por cima, da mesmice dos EUA.
Quer um terror, com toques de suspense, vindo diretamente dos países nórdicos? ‘Kadaver’ (ou 'Cadáver', como preferir) é um dos filmes mais provocativos e angustiantes com o selo da Netflix. Afinal, ambientado em um escasso período de fome após um desastre nuclear, uma família de três pessoas é convidada para um evento de caridade em um hotel, onde os convidados serão alimentados. No entanto, rapidamente as coisas saem dos trilhos quando, uma a uma, as pessoas começam a desaparecer, desencadeando uma sombria trama — ao melhor estilo Agatha Christie em ‘E Não Sobrou Nenhum…’. Destaque para a direção vigorosa do jovem Jarand Herdal (do bom ‘Everywhen’), que usa de alguns clichês do gênero para rapidamente revertê-los em situações realmente inesperadas. Para se divertir, se assustar e dar alguns pulos no sofá de casa com todo visual de filmes noruegueses.
É um bom filme, ainda mais considerando que é o segundo do diretor dinamarquês Peter Schønau Fog. Um melodrama familiar que consegue mergulhar no estudo da neurociência de uma forma interessante - sem deixar o telespectador confuso. Muito recomendado para quem gosta e/ou quer conhecer o cinema da Dinamarca, principalmente esse olhar mais sofisticado sobre as relações familiares dentro da dinâmica social dos países nórdicos.