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Por que ‘Hotel Transilvânia 4’ vai para o Amazon Prime Video e não para a Netflix?

Nesta semana, a Variety informou com exclusividade que a Sony abriu mão de lançar ‘Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão’ nos cinemas. O motivo? O avanço da variante delta do SARS-CoV-2, vírus causador da covid-19. Com cenário de incerteza nos cinemas, o estúdio preferiu contar com o dinheiro certo ao ceder a produção para a Amazon, que a lançará no Prime Video.

Além da frustração para quem queria assistir ao longa-metragem na tela grande, muitos ao lado dos filhos, a notícia também levantou um questionamento de alguns dos leitores do Filmelier: por que o Prime Video e não a Netflix?

Para começar, é importante entender o motivo da desistência da Sony Pictures. A quarta parte da franquia monstruosa era uma grande aposta para o estúdio em 2021. No entanto, mesmo que não haja (ainda) maiores restrições nos cinemas dos Estados Unidos, há um aumento do medo do público com a nova onda da covid em todo o mundo.

Isso, somado a um calendário de estreias congestionado até o final do ano, fez a empresa japonesa desistir da estreia em outubro. Agora, ainda de acordo com a Variety, ‘Hotel Transilvânia 4’ chegará em todo o mundo (menos a China) direto no serviço de streaming da Amazon, em data ainda a ser anunciada.

A relação entre Sony e Netflix

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A Sony e a Netflix possuem uma relação de longa data. A gigante do entretenimento e da tecnologia não possui uma plataforma de straaming própria, então essa relação se tornou um caminho importante para desaguar os seus lançamentos em tempos de pandemia e de cinemas combalidos.
A caixa d´água dos estúdios da Sony Pictures, em Culver City, Califórnia (Foto: Renan Martins Frade)
Nos últimos meses, por exemplo, o estúdio repassou a distribuição de alguns filmes, inclusive animações, para a Netflix – sendo ‘Paternidade‘, ‘A Jornada de Vivo‘ e ‘A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas‘ três grandes exemplos. São longas que não viram os cinemas, foram direto para a plataforma norte-americana e ganharam o selo de “Netflix filme”. Além disso, nos EUA, a Sony fechou para 2022 um acordo de distribuição, passando para a Netflix o que o mercado chama de “primeira janela de TV paga”. Ou seja, a oportunidade de lançar os filmes do estúdio cerca de seis a nove meses após a estreia nos cinemas. Esse contrato também compreende uma obrigação de “oferta inicial”, no qual a Sony se compromete a oferecer primeiro para a Netflix qualquer filme que resolva lançar direto no streaming, pulando os cinemas.

Por que então ‘Hotel Transilvânia 4’ no Prime Video?

“Então por que ‘Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão’ não foi para a Netflix?”, você deve estar se perguntando. Acontece que a Sony é obrigada a oferecer o título, mas não há obrigação das duas empresas entrarem em acordo – e os detalhes divulgados pela Variety dão indícios do que aconteceu. Quando assume um filme para chamar de seu, a Netflix possui uma série de regras, digamos assim. A principal delas é a exclusividade na distribuição, que passa a ser totalmente da gigante do streaming. Filmes como ‘Paternidade’ e ‘Os 7 de Chicago‘ (esse último originalmente da Paramount) perdem totalmente a identidade do estúdio original. Em troca de um bom pagamento, se tornam produções 100% da plataforma de streaming. Isso funciona muito bem para filmes que são tiros no escuro, sem serem de franquias já estabelecidas – ou que não possuem potencial de serem explorados em outros produtos, de qualquer forma. Só que esse não é o caso de ‘Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão’. Essa é a quarta parte de uma série de filmes já famosa, com inúmeros produtos derivados, licenciamento e oportunidades de explorar outras janelas de exibição. Coisas que a Sony não conseguiria, provavelmente, manter em um acordo com a Netflix. É aí que entra a Amazon. A empresa fundada por Jeff Bezos é, habitualmente, muito mais flexível nestes acordos, licenciando conteúdo “original” para o Prime Video sem exigir ter as outras janelas de exibição. É comum ver longas estrearem nos cinemas e irem para a plataforma com o selo de “exclusivo”, por exemplo.
‘Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão’ era um dos filmes mais aguardados de 2021 nos cinemas (Crédito: divulgação / Sony Pictures)
Ainda de acordo com a Variety, a Amazon pagou mais de US$ 100 milhões apenas pelos direito de lançar primeiro e explorar ‘Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão’ com exclusividade no streaming por assinatura. Dessa forma, a Sony manteve para si direitos muito lucrativos para esse tipo de produção, compreendendo a oportunidade de explorar o filme no “entretenimento em casa” (DVD, Blu-ray e as plataformas de streaming de aluguel e compra), TV linear (paga e aberta) e nos cinemas da China (o maior mercado do mundo). Um tipo de acordo que não é aquilo que a Netflix tem procurado – ou pelo qual, ao menos, não pagaria um valor tão alto. Não que seja impossível de acontecer: a Universal vendeu ‘Vampiros x The Bronx‘ para a empresa de Los Gatos e manteve as outras janelas de exploração para si. Ressalta-se, também, que não é o único filme da Sony que ficou de fora dos cinemas e da Netflix. A nova versão de ‘Cinderella’ (estrelada por Camila Cabello) também vai para o Prime Video. Não há tantos detalhes sobre o acordo, mas a presença da protagonista, caracterizada, em publicidade da Mercedes-Benz indica que podem haver desdobramentos comerciais no acordo. O que tudo isso quer dizer? Que não há caminho único no streaming, e os grandes produtores de conteúdo (principalmente aqueles que não possuem plataformas próprios em seus grupos) vão usar a disputa do VOD para conseguirem os melhores acordos – sem o menor pudor de pular de galho em galho. Ao público que quer acompanhar tudo isso, mas não tem bolso para tanto, resta também o caminho de seguir infiel, alternando os streaming de acordo com a movimentação do conteúdo.

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

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