Menos é mais: o futuro dos filmes originais da Netflix Menos é mais: o futuro dos filmes originais da Netflix

Menos é mais: o futuro dos filmes originais da Netflix

Após forte perda de assinantes, vem aí uma mudança na estratégia para os filmes originais da Netflix

Lalo Ortega   |  
6 de junho de 2022 13:35
- Atualizado em 9 de junho de 2022 13:07

Já se sabe que a Netflix não teve o melhor começo de ano: seu primeiro balanço financeiro de 2022 mostrou uma perda de 200 mil assinantes em todo o mundo (pela primeira vez em uma década), razão pela qual a empresa de streaming prepara mudanças estratégicas, como uma modalidade com publicidade e cobrança por senhas compartilhadas.

Dentro da organização, todas as divisões passaram por mudanças estruturais (incluindo a demissão de cerca de 150 funcionários). Ainda assim, a divisão de filmes originais da Netflix está no centro de uma série de grandes mudanças, motivadas pela lógica de custo-benefício.

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De acordo com fontes do portal The Hollywood Reporter, a nova estratégia se resume no seguinte: “A Netflix quer se concentrar em fazer filmes maiores, filmes melhores e lançar menos do que o lançado anteriormente em um ritmo ávido”. Nessa mudança de rumo, os primeiros cortes foram nas divisões de filmes familiares em live-action e filmes independentes (focados em produções com orçamentos inferiores a US$ 30 milhões).

Menos é mais: o futuro dos filmes originais da Netflix
Sede da Netflix em Hollywood, na Califórnia (Crédito: Divulgação/Netflix)

O que isso significa para os filmes originais da Netflix?

De acordo com o THR, não está totalmente claro o que virá em seguida – mesmo dentro da própria Netflix. No entanto, fontes dentro da empresa concordam que a aposta será “fazer a melhor versão de algo, ao invés de baratear por uma questão de quantidade”.

Isso não significa necessariamente que não haverá mais filmes “pequenos”. Mas basta ver os números para perceber a tendência clara: em vez de apostar em cinco filmes de 30 milhões de dólares cada, por exemplo, a Netflix optará por um único de 150 milhões. Os “filmes evento” são os que atraem assinantes, segundo o co-diretor da empresa, Ted Sarandos.

Quais são esses filmes? Um exemplo é ‘Agente Oculto’, dirigido pelos irmãos Russo (‘Vingadores: Ultimato’), que é apontado como o filme mais caro da Netflix até hoje (com orçamento de 200 milhões de dólares) e cuja estreia está marcada para julho.

Outro exemplo: as duas sequências de ‘Entre Facas e Segredos’, do diretor Rian Johnson, pelas quais a empresa pagou US$ 469 milhões. A estreia do 2º filme da franquia está prevista para o final de 2022.

'Agente Oculto': filme da Netflix com Ryan Gosling ganha data de estreia
‘Agente Oculto’, estrelado por Ryan Gosling, Chris Evans e Ana de Armas, é a produção mais cara da Netflix até agora (Crédito: Divulgação/Netflix)

No entanto, essa estratégia para os filmes originais da Netflix contrasta com o que parece ser o fim do que o THR chama de “projetos de vaidade”, citando ‘O Irlandês’, de Martin Scorsese, como exemplo, cujo orçamento girava em torno de US$ 150 a US$ 250 milhões, dependendo pra quem você pergunta.

“Essa tendência de fazer o que for preciso para atrair talentos e dar a eles carta branca [para fazer o que quiserem] vai desaparecer”, disse uma fonte. O THR observa que há exceções (“afinal, isso é Hollywood”).

Por que um filme dos Irmãos Russo, e não alguém como Scorsese? Basta dar uma olhada no histórico Top 10 dos filmes originais Netflix mais populares para nos dar uma ideia do que Sarandos quer dizer com “filmes evento”.

No momento em que escrevo, esse top histórico é encabeçado por ‘Alerta Vermelho’ e, com exceção de propostas como ‘A Barraca do Beijo 2’ (romance juvenil), ‘Imperdoável’ e ‘Bird Box’ (respectivamente, um drama e um terror com Sandra Bullock) e, curiosamente, o próprio ‘O Irlandês’; todos os filmes da lista são filmes de ação. Alguns deles são bem recentes como ‘O Projeto Adam’, lançado em março deste ano.

Menos é mais: o futuro dos filmes originais da Netflix
No momento da publicação, é assim que os 10 filmes em inglês mais populares da plataforma estão elencados (Crédito: Reprodução/Netflix)

Dos 10 melhores filmes, dois são estrelados por Ryan Reynolds e os outros dois são estrelados por Sandra Bullock. Os nomes de Chris Hemsworth, Dwayne Johnson, Gal Gadot e Mark Wahlberg também estão na mistura, sem mencionar o elenco de várias estrelas de ‘Não Olhe Para Cima’, liderado por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence.

Em suma, mesmo que haja exceções e as propostas “menores” não desapareçam totalmente, parece que o futuro dos filmes originais da Netflix está em apostar em blockbusters de ação cheio de celebridades.

O que acontecerá com os filmes “menores”?

É difícil prever o futuro, mas quando se trata de originais Netflix de baixo orçamento, a tendência parece ser que, embora não desapareçam completamente, veremos muito menos deles sendo lançados.

A verdade é que nem todos os filmes lançados pela plataforma são produzidos por ela, já que muitos deles são adquiridos. Filmes como o mexicano ‘Roma’, por exemplo, foram produzidos e depois vendidos para a gigante do streaming, que os leva como bandeiras para as temporadas de premiações. Não seria despropositado que a empresa continuasse com essas aquisições no futuro, embora em volume mais moderado, para complementar o catálogo.

Considerando que a legitimidade de um Oscar de Melhor Filme continua sendo uma questão pendente para a Netflix, não seria surpresa se a empresa adotasse um modelo semelhante ao dos estúdios tradicionais para seus lançamentos: blockbusters no verão e filmes menores de “prestígio” no outono, rumo à temporada de premiações.

Ataque dos Cães no Oscar Netflix
‘Ataque dos Cães’ foi o mais recente candidato da Netflix ao Oscar de Melhor Filme, mas perdeu para ‘No Ritmo do Coração’ da Apple (Crédito: Divulgação/Netflix)

A realidade é que os modelos de distribuição mudaram para sempre após a pandemia e continuam mudando. A plataforma MUBI, por exemplo, foi criada no modelo de um “outdoor” mensal com curadoria. Hoje, o serviço não apenas mantém essa listagem, mas tem uma catálogo e está experimentando lançamentos teatrais limitados.

Plataformas como a própria Apple TV+, por outro lado, sempre funcionaram sob o esquema de poucos lançamentos de filmes, apostando na qualidade ao invés da quantidade. Por outro lado, com seu poder como estúdio de cinema, a Warner Bros. pode experimentar o melhor do lançamento nos cinemas e do streaming, oferecendo suas grandes produções na HBO Max apenas 45 dias depois de chegarem às telonas.

Em outras palavras: os modelos de distribuição entre estúdios e plataformas continuam a flutuar bastante, mas há algo para todos. E a verdade é que nunca tivemos tantas opções para assistir a filmes de tantos tipos.

Pode ser que o plano para filmes originais da Netflix não seja o que você gosta. E tudo bem. Se for esse o caso, talvez seja hora de dar uma olhada em outras plataformas. Como já dissemos, não existe um único que seja melhor para todos, mas com certeza você poderá entender melhor como funciona o streaming e encontrar aquele que é melhor para você.

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Publicado primeiro na edição mexicana do Filmelier News.

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