Mercado de streaming

Netflix: “Estamos cobrando aquilo que acreditamos que valemos”, diz executivo

Normalmente, as empresas de tecnologia – principalmente aquelas que começaram como startups e ainda mantém esse espírito dentro de suas paredes – não costumam ter muitos dogmas ou regras escritas em pedra. Curiosamente, esse não é o caso da Netflix: a gigante do streaming já disse algumas vezes, por anos, que não faria algumas coisas. Entre elas, entrar na (cara) disputa de direitos de transmissões esportivas ao vivo ou ter publicidade em sua plataforma.

Agora, a empresa americana está sendo pressionada a mudar de ideia sobre uma dessas coisas – e já começou a modular o seu discurso sobre o assunto. Anunciantes na plataforma? Não está hoje nos planos, mas…. “Nunca diga nunca”.

Em uma conferência com investidores organizada pela Morgan Stanley, Spencer Neumann, que é CFO (chefe financeiro) da Netflix, foi questionado sobre a possibilidade do serviço ter, no futuro, uma versão mais barata, mas bancada com publicidade. Na última sexta, 4, a Disney+ anunciou que lançará essa nova modalidade de assinatura ainda em 2022.

Publicidade

“É difícil pra gente ignorar gentilmente o que os outros estão fazendo, mas não faz sentido para nós”, disse Neumann sobre o anúncio recente da Disney.
Sede da Netflix em Los Gatos, Califórnia (crédito: divulgação / Netflix)
“Não é como se tivéssemos uma religião contra a publicidade, para deixar claro”, continuou o executivo. “Mas não é algo que está em nossos planos agora… Nós temos um modelo de assinatura escalável bem legal, e, novamente, nunca diga nunca, mas não é esse o nosso plano.” “No final do dia, estamos cobrando aquilo que acreditamos que valemos”, acrescentou o executivo. No Brasil, atualmente, a plataforma custa R$ 39,90 no plano padrão, R$ 25,90 no básico e R$ 55,90 no premium.

A solução para a Netflix?

O AVOD – ad-supported video on demand, ou vídeo sob demanda bancado por publicidade – está se popularizando em todo o mundo. Existem plataformas 100% gratuitas, sem qualquer assinatura, como a Pluto TV, Vix e Net Movies. Porém, em mercados como EUA e Índia, vem se expandindo o modelo híbrido, onde plataformas oferecem uma assinatura mais barata em troca de publicidade. É o caso, na terra do Tio Sam, do Paramount+, do ESPN+ e do Hulu – além do já citado Disney+. Essa é a primeira vez que o “não” sobre publicidade chega junto de um “mas” – o que deixou os investidores animados. Afinal, a desaceleração do crescimento da plataforma nos EUA, junto com os altos investimentos na produção de conteúdo no resto do mundo, estão preocupando Wall Street. Até por isso, a Netflix perdeu 50% do valor de suas ações desde novembro passado, mesmo tendo alcançando a impressionante marca de 222 milhões de assinaturas – ainda que o crescimento esteja desacelerando desde o ano passado. Na visão da empresa, há muito ainda para crescer: são cerca de 1 bilhão de lares com banda larga em todo o mundo, com exceção da China (onde não operam).
De acordo com a Nielsen, a Netflix tem menos de 10% do “share” do tempo dos norte-americanos frente à TV (crédito: divulgação / Netflix)
Um plano mais barato com publicidade poderia ser parte da solução. O valor menor chamaria mais espectadores eventuais, que não se sentem atraídos pela assinatura cheia, ou para quem tem menor renda. Além disso, abriria as portas da publicidade dentro da plataforma – o que poderia render uma receita ainda maior do que teriam com o plano normal. Além disso, é possível imaginar que o famoso algoritmo da Netflix, o queridinho da empresa, poderia ajudar a ser mais assertivo na entrega da publicidade. Afinal, da mesma forma que a plataforma sugere novos filmes e séries a partir do que você assiste e gosta, ela tem como entregar anúncios em vídeo baseado nesse mesmo comportamento, aumentando a efetividade e o engajamento. Porém, o discurso geral de Spencer Neumann ainda é que a Netflix não tem planos do tipo. Poderia ser uma jogada para despistar, mas a empresa com sede em Los Gatos, Califórnia, costuma ser relativamente transparente sobre seus planos a médio prazo. Eles, por exemplo, ficaram por anos dando indiretas e deixas sobre o universo dos games, até que finalmente anunciaram jogos dentro da plataforma. Na prática, tudo dependerá dos resultados do Disney+. Se a plataforma do Mickey obter números positivos com o chamado AVOD fora dos EUA e for seguida por HBO Max e Paramount+, por exemplo, a Netflix se sentirá ainda mais pressionada a seguir o mesmo caminho para continuar competindo na chamada “guerra do streaming”. A ver. Com informações da Reuters e da Variety.

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

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