Estrelado por nomes como Daniel Kaluuya, LaKeith Stanfield, Jesse Plemons e Martin Sheen, ‘Judas e o Messias Negro’ é daqueles filmes que é 8 ou 80. Afinal, de um lado, temos um elenco afiado, uma mensagem coesa e um roteiro interessante sobre agente do FBI (Stanfield) infiltrado no movimento dos Panteras Negras -- mais especificamente, na célula do influente Fred Hampton (Kaluuya). É fácil digerir a mensagem e, principalmente, entrar no clima criado pelo diretor Shaka King. No entanto, falta vigor no roteiro. Ao estilo de ‘Infiltrado na Klan’, este longa-metragem não consegue ter uma vitalidade sequer similar ao filme de Spike Lee. Alguns momentos são arrastados, outros são artificiais demais. Fica para cada um, para cada experiência frente à tela. Mas há um fato que permeia toda essa produção: a história é urgente, necessária. E Stanfield e Kaluuya estão incríveis, tanto que Kaluuya levou a estatueta de ator coadjuvante. Além disso o filme ganhou também o prêmio de melhor canção original.
‘Druk: Mais uma Rodada’ acompanha um grupo de professores, todos eles amigos há anos, que decidem beber doses de álcool antes das aulas. É como um experimento, para entender se aquilo vai aumentar a performance, a alegria e o rendimento. Obviamente, muita coisa sai errado e até temos alguns escapismos para o humor. Mas não adianta: na direção, temos Thomas Vinterberg. Repetindo sua parceria com Mads Mikkelsen após ‘A Caça’, o cineasta busca investigar os dilemas e os problemas do consumo de álcool sem limites -- uma questão real na Dinamarca, onde adolescentes bebem e são incentivados a beber desde muito cedo. Não cai em banalidades, tampouco em um drama sentimental qualquer. O filme traz boas questões sobre vida, masculinidade, ego e escapismos fáceis, sempre com uma atmosfera interessante criada por Vinterberg. E já adianto: a sequência final com Mikkelsen já é uma das melhores cenas do cinema em 2021, cheia de vida e significados por meio de uma única dança. O longa ganhou o prêmio de melhor filme internacional, e foi marcado por um belíssimo discurso do diretor, em homenagem a sua filha, que faleceu antes que o filme fosse concluído.
Apresentado no Festival de Cinema de Toronto e premiado em Zurique, 'O Som do Silêncio' é um filme poderoso que não só consegue contar uma história sobre uma perda - neste caso, sensorial - e sua aceitação, mas também consegue evocar a sensação através da imagem e, acima de tudo, com um excelente design de som. Grande parte do fardo recai sobre Riz Ahmed ('Rogue One'), que dá uma das melhores performances de sua carreira capturando o desespero de seu personagem, bem como a beleza que ele encontra na quietude. O filme também apresenta a sempre excelente Olivia Cooke ('Jogador Número 1') em uma das personagens mais interessantes de sua carreira. Com um trabalho técnico impecável, que contribui muito para a mensagem do filme, ele ganhou os prêmios de melhor edição e melhor som, merecidamente.
Acredite se quiser: esse filme conta a história de um humano que fez amizade com um polvo. É um documentário verdadeiramente tocante sobre a conexão entre esses dois seres. Como o título entrega, a produção mostra que os animais são os grandes professores da natureza e se não fosse por eles, nada continuaria existindo - afinal, os seres humanos são os maiores responsáveis por prejudicarem o meio-ambiente.Outra bela mensagem da história é mostrar que o amor está sempre presentes, de maneiras que a gente nem imagina. ‘Professor Polvo’ é o documentário extremamente pessoal e mesmo sem conhecer a história do protagonista, Craig Foster, é impossível não se encantar pela relação que ele desenvolveu com um animal marinho. Ele foi o escolhido pela Academia para o prêmio de melhor documentário longa-metragem.
Com uma vitória esperada na categoria de melhor animação, e também uma em melhor trilha sonora original (afinal é um filme que respira música), não é exagero afirmar que 'Soul' é um dos melhores filmes da temporada 2020-2021 do cinema e da história da Pixar. Com muito coração, o longa traz um enorme ensinamento sobre como encaramos a vida, o ordinário e a chama que nos motiva a seguir em frente. A estética complementa o roteiro de forma impecável, com uma bela construção do mundo real e um visual extremamente inspirado para o além-vida - resgatando conceitos da arquitetura modernista de outrora. Tudo isso embalado por uma trilha sonora impecável, que é dividida em duas grandes partes: uma com um jazz aconchegante, que nos abraça com suas notas, e outra com inspiração no new-age, com a música dialogando de forma surpreendente com o que vemos em cena. Tudo isso eleva ainda mais o fato dessa ser a primeira animação da Pixar com um protagonista afro-americano - algo que, por mais que tenha demorado para acontecer, foi feito com muita maestria. Méritos totais do diretor Peter Docter (de 'Divertida Mente' e CCO da Pixar) e da produtora Dana Murray.