De uma forma lúdica e cheia de imaginação, o filme retrata o impacto da famosa máfia siciliana pela visão das crianças. Com uma bela fotografia, um inteligente uso de lentes e enquadramentos, os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza criam uma história intensa e tocante, que mistura diversos gêneros. Vale dizer que tudo isso é baseado em fatos reais: Giuseppe, o do mundo real, desapareceu em 23 de novembro de 1993.
Com muitas sátiras, o filme faz uma bela crítica a visão elitista da arte contemporânea, especialmente do ponto de vista europeu. Em certos momentos, contrasta as diferenças sociais, enquanto, em seu subtexto, mostra que todos somos, na realidade, animais. Vale dizer que este não é apenas um filme: pode ser até considerado um manifesto à arte atual e ao mundo do século XXI. O resultado é uma produção que é um deleite para quem gosta do cinema. É bem diferente dos longas que costumam ganhar o Palma de Ouro no Festival de Cannes, mostrando toda a genialidade e provocação do filme.
Um dos grandes filmes do Festival de Cannes de 2017, vencedor do Grand Prix e a obra que fez Pedro Almodóvar, o presidente do júri, chorar. Porém, ‘120 Batimentos por Minuto’ é mais do que isso. Trata-se de um grito de toda uma geração, que ficou frente a frente com o fantasma do HIV e da Aids e que também via o governo e as grandes indústrias farmacêuticas negarem ajuda – um lado não fazia campanhas de conscientização e sobre o uso da camisinha, enquanto o outro buscava lucrar milhões enquanto inúmeras pessoas morriam. O diretor Robin Campillo, no entanto, conta essa história com muita emoção e coração, com foco nos protagonistas interpretados pelo trio Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois e Adèle Haenel (de ‘Amor à Primeira Briga’). Uma história tocante, para abrir nossos olhos e nos mostrar a importância do amor, da alegria e da luta pelo que acreditamos.
A sociedade falhou, ao menos nos seus mecanismos para cuidar daqueles que precisam de assistência. É esse o olhar que o diretor Ken Loach traz, em uma crítica à falência do estado de bem-estar social britânico e ao chamado “programa de austeridade” do governo local nos últimos anos. Tudo isso empacotado em um relato bastante emocional, que nos faz traçar alguns paralelos com o Brasil.
Jean-Luc Godard é uma das mais importantes, fascinantes e peculiares figuras do cinema. Integrante do movimento Nouvelle Vague (“Nova Onda”, em português), o cineasta se tornou popular com seus filmes mais leves, mas se engajou na política ao final dos anos 1960 e mudou o seu olhar em relação à sétima arte e ao mundo. Neste filme, Michel Hazanavicius (vencedor do Oscar por ‘O Artista’) revisita esse momento de transição do diretor da velha guarda. Um dos méritos do longa – mas que não foi bem visto por parte da crítica, principalmente a americana – foi procurar humanizar Godard, agregando humor e usando o relacionamento dele com a atriz Anne Wiazemsky como base. ‘O Formidável’ tem apelo tanto para cinéfilos quanto aqueles que querem começar a conhecer um pouco mais sobre Jean-Luc e o cinema francês, ou mesmo para quem quer apenas se divertir com uma dramédia.