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Crítica de ‘Homem-Formiga 3’: Marvel continua presa na “Fase 3” do UCM

“Para o terceiro [filme], eu disse ‘não quero que sejamos o filme para limpar o paladar'”, disse o diretor Peyton Reed à Entertainment Weekly sobre ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania‘ (ou ‘Homem-Formiga 3’, para nos poupar do trava-línguas). “Quero que sejamos o grande filme dos Vingadores”.

Afirmações típicas de um dia qualquer em uma turnê promocional da Marvel Studios. É ‘Homem-Formiga 3’ um grande filme evento para o Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), como os crossovers massivos dos Vingadores? Questionável, para dizer o mínimo, mas se entende a intenção por trás da afirmação. Trata-se, afinal de contas, da produção que inaugura a “Fase 5” da franquia e que apresenta, nada mais, nada menos, que o suposto sucessor de Thanos (Josh Brolin) como o grande vilão a ser vencido: Kang, o Conquistador (Jonathan Majors).

Em outras palavras: há muito nos ombros de Scott Lang (Paul Rudd) e seus diminutos companheiros de aventuras (uma decisão estranha, considerando que Homem-Formiga não é exatamente um dos pesos pesados da franquia). Dito isto, o terceiro filme do Homem-Formiga é um dos esforços mais competentes da Marvel Studios após ‘Vingadores: Ultimato‘. Exceto quando tropeça nas ambições narrativas e nos vícios já típicos de sua própria franquia.

‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ continua lidando com as consequências de ‘Ultimato’

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A história de ‘Homem-Formiga 3’, como muitas outras entregas do UCM desde 2019, retoma a história de seus protagonistas após ‘Ultimato’ – um filme, que cabe assinalar, está prestes a completar quatro anos de seu lançamento. Scott Lang (Rudd) lida com a doce fama de ser um super-herói que salvou o mundo. No entanto, lamenta todos os anos que perdeu na vida de sua filha, Cassie (aqui interpretada por Kathryn Newton), agora uma adolescente brilhante.
O primeiro ato de Quantumania vê os personagens explorando o Reino Quântico (Crédito: Marvel Studios)
No entanto, essa genialidade científica juvenil tem consequências quando ela, Hope Van Dyne (Evangeline Lilly), e o pai dela, Hank Pym, inventam um dispositivo que envia sinais para o Reino Quântico – uma espécie de universo que existe a nível subatômico, fora do espaço-tempo. Devido a uma falha, todo o grupo fica preso no Reino Quântico e, em sua busca por um caminho de volta para casa, eles devem enfrentar Kang (Majors), um tirano viajante do tempo que tem um passado com Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer). Dada sua premissa, Quantumania oferece o potencial para o que deveria ser o design de produção mais alucinante no UCM. O mundo subatômico do filme foi (superficialmente) comparado com o universo de Star Wars, e a comparação é compreensível: o primeiro ato do filme vê os protagonistas explorando o que bem poderia ser um planeta alienígena no espaço exterior, onde extravagantes humanoides falam línguas estranhas e naves futuristas cruzam o céu junto com criaturas coloridas. A descarada intenção de imitar a cantina de Mos Eisley, no entanto, se desvanece rapidamente. Não só porque os designs de personagens, criaturas e cenários não demoram a se tornar uma massa amorfa e indistinguível de CGI que lembra o pior de ‘Pequenos Espiões’, mas porque a trama acaba virando para o passado de Janet com Kang, e a eventual ascensão deste a tirano do Reino Quântico.

‘Homem-Formiga 3’ é a prova de que o UCM é seu próprio grande obstáculo

Assim, a busca do grupo para voltar para casa se transforma em uma luta para deter Kang e evitar que ele libere sua cruzada para destruir todos os multiversos. Esta linha narrativa tem sido anunciada com pompa e circunstância desde a série ‘Loki’, reiterada ad nauseam em filmes como ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa‘ e ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura‘; e apontada pela própria Marvel Studios como o “destino final” de suas fases 5 e 6. ‘Homem-Formiga 3’ dá um passo nessa direção ao apresentar, agora sim como deve ser, a Kang o Conquistador. No entanto, chegando à conclusão do filme, o vilão não desempenha um papel grande o suficiente na história para estabelecer uma grande narrativa em torno dele.
Jonathan Majors como Kang é um vilão intimidante, mas o roteiro não o leva muito longe (Crédito: Marvel Studios).
Essa é, para o bem e para o mal, o curioso paradoxo que o MCU construiu ao seu redor, dada sua própria natureza. Por um lado, uma crítica comum a essas produções é que, em vez de contar sua própria história, cada nova entrega parece mais preocupada em estabelecer linhas narrativas para os próximos filmes. Nesse sentido, ‘Quantumania’ é uma das entregas que funciona melhor desde ‘Ultimato’: em termos gerais, esta é a história das famílias Lang/Pym e até fecha o círculo iniciado pelo primeiro Homem-Formiga com sua história sobre pais e filhas. Por isso, é muito mais agradável do que ‘Wakanda Para Sempre‘, que está muito preocupada em estabelecer novos personagens e expandir a mitologia, por exemplo. A contraparte disso é que ‘Homem-Formiga 3’ não faz muito para avançar a narrativa geral do MCU. O que, em si e em outras circunstâncias, não seria um grande problema. Mas esta é uma franquia construída sobre histórias interconectadas. Entre séries de televisão e filmes, sua Fase 4 teve mais entregas do que qualquer uma das fases anteriores. Mas agora, já no início da quinta, não sabemos muito mais sobre o rumo que a grande história vai tomar. Soa como se o MCU não pudesse ganhar em nenhum cenário? Sim. É a consequência necessária de ter lançado tantos personagens e histórias e ser obrigado a fazer algo com eles.

Como ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ afeta a Fase 5 do MCU?

Em resumo, além das cenas pós-créditos, ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ não acrescenta tanto quanto deveria para o progresso do MCU. Temos Cassie Lang como heroína, o que reforça a eventual estreia dos Jovens Vingadores em algum momento. Sabemos – como temos sabido há algum tempo – que Kang será o grande rival a ser vencido. No entanto, infelizmente, este filme também não consegue vendê-lo como a grande ameaça que deveria ser. Isso não se deve a que Majors não seja imponente no papel – ele é -, mas sim porque a Disney parece ser terminalmente alérgica aos riscos. Não há consequências em Homem-Formiga 3 e, durante quase todo o filme, acontece o que já sabemos: o vilão aparece, os heróis o golpearão (com algumas piadas no meio) e terão um final feliz. Portanto, não há tensão nem ameaça. Conclusão? ‘Homem-Formiga 3’ funciona melhor quando é uma história sobre uma família lutando para voltar para casa, liderada pelos sempre carismáticos Paul Rudd e um papel surpreendentemente substancial para Michelle Pfeiffer. Mas para os fãs da Marvel esperando o grande “salto quântico” (desculpe) para a história do MCU: não é este o caso.

Confira o trailer de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania:

‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ chegará aos cinemas em 16 de fevereiro. Para saber mais sobre o filme e comprar ingressos, acesse aqui.

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Lalo Ortega

Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.

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