Crítica de ‘The Mandalorian’: um final emocionante para uma 3ª temporada decepcionante
Crítica de 'The Mandalorian': um final emocionante para uma 3ª temporada decepcionante (Crédito: Lucasfilm)
Com o final da terceira temporada de ‘The Mandalorian’, spin-off de ‘Star Wars’ no Disney+, agora podemos fazer um julgamento completo sobre o resultado. Para o bem e para o mal, o oitavo e último episódio desta temporada apenas confirma o que já estávamos vendo: uma narrativa desarticulada e um potencial desperdiçado.
Confira nossa crítica do episódio final da 3ª temporada de ‘The Mandalorian’, com alguns spoilers, abaixo:
O episódio 8 da 3ª temporada desenvolve a batalha climática entre as forças mandalorianas unificadas de Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) para recuperar seu planeta natal, Mandalore, que foi ocupado pelos remanescentes do Império liderados por Moff Gideon (Giancarlo Esposito).
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Nenhuma surpresa e muito espetáculo aqui: o episódio, intitulado ‘O Retorno’ (‘The Return’) e dirigido novamente por Rick Famuyiwa, se desenvolve como poderia ser esperado de uma produção de ‘Star Wars’. Duelos de “sabres de luz” incluídos.
‘O Livro de Bo-Katan’
Dito até o cansaço em críticas de episódios anteriores: assim como o primeiro spin-off de ‘The Mandalorian’, ‘O Livro de Boba Fett’, tinha Din Djarin (Pedro Pascal) e Grogu como personagens secundários, o mesmo poderia ser dito desta terceira temporada. O mais simples teria sido intitulá-la ‘O Livro de Bo-Katan’ e nos livrarmos de problemas.
O episódio final da 3ª temporada nos traz duelos no estilo Mandaloriano (Crédito: Lucasfilm)Porque, essencialmente, o episódio 8 encerra a história que começa com Bo-Katan desde o final da 2ª temporada e gira completamente em torno dela na 3ª temporada. Inevitavelmente, sua queda e eventual reivindicação como líder de Mandalore nos conduz à luta contra o Império para recuperar seu lar. O resultado, visualmente falando, é espetacular e emocionante – mesmo que esses adjetivos exijam que perdoemos as escorregadas de lógica narrativa básica típicas de ‘Star Wars’. As forças de Bo-Katan e Gideon se enfrentam ao estilo mandaloriano, emocionantes combates aéreos que, até agora, só havíamos visto em animação. Embora, em contrapartida, seja decepcionante ver que a franquia não pode se despojar de um duelo de sabres de luz — ou armas similares — mesmo na ausência dos Jedi. Mesmo que o desfecho possa ser visto a quilômetros de distância — afinal, isso é ‘Star Wars’ e os vilões raramente vencem — é gratificante que o episódio 8 da 3ª temporada não sofra da “síndrome da franquia” ou da “marvelite” que claramente afetou vários de seus predecessores. Um padrão muito baixo, já que mesmo com um vilão medíocre (Giancarlo Esposito sai tão rápida e simplesmente quanto chegou), ‘O Retorno’ se concentra, nem mais nem menos, em encerrar a história de Bo-Katan.
Não fique muito animado: Moff Gideon tem menos impacto na história do que um vilão de desenho animado das manhãs de sábado (Crédito: Lucasfilm)Seu grande problema é aquele que os roteiristas, Dave Filoni e Jon Favreau, arrastaram durante toda a temporada: uma esquizofrenia narrativa em relação ao seu verdadeiro protagonista, o que acaba diluindo o impacto emocional do desfecho para ambos os personagens.
“Quem é o ‘Mandalorian’ do título?” foi uma pergunta tão constante quanto válida durante toda a 3ª temporada. Esta história é sobre Bo-Katan ou Din Djarin? Com esta última pergunta já respondida, surge outra: deveríamos nos importar com o protagonista original? O personagem de Pedro Pascal – já consagrado aqui como o pai adotivo definitivo da ficção televisiva – não passou de um personagem secundário em sua própria história, um acessório para os desígnios de Bo-Katan, que por sua vez, tem seu próprio acessório insubstancial em Grogu, também conhecido como “Baby Yoda”. Filoni e Favreau não souberam o que fazer com eles depois de reverter toda a sua evolução como personagens em ‘O Livro de Boba Fett’. A grande contradição é que o roteiro e a direção querem que o final da 3ª temporada seja sobre Din Djarin e não sobre Bo-Katan, que foi a verdadeira protagonista desses oito episódios. Num piscar de olhos, a celebração pela recuperação de Mandalore acaba e passamos para o que vem a seguir para “Mando” e “Baby Yoda”. Em outras palavras, a resolução emocional para Bo-Katan é cortada em favor de Din Djarin e Grogu, que não parecem merecer tanto destaque, já que, essencialmente, passaram a maior parte da temporada “no banco”. E onde eles terminam? Curiosamente, no mesmo lugar onde começaram há duas temporadas: os dois juntos em Nevarro, vivendo a vida de mercenários. Para o bem ou para o mal, parece que a quarta temporada será duas coisas: um retrocesso e, ao mesmo tempo, um retorno ao básico. Aguardemos mais dois anos.
Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.