Com edição digital, É Tudo Verdade se destaca com filmes políticos e musicais Com edição digital, É Tudo Verdade se destaca com filmes políticos e musicais

Com edição digital, É Tudo Verdade se destaca com filmes políticos e musicais

Em 2020, o É Tudo Verdade, principal festival de documentários no Brasil, acerta ao realizar edição on-line e democrática

Matheus Mans   |  
2 de outubro de 2020 15:48

Todo ano, em cinemas selecionados na região da Avenida Paulista e em algumas unidades do SESC, o festival É Tudo Verdade toma conta da comunidade cinéfila. São dezenas de documentários, internacionais ou nacionais, que direcionam a atenção do público para temas de interesse. Em 2020, por conta da pandemia do coronavírus, o festival precisou se adaptar em uma edição digital, que chega ao fim neste domingo, 4.

Afinal, o principal ponto da edição digital é a democratização de acesso. Ainda que a organização tenha limitado a exibição para 1,5 mil visualizações, por conta de direitos autorais, o festival ficou mais amplo, mais aberto. Afinal, ao invés de ficar restrito ao circuito cinéfilo de São Paulo e Rio de Janeiro, o É Tudo Verdade poderia ser assistido com alguns cliques, de casa. Documentários de todo o Brasil para todo o Brasil.

O filme ‘Libelu: Abaixo a Ditadura’ foi um dos destaques do festival (Crédito: O Trabalho/Divulgação)

Além disso, com a edição digital, sumiu a confusão que se instaurou nos últimos anos com a centralização de realização do festival no cinema do Instituto Moreira Salles. O local conta com apenas 151 lugares, uma tela distante e um sistema de som que não privilegia o filme. Sempre eram filas e mais filas para conseguir assistir aos filmes da programação. Alguns mais badalados, como ‘O Processo‘, deixaram centenas de fora em 2018.

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Com isso, fica a reflexão: será que tendo uma edição tão mais democrática e original no digital, não seria melhor mantê-la nos anos seguintes? Afinal, em coletiva de imprensa realizada antes do início desta edição, o organizador Amir Labaki desconversou sobre edições futuras. Disse que já faziam um festival digital — no entanto, nunca foi feito com filmes inéditos, apenas com mostras especiais, com clássicos e filmes de outras épocas.

É Tudo Verdade musical e político

Assim como a organização do É Tudo Verdade 2020 foi tomada de acertos, a curadoria dos filmes também acertou. Na mostra competitiva brasileira, documentários sobre cantores e sobre política foram os principais destaques. No primeiro tema, longas como ‘Jair Rodrigues: Deixa que Digam’ e ‘Os Quatro Paralamas’ trouxeram visões de homenagem à esses importantes personagens da música popular brasileira. Emocionaram.

Cid Moreira é mostrado na intimidade e em detalhes nunca antes vistos (Crédito: Divulgação/É Tudo Verdade)

‘Boa Noite’, uma cinebiografia sobre o apresentador e narrador Cid Moreira, responsável por comandar o Jornal Nacional ao longo de décadas, também chamou a atenção. A cineasta Clarice Saliby conseguiu imagens realmente particulares do nonagenário, incluindo um escalda-pés bem à vontade, entrevistas dadas em faculdades de jornalismo e até mesmo a recriação de um momento em que Cid quase morreu na sauna de casa.

No entanto, foram os filmes políticos e sociais que ficaram marcados. ‘Meu Querido Supermercado’, por exemplo, acertou em cheio ao mostrar o microcosmo dos funcionários de mercados. ‘Segredos de Putumayo’ revoltou com a história de povos indígenas escravizados no Brasil, no século XX. E o principal destaque do festival, ‘Libelu: Abaixo a Democracia’ fala sobre movimentos políticos do passado para ressignificar o presente.

‘O Espião’, destaque da mostra internacional

Quanto aos longas internacionais, a seleção foi um pouco mais inconstante. ‘Collective’ emocionou ao mostrar uma tragédia em uma boate na Romênia; ‘1982’ falou sobre o caráter midiático e até de manipulação advindo na Argentina com a Guerra das Malvinas; e ‘Rádio Silêncio’ trouxe uma interessante perspectiva sobre a falta de liberdade de imprensa no México, intensificada nos últimos governos populares e, é claro, populistas.

‘O Espião’ é um dos grandes destaques internacionais do É Tudo Verdade (Crédito: Divulgação/É Tudo Verdade)

No entanto, o grande destaque ficou com o documentário chileno ‘O Espião’, vencedor no San Sebastián International Film Festival e indicado em Sundance. Aqui, o espectador começa o filme com uma história estranha e que parece não chegar a lugar algum: um detetive particular quer contratar um idoso, na casa dos 80 anos, para que ele se infiltre em uma casa de repouso para descobrir se ali é praticado maus tratos.

A partir daí, o que parecia uma trama de investigação curiosa, ‘O Espião’ vai se transformando em um filme emocional e reflexivo sobre solidão, velhice e abandono. Assim como ‘The Truffle Hunters’, é daquelas pérolas de documentários que não saem da cabeça e acabam trazendo uma reflexão que vai além da proposta inicial. Quem sabe, assim como o filme exibido no TIFF, este filmaço chileno não ganhe tração para o Oscar 2021.

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