Filmes

‘Confissões de uma Garota Excluída’ traz o DNA brasileiro aos filmes adolescentes

Nesta quarta-feira, 22, chega à Netflix o filme ‘Confissões de uma Garota Excluída’, adaptação do diretor Bruno Garotti para o livro de Thalita Rebouças. “Tem o colorido de uma versão da juventude local”, definiu o cineasta em entrevista ao Filmelier – que também conversou sobre o longa com Thalita e com parte do elenco: Klara Castanho, Marcus Bessa e Gabriel Lima.

O lançamento é uma comédia adolescente sobre Tetê (Klara Castanho), uma garota cheia de inseguranças e sem amigos, que acaba de mudar de escola e quer superar seus medos. A história fala de temas já conhecidos no universos teen, primeiras paixões, bullying e também autoaceitação.

Diferente de outras produções nacionais, o longa não cai no estereótipos norte-americanos e é ótimo ver esse tipo de narrativa se desenvolver dentro da realidade brasileira. Parte dos adultos no país cresceram com um padrão de filmes e seriados que falam da cultura estadunidense ou europeia. Nas décadas de 1980 e 1990, havia um déficit de conteúdos sobre essa parte cultural do Brasil que não fossem novelas.
Marcus Bessa, Klara Castanho e Gabriel Lima são os protagonistas de ‘Confissões de uma Garota Excluída’ (Crédito: Divulgação/Netflix)

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Nos anos 1980, John Hughes apresentou o universo dos adolescentes de uma forma tão certeira – e universal em certos pontos – que ganhou os Estados Unidos e o resto do mundo, incluindo os brasileiros. ‘Clube dos Cinco’ (1985), ‘Curtindo a Vida Adoidado’ (1986), ‘A Garota de Rosa-Shocking’ (1986), entre outros fizeram parte da vida de muita gente. Claro que de uns anos para cá tivemos mais exemplo como ‘Meninas Malvadas’ (2004), ‘Juno’ (2007) e ‘As Vantagens de Ser Invisivel‘ (2012), mas quase todos que vieram depois tem inspirações de Hughes.

O público adolescente também precisa de identidade nacional

Voltando ao âmbito nacional, temos pouquíssimos exemplos desse subgênero antes dos anos 2000. Ainda na década de 1990, as séries ‘Mundo da Lua’ (1991) e ‘Confissões de Adolescente’ (1994) eram populares, mas sabemos que os produtos importados ainda faziam mais sucesso. Molly Ringwald, Lindsay Lohan e Hillary Duff eram os nomes referências de produções teen – e ainda são: demorou para termos uma identidade nacional. Maisa Silva, Larissa Manoela e Klara Castanho agora estão se tornando atrizes relevantes no gênero que finalmente tem uma cara brasileira. Ao Filmelier, Thalita Rebouças contou que tipo de entretenimento que ela consumia quando era mais nova. “Filme nacional da Thalita criança e adolescente eram d’Os Trapalhões'”, começou ela. “Teve uma mãe que falou para mim em uma pré-estreia ‘você tem noção que está virando ‘Os Trapalhões’? Todo ano a gente espera um filme seu’ e eu fiquei tão amarradona porque esse foi o maior elogio que eu poderia receber.” “Eu esperava os filmes deles e eu acho muito bacana poder fazer parte disso. Essa pandemia me jogou na cara a importância que a arte tem, como livros e histórias podem mudar pessoas para melhor”, completou.
‘Meninas Malvadas’ é um dos filmes adolescentes mais cultuados dos anos 2000 (Crédito: Divulgação/Paramount Pictures)
A autora escreve livros infanto-juvenis há mais de duas décadas. Seu primeiro trabalho, ‘Traição entre Amigas’, foi lançado em 2000. “É muito bacana saber que há 20 anos eu faço companhia para tanto adolescente com os livros e que eles não enjoam de mim. Muito pelo contrário, eles continuam me acompanhando no cinema e nos streamings da vida.” Enquanto a literatura já vinha explorando o gênero teen, no cinema a partir de 2011 vimos o caminho ser pavimentado com ‘Desenrola’, de Rosane Svartman. A partir disso, veio a versão cinematográfica da série ‘Confissões de Adolescente’ (2014), ‘Hoje Eu Quero Voltar Sozinho’ (2014) e a tendência foi crescendo nos anos seguintes. O nome de Thalita Rebouças ficou ainda mais conhecido no meio com títulos como ‘Fala Sério, Mãe’ (2017), ‘Tudo por um Pop Star‘ (2018), ‘Ela Disse, Ele Disse‘ (2019) e ‘Pai em Dobro‘ tem todos o dedo da escritora: são adaptações de suas histórias. “A gente via ‘A Garota de Rosa-Shocking’ e ‘Curtindo a Vida Adoidado’. São filmes que vão estar para sempre na nossa memória por terem feito parte de um momento muito importante da nossa vida. Eu me sinto muito lisonjeada e privilegiada por ter sido escolhida pelos adolescentes e por me sentir companhia deles. É uma sensação de orgulho, fico muito feliz”, disse a escritora.

‘Confissões de uma Garota Excluída’: história universal em versão BR

Este ano, a Netflix deu uma guinada ainda maior no mundo adolescente lançando o já citado ‘Pai em Dobro’, ‘Diários de Intercâmbio‘ – que também tem direção de Bruno Garotti – e agora com ‘Confissões de uma Garota Excluída’. O cineasta, responsável por outros filmes teen como ‘Cinderela Pop‘ (2016) e o supracitado ‘Ela Disse, Ele Disse’, primeira parceria com Thalita Rebouças, também trouxe seus pontos sobre a identidade nacional nas produções jovens.
‘Confissões de uma Garota Excluída’ traz o DNA brasileiro às produções teen (Crédito: Divulgação/Netflix)
“É um privilégio e um desafio para gente corresponder às expectativas de um público que traz um retorno muito forte. Temos isso como responsabilidade quando estamos trabalhando. Amamos filmes como ‘Curtindo a Vida Adoidado’ e passamos a juventude toda assistindo às produções que se passam em ‘high school’, com armários e ônibus amarelos. Agora a gente tem a chance de contar histórias que são universais, mas têm o colorido de uma versão da juventude local, um DNA brasileiro”, contou Bruno Garotti.

Personagens que fogem dos clichês

Quanto ao tom do filme, ‘Confissões de uma Garota Excluída’ fala de temas importantes de forma uma divertida. A dona da história, Thalita Rebouças, contou que acha importante isso para chamar a atenção do público jovem. O elenco tem grandes nomes do cinema nacional: Júlia Rabello, Stepan Nercessian, Rosane Gofman e Alcemar Vieira. Eles trazem boa parte da comédia. “A leveza e bom humor estão sempre presentes nas minhas histórias e nas do Bruno também, por isso que a gente se dá tão bem”, disse Thalita. E Bruno Garotti concorda: “Está na personalidade da Thalita, trabalhar com ela é um entretenimento”. A trama é envolvente, não só por isso, os personagens são carismáticos e relacionáveis. A Tetê de Klara Castanho é uma adolescente que facilmente pode ter sido você ou uma amiga sua na época da escola. Assim como Davi (Gabriel Lima) e Zeca (Marcus Bessa). Os atores contaram como foi a construção deles, deixando-os livre de clichês.
Tetê e Zeca em ‘Confissões de uma Garota Excluída’ (Crédito: Divulgação/Netflix)
“A caracterização foi um cuidado muito grande para que a gente não caísse em só no estereótipo e na ideia do que de que seria uma menina nerd. Óbvio que existe o elemento do óculos, mas a gente acrescentou como ideia de que ela passa muito tempo lendo e estudando, acaba que a visão se desgasta e também tem o fator genético, já que o pai usa óculos. A gente foi acrescentando elementos que pudessem dar veracidade e que não fosse uma personagem datada”, contou Klara. Gabriel Lima também falou um pouco sobre como foi encarar o papel de Davi. “O maior desafio do Davi era trazer essa sensibilidade ele sem cair no tédio, porque ele é um garoto sensível, na dele e ele tem sim energia para conversar. Ele é um garoto nerd que tem muito orgulho de ser assim”, explicou ele. Já Marcus Bessa fez toda uma preparação para interpretar um personagem LGBTQ+. O maior receio era cair em estereótipos. “Eu não queria realmente que ficasse um personagem caricato e marcado. Ele éum ser humano que gosta de outro menino, então ele não precisa ser estereotipado como vemos em muitos filmes. Ele é alto-astral, divertido, conselheiro, amigo, sincero, então a última coisa que você é que ele é o personagem gay. Isso não deve importar pois é uma coisa normal. Isso foi muito difícil porque eu via filmes que eram muito exagerados e eu não queria trazer isso. Fui tentando trazer uma equilíbrio para montar um personagem que não fosse caricato”.

Você já pode conhecer o mundo de ‘Confissões de uma Garota Excluída’. Para saber mais informações do filme e encontrar o link para assistir online, é só clicar aqui!

Confira o trailer:

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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