Este é o filme mais recente de Spike Lee, cineasta nova-iorquino com uma filmografia extensa e relevante que inclui obras notáveis como ‘Faça a Coisa Certa’, ‘Malcolm X’ e ‘Infiltrado na Klan’. É um filme de guerra, mais especificamente sobre a Guerra do Vietnã, tema que rendeu dezenas e dezenas de filmes nas últimas décadas. Ainda assim, traz uma perspectiva original e muito importante sobre a participação dos negros, tão intencionalmente esquecidos, na primeira guerra veiculada. Também usando imagens de arquivo, como jornais, fotografias e telejornais (marca da produção do diretor), acompanhamos cinco veteranos de guerra que retornam ao Vietnã, mais de quatro décadas depois, em busca de um tesouro escondido e do corpo de seu antigo líder. É eletrizante e, apesar do assunto, também é muito afetuoso, uma história de amizade e companheirismo. Além disso, é uma das últimas obras do ator e produtor Chadwick Boseman, que morreu aos 43 anos em 2020, vítima de câncer, deixando um enorme legado audiovisual, que deu vida ao Pantera Negra do Universo Marvel. - Luísa Nico
Depois de interpretar um candidato à presidência com sua vida íntima revelada pela mídia em ‘O Favorito’, Hugh Jackman volta a viver um homem no meio de um furacão em ‘Má Educação’. Desta vez, porém, não são casos extraconjugais que o perseguem, mas sim um esquema de corrupção numa escola americana. Com uma direção firme e “pé no chão” de Cory Finley (do interessante ‘Puro-Sangue’) e um roteiro inteligente de Mike Makowsky (de ‘Take Me’), o longa-metragem é esperto ao não entregar tudo de uma vez para o público. As revelações sobre o caso real, que abalou o distrito norte-americano de Long Island, vão sendo feitas aos poucos, quase de maneira cruel. Afinal, o público embarca numa direção e o filme, sem piedade, logo muda o sentido daquela história, sempre mantendo a fidelidade ao clima quase documental. Personagens são desconstruídos, tramas são quebradas. E o filme surpreende com histórias da vida real, sem nunca apostar em reviravoltas mirabolantes ou coisas do tipo. É um drama forte, contundente, digno de premiações na temporada. Destaque, ainda, para a atuação de Allison Janney, oscarizada pela sua personagem em ‘Eu, Tonya’, que aqui interpreta o braço direito de Hugh Jackman.
Em um mundo repleto de sequências intermináveis, prequels, reboots, remakes (ou misturas estranhas de todos eles), é extremamente improvável que fique satisfeito, muito menos surpreso com um. Mas a visão de Leigh Whannell sobre ‘O Homem Invisível’ não é apenas uma demonstração do que um bom remake deve ser, mas também do que o bom terror pode ser: uma luta metafórica contra os monstros da sociedade contemporânea. Neste caso, o monstro não é apenas um louco faminto por poder como no clássico da Universal, mas um agressor doméstico em série cuja presença assombrosa é sentida muito depois de sua partida. - Lalo Ortega
Após ‘Lady Bird’, Greta Gerwig se superou ainda mais com ‘Little Women’, um dos filmes mais inventivos de 2020. Apesar de ser inspirado em um livro clássico, do século XVIII, a diretora colocou um estilo particular intenso no longa-metragem, que ainda ganhou tons modernos e discussões relevantes. Os destaques absolutos ficam para o figurino deslumbrante e para as atuações, com especial atenção para Saoirse Ronan (‘Brooklyn’) e Florence Pugh (‘Viúva Negra’). Um filme para sentir e viajar com a história, relevante e necessária nos tempos atuais. — Matheus Mans
Uma das produções mais aguardadas do ano, o famoso musical da Broadway ‘Hamilton’ foi gravado e lançado exclusivamente no Disney +. A peça tornou-se um fenômeno e essa fama se justifica. Por meio do hip hop, rap e outros estilos musicais, o longa conta a história de Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos, que teve forte influência no desenvolvimento do capitalismo americano. A história é baseada em fatos reais, mas isso não isentou o criador, Lin-Manuel Miranda, de críticas ao colocar um elenco afro-americano no papel de pessoas que defendem a escravidão, como no caso de George Washington e outros fundadores dos Estados Unidos. Apesar disso, como obra de entretenimento, ‘Hamilton’ consegue ser completo e o formato que a Disney + trouxe, sendo a peça filmada sem adaptações para virar filme, dá a impressão de estar na primeira fila de um teatro. ‘Hamilton’ é um dos meus filmes favoritos de 2020 porque é um tipo de musical muito incomum. A história real é meio chata, mas as músicas enriquecem tanto que tudo é incrível. - Raissa Basílio.