Este site usa cookies e dados pessoais para melhorar a sua experiência de usuário, de acordo com os nossos Termos e Condições de Uso e Política de Privacidade, atualizados em 08 de Setembro de 2022. Ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.
Todo ano, em cinemas selecionados na região da Avenida Paulista e em algumas unidades do SESC, o festival É Tudo Verdade toma conta da comunidade cinéfila. São dezenas de documentários, internacionais ou nacionais, que direcionam a atenção do público para temas de interesse. Em 2020, por conta da pandemia do coronavírus, o festival precisou se adaptar em uma edição digital, que chega ao fim neste domingo, 4.
Afinal, o principal ponto da edição digital é a democratização de acesso. Ainda que a organização tenha limitado a exibição para 1,5 mil visualizações, por conta de direitos autorais, o festival ficou mais amplo, mais aberto. Afinal, ao invés de ficar restrito ao circuito cinéfilo de São Paulo e Rio de Janeiro, o É Tudo Verdade poderia ser assistido com alguns cliques, de casa. Documentários de todo o Brasil para todo o Brasil.
Além disso, com a edição digital, sumiu a confusão que se instaurou nos últimos anos com a centralização de realização do festival no cinema do Instituto Moreira Salles. O local conta com apenas 151 lugares, uma tela distante e um sistema de som que não privilegia o filme. Sempre eram filas e mais filas para conseguir assistir aos filmes da programação. Alguns mais badalados, como ‘O Processo‘, deixaram centenas de fora em 2018.
Publicidade
Com isso, fica a reflexão: será que tendo uma edição tão mais democrática e original no digital, não seria melhor mantê-la nos anos seguintes? Afinal, em coletiva de imprensa realizada antes do início desta edição, o organizador Amir Labaki desconversou sobre edições futuras. Disse que já faziam um festival digital — no entanto, nunca foi feito com filmes inéditos, apenas com mostras especiais, com clássicos e filmes de outras épocas.
É Tudo Verdade musical e político
Assim como a organização do É Tudo Verdade 2020 foi tomada de acertos, a curadoria dos filmes também acertou. Na mostra competitiva brasileira, documentários sobre cantores e sobre política foram os principais destaques. No primeiro tema, longas como ‘Jair Rodrigues: Deixa que Digam’ e ‘Os Quatro Paralamas’ trouxeram visões de homenagem à esses importantes personagens da música popular brasileira. Emocionaram. ‘Boa Noite’, uma cinebiografia sobre o apresentador e narrador Cid Moreira, responsável por comandar o Jornal Nacional ao longo de décadas, também chamou a atenção. A cineasta Clarice Saliby conseguiu imagens realmente particulares do nonagenário, incluindo um escalda-pés bem à vontade, entrevistas dadas em faculdades de jornalismo e até mesmo a recriação de um momento em que Cid quase morreu na sauna de casa. No entanto, foram os filmes políticos e sociais que ficaram marcados. ‘Meu Querido Supermercado’, por exemplo, acertou em cheio ao mostrar o microcosmo dos funcionários de mercados. ‘Segredos de Putumayo’ revoltou com a história de povos indígenas escravizados no Brasil, no século XX. E o principal destaque do festival, ‘Libelu: Abaixo a Democracia’ fala sobre movimentos políticos do passado para ressignificar o presente.
‘O Espião’, destaque da mostra internacional
Quanto aos longas internacionais, a seleção foi um pouco mais inconstante. ‘Collective’ emocionou ao mostrar uma tragédia em uma boate na Romênia; ‘1982’ falou sobre o caráter midiático e até de manipulação advindo na Argentina com a Guerra das Malvinas; e ‘Rádio Silêncio’ trouxe uma interessante perspectiva sobre a falta de liberdade de imprensa no México, intensificada nos últimos governos populares e, é claro, populistas. No entanto, o grande destaque ficou com o documentário chileno ‘O Espião’, vencedor no San Sebastián International Film Festival e indicado em Sundance. Aqui, o espectador começa o filme com uma história estranha e que parece não chegar a lugar algum: um detetive particular quer contratar um idoso, na casa dos 80 anos, para que ele se infiltre em uma casa de repouso para descobrir se ali é praticado maus tratos. A partir daí, o que parecia uma trama de investigação curiosa, ‘O Espião’ vai se transformando em um filme emocional e reflexivo sobre solidão, velhice e abandono. Assim como ‘The Truffle Hunters’, é daquelas pérolas de documentários que não saem da cabeça e acabam trazendo uma reflexão que vai além da proposta inicial. Quem sabe, assim como o filme exibido no TIFF, este filmaço chileno não ganhe tração para o Oscar 2021.