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‘365 Dias Finais’: dinheiro, luxo e belas nádegas não justificam abuso e machismo

Já podemos (quase) respirar aliviadas: a terceira e última parte da trilogia de “romance” erótico ‘365 Dias’, ‘365 Dias Finais’ chegou à Netflix nesta sexta-feira, 19. Apenas quatro meses desde o lançamento do segundo filme, a produção – com torturantes quase duas horas de duração – é mais uma adaptação dos livros da autora polonesa Blanka Lipinska.

A trama (se é que podemos, em alguma circunstância, considerar o enredo desses filmes uma história) tenta dar alguma sequência coesa aos dramas do relacionamento entre Massimo (Michele Morrone) e Laura (Anna-Maria Sieklucka), que está ainda mais abalado após o quase assassinato desta última.

No entanto, por mais que possa parecer que haverá em ‘365 Dias Finais‘ um grande desenvolvimento de personagem, este novo filme consegue ser ainda mais superficial e fútil. Infelizmente, é jogada fora a possibilidade de um arco narrativo denso, permeado por questões conjugais complexas envolvendo Nacho (Simone Susinna), outro mafioso rival de Massimo apresentado em ‘365 Dias: Hoje‘.

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Porém, mesmo sem ter qualquer motivo para justificar sua existência o longa não perde oportunidade de ser, mais uma vez, problemático e profundamente misógino.
Por motivos que não conseguimos entender, Nacho é mais um personagem completamente apaixonado por Laura (Crédito: Divulgação/Netflix)

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Pela terceira vez, absolutamente nada é explicado. Os diálogos aqui são raros e, quando acontecem, além de serem cheios de frases bregas como “você pode fugir de mim, mas não pode fugir de como se sente”, o script obriga os atores a proferirem uma imensidão de palavras vazias, sem nenhum cabimento e que não levam a lugar nenhum. Por trás do champanhe, das roupas caras e das infinitas boates com luzes neon, três filmes depois os personagens e suas motivações permanecem indecifráveis. Por que Laura, do nada, está obcecada por Nacho? Como que ela, sem nenhum preparo ou especialização prévia, consegue levar seus designs de roupa para festivais internacionais de moda? Os questionamentos são intermináveis e, as respostas, ininteligíveis. Como a duração do filme é enorme, é necessário muitas cenas para preencher o tempo. Com isso, as situações colocadas na tela também são tão absurdas que tornam quaisquer interações passíveis de riso, especialmente as cenas em que Massimo e outros “maiorais do crime” estão em reuniões (que não fazemos ideia do objetivo), vociferando ordens e esbravejando ultimatos.
Michele Morrone é Don Massimo Torricelli na trilogia ‘365 Dias’ (Créditos: Divulgação/Netflix)
De que maneira, você pode me perguntar, esses personagens atuam no tráfico de drogas e são as figuras mais importantes da máfia em seus respectivos territórios? Não temos a menor ideia. A única coisa aparentemente necessária para o cargo é ter uma boa porção de músculos para preencher seus inúmeros paletós apertados.

‘365 Dias Finais’ é fetichista, misógino e… falso

Tentando suprir todas as gafes narrativas citadas acima, a trilogia ‘365 Dias’ tenta resolver toda a situação com sexo. Neste último capítulo, com exceção de um beijo gay entre Massimo e Nacho que acontece nos muitos sonhos da protagonista, as relações sexuais – de novo – existem para materializar os desejos fetichistas da mente masculina heterossexual. Mulheres em fantasias degradantes, BDSM, beijo lésbico. Esses são apenas alguns dos conteúdos sexuais encontrados em ‘365 Dias Finais’. Com a interminável trilha sonora de música pop romântica, assistimos a muitos momentos eróticos recheado dos delírios da mente dos homens, construídas pelo pornô: os clássicos gemidos femininos espalhafatosos e corpos completamente perfeitos e irreais, além das diversas posições sexuais estranhas que simplesmente não são confortáveis ​​ou prazerosas para as mulheres (afinal, nada aqui é sobre o prazer delas). A verdade dura e degradante de ‘365 Dias’ é que, embora mire em um público majoritariamente feminino, a produção transforma todas mulheres em meros bibelôs, objetificados incessantementes pelo “male-gaze” em meio à uma névoa prejudicial de falso feminismo.
Laura e Massimo tentam encontrar uma nova dinâmica para o casamento em ‘365 Dias Finais’ (Crédito: Divulgação/Netflix)
Com locações estonteantes que tentam amenizar os aspectos tenebrosos da história, o capítulo final corrobora todos os erros dos dois filmes anteriores – retrocedendo séculos de lutas emancipatórias e direitos das mulheres. O erotismo, as transas explícitas e até mesmo os fetiches não são a grande questão neste longa. O problemático é propagar uma mensagem de libertação sexual quando, na verdade, mulheres são usadas para gratificação de terceiros e não importam os meios para chegar a este fim. ‘365 Dias Finais’ é o mais insidioso da saga pois argumenta que dinheiro, luxo e nádegas bem esculpidas justificam sequestros, violência (física e verbal) e chauvinismo – a protagonista objetifica a ela mesma aqui, e isso é ainda pior. “A verdade às vezes não é simples”, diz Laura em certo momento. Pelo contrário, ela é a mais cristalina possível: esses 112 minutos do filme só serão prazerosos para os masoquistas.

‘365 Dias Finais’ está disponível na Netflix. Se você estiver interessado em explorar esse universo, clique aqui para encontrar mais informações, trailer e o link para assistir online.

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Laura Ferrazzano

Jornalista cultural e entusiasta das artes. Já fez parte da redação de grandes sites brasileiros como R7 e CARAS digital, além do portal internacional, Her Campus. Foi assistente de redação no Filmelier.

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