Mercado de streaming

Artigo: Por que o Amazon Prime Video custa só R$ 14,90 ao mês?

O mais recente movimento no streaming é o do plano de assinatura que, em troca de publicidade, custa menos ao usuário. Algumas plataformas já fazem isso nos EUA e o Disney+ anunciou que contará com esse modelo a partir do fim de 2022. Porém, começa a surgir o questionamento: por que o Amazon Prime Video já custa muito menos que os concorrentes, apenas R$ 14,90 em seu plano mensal – e sem anunciantes?

A resposta curta: é que a Amazon não vende uma plataforma de streaming. Ela é apenas a “desculpa”, o chamariz, para te vender outras coisas dentro do pacote Amazon Prime – principalmente produtos na loja online.

Para começar, é primeiro preciso entender o movimento que está acontecendo, hoje, no video on demand. Até aqui, no Brasil, plataformas como Netflix e concorrentes oferecem um modelo de assinatura no qual você paga para assistir a filmes e séries. É um preço fechado: você desembolsa o valor e eles pegam esse dinheiro para investir na produção ou aquisição de mais conteúdo. Simples assim.

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Atualmente, essa assinatura está em R$ 39,90 no plano padrão da gigante do streaming, enquanto o Disney+ sai por R$ 27,90, o mesmo da chamada opção multitelas do HBO Max, por exemplo.
Amazon Prime Video: você chega pelo conteúdo de filmes e séries, mas acaba também usando mais o e-commerce (crédito: reprodução / Amazon)

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A novidade é que serviços como Hulu e Paramount+ (apenas nos Estados Unidos) possuem uma assinatura mais barata. Em troca, esse plano traz publicidade. Varia um pouco entre as plataformas, mas basicamente são anúncios antes e durante o filme e a série, tal qual a TV linear. Esse valor a menos que sai do seu bolso é “inteirado” pela publicidade. Aliás, se a estratégia for bem feita, dá até para ganhar mais do que a assinatura cheia. De acordo com The Hollywood Reporter, a receita média por assinante do Hulu é de US$ 12,96, mesmo com a maioria dos assinantes estando no plano de US$ 7. Esses anúncios podem ser intrusivos, sim, mas se você não quiser vê-los é só assinar o plano regular. É uma possibilidade que nunca existiu com a TV paga, por exemplo.

Ok, e o Amazon Prime Video?

A Amazon adota um modelo completamente diferente. Para começar, a empresa é uma gigante do e-commerce e de serviços. Ela não é como a Netflix, que atua apenas como plataforma de streaming, ou como grandes grupos de mídia como Paramount, WarnerMedia e Disney. O Amazon Prime Video não é, e provavelmente nunca será, o principal negócio da companhia fundada por Jeff Bezos. É por isso que o serviço de streaming faz parte de um pacote maior, chamado Amazon Prime. Nele, os assinantes possuem diversos serviços além da plataforma de vídeo, como uma de música (Amazon Music Prime, ainda que com catálogo limitado) e uma de leitura (Prime Reading, livros e revistas). Esse pacote tem um preço subsidiado. O custo e o investimento da companhia para ter todo esse conteúdo para cada usuário é muito maior do que os R$ 14,90 mensais do Amazon Prime. Para não dizer que a empresa de Seattle está sozinha no formato, a estratégia lembra a da Apple. O Apple TV+ custa também R$ 14,90 por mês, ainda que com um catálogo bem menor em volume. A plataforma não está lá para ser, sozinha, a fonte de receita, mas parte de um pacote que busca atrair mais gente para o ecossistema de produtos e serviços da Apple. Outra empresa ligada à área de comércio online que faz algo parecido é o Mercado Livre, que, mesmo sem ter uma plataforma própria, oferece descontos no Disney+, Star+, Paramount+ e HBO Max para quem é usuário do programa de pontos deles, incentivando a recorrência nas compras. Não que as outras plataformas não pratiquem alguma forma de “preço predatório” – ou seja, cobrando menos na assinatura e buscando crédito no mercado para cobrir esses investimentos, enquanto querem superar os adversário na guerra do streaming. Ainda assim, é necessário ser sustentável nesse modelo, para não quebrar no meio do caminho. Só que a lógica da Amazon é completamente diferente. Ela quer te atrair com filmes como ‘Hotel Transilvânia: Transformonstrão‘, ‘Apresentando os Ricardos‘ e ‘Jogo Perigoso‘ para, depois, você utilizar aquele que é verdadeiro trunfo para eles: o frete grátis.
Em termos gerais, é mais fácil vender para você a oportunidade de assistir a ‘Hotel Transilvânia: Transformonstrão’ do que ter frete grátis (crédito: divulgação / Amazon)
Sem a cobrança custo no envio das compras, o assinante do Prime é fidelizado, consumindo ainda mais por lá nesse (também) predatório mundo do e-commerce. Nessa estratégia, a companhia de Bezos já atraiu mais de 200 milhões de assinantes para o Amazon Prime em todo o globo, com cerca de 175 milhões assistindo aos vídeos do Prime Video. Em termos de gasto com conteúdo, as cifras nem são tão diferentes assim. Enquanto estima-se que a Netflix investiu US$ 13,6 bilhões em conteúdo em vídeo em 2021, a Amazon ficou na casa dos US$ 11 bilhões. Em alguns casos, vale dizer, a empresa de Bezos pratica um modelo único no mercado de SVOD, o de streaming por assinatura. Enquanto os concorrentes apenas licenciam conteúdo de terceiros, pagando um valor para ter esse filme ou série por um período determinado, o Prime Video transforma o distribuidor em parceiro do risco, em alguns casos – disponibilizando esse conteúdo na plataforma sem embolsar nada em um primeiro momento, mas depois recebendo por cada minuto assistido pelo assinante, tal qual faz o YouTube. Outro ponto é que, hoje, o Prime Video possui um modelo híbrido para o usuário, virando também um market place do video on demand. Lá, para além dos R$ 14,90 ao mês, é possível alugar filmes e assinar canais de streaming, em transações com maior margem de lucro para a empresa e seus parceiros. Tudo isso permite que o serviço de streaming da Amazon consiga esse preço extremamente agressivo – e sem publicidade. Sim, há “anúncios” antes dos filmes e séries do Amazon Prime Video, mas aquilo é o que o mercado chama de “pre-roll”: chamadas de outros conteúdos, em busca de aumentar a retenção do usuário. A Netflix faz a mesma coisa, só que com outro formato: é o autoplay de um trailer após você ver o filme, por exemplo. Esse, porém, é a unica coisa que a empresa fundada por Reed Hastings consegue copiar. Enquanto o streaming for o único negócio dela, subsidiar o preço a esse ponto se torna inviável. É por isso que muita gente em Wall Street acredita em uma diversificação de negócios da Netflix no futuro. Ou, quem sabe, uma fusão ou aquisição com outro grupo de mídia, ou até mesmo de serviços. Será? Atualizado em agosto de 2022 por conta do novo preço do Amazon Prime.

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

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Renan Martins Frade

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