Gravado na Catalunha, o filme acompanha mergulhadores em busca de objetos submersos e histórias não resolvidas. Rodrigo Santoro interpreta o protagonista com uma fisicalidade econômica, que carrega o peso da culpa sem precisar verbalizá-la. A direção aposta na contenção, e o longa consegue evocar passado e perda sem recorrer a explicações artificiais.
Baseado no livro de Valter Hugo Mãe, o filme traz Santoro como um pescador que deseja formar uma família por escolha. A narrativa, ambientada no interior de Portugal, evita idealizações e retrata relações humanas com estranhamento e melancolia. A performance de Santoro funciona bem nesse registro contido, sem sobrecarga emocional.
Rodado em preto e branco, o longa se dedica à figura do jogador Heleno de Freitas, tão talentoso quanto autodestrutivo. Rodrigo Santoro constrói um protagonista com gestos angulosos, falas quebradas e olhar cada vez mais vazio. A atuação domina a tela sem precisar gritar, apoiada por uma encenação que valoriza ruídos, hesitações e espaços desconfortáveis.
Santoro interpreta um recrutador de jovens em situação de vulnerabilidade para trabalho em condições análogas à escravidão. A atuação se afasta de vilanias convencionais: é um personagem que acredita estar oferecendo uma saída, o que o torna mais inquietante. O filme é direto, sem ornamentações, e constrói sua crítica pela repetição do cotidiano.
Primeiro longa-metragem da diretora paulista Laís Bodanzky - e foi uma grande estreia. O filme trata de problemas familiares, sobre a incompreensão que muitos pais têm em relação aos seus filhos, que pode levar a uma adversidade muito pior. Bicho de Sete Cabeças faz uma dura crítica a métodos de tratamento psiquiátrico antiquados, como eletrochoque, por exemplo, que causa uma das grandes rupturas da história. Além disso, o protagonista Rodrigo Santoro está em um dos papéis mais reconhecidos de sua carreira no cinema brasileiro.




