“O filme ficou mais atual após a pandemia”, diz diretora de ‘Três Verões’ “O filme ficou mais atual após a pandemia”, diz diretora de ‘Três Verões’

“O filme ficou mais atual após a pandemia”, diz diretora de ‘Três Verões’

Dirigido por Sandra Kogut e com Regina Casé, ‘Três Verões’ conta a história de empregados da mansão de uma família envolvida com escândalos políticos

Matheus Mans   |  
16 de setembro de 2020 12:22
- Atualizado em 30 de setembro de 2020 17:39

A ideia era que ‘Três Verões’, da cineasta Sandra Kogut e estrelado por Regina Casé, chegasse aos cinemas no começo de março. Afinal, já estava em cartaz na França. Era o momento de chegar ao Brasil. No entanto, veio a pandemia do novo coronavírus, os cinemas fecharam e o filme ficou sem data. Até agora, quando estreia exclusivamente na plataforma do Telecine.

São mais de cinco meses de atraso. Cinco meses depois que a equipe começou a divulgação do longa-metragem para imprensa, público e exibidores. No entanto, ao ser questionada sobre esse atraso, Sandra Kogut dá uma percepção diferente. “Eu acredito que o filme ficou mais atual após a pandemia”, conta a diretora, em entrevista por telefone ao Filmelier.

‘Três Verões é protagonizado por Regina Casé (Crédito: Divulgação/Telecine)

E é um fato: a discussão que vem à tona com ‘Três Verões’ ganhou força nos últimos tempos. Afinal, como o próprio nome diz, o filme de Kogut (‘Campo Grande’) acompanha uma casa por três estações. Três verões. Mas ao invés de focar no patrão, preso por corrupção, o filme mostra detalhes da vida dos empregados, principalmente da governanta Madá (Casé).

Tempo e espaço

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Assim, ao longo desses longos espaçamentos de um ano, o roteiro da própria Sandra Kogut questiona: depois que os patrões são presos, o que acontece com aqueles personagens invisíveis? O que acontece com a vida do motorista, da empregada, da governanta, da secretária? Como ficam os sonhos desses empregados que, no final das contas, nada tinham a ver?

“Na época que escrevi o roteiro, o Brasil inteiro estava mergulhado em escândalos. Queria falar desse Brasil desses personagens”, conta Kogut ao Filmelier. “Agora, tudo ficou mais agudo, mais urgente. A desigualdade, as relações de classe, os invisíveis. Os sinais estavam todos ali, nesse projeto neoliberal, onde é cada um por si, onde o coletivo está muito ameaçado”.

Realização de ‘Três Verões’

Para mostrar esse impacto na vida dos empregados e fazer as passagens de tempo se tornarem críveis, Kogut trabalhou muito com os cenários. Afinal, ainda que a maior parte do filme se passe na mansão dos patrões, era preciso mostrar um pouco mais dos detalhes do abandono da casa, da falta de dinheiro. Afinal, uma vez presos, donos não tinha como se manter.

“Esse filme a gente fez com pouquíssimo dinheiro. Em pouco tempo. Mas tinha uma energia coletiva com todo mundo compartilhando da vontade de falar disso”, diz Kogut que, além de Casé, contou com Otávio Müller, Gisele Fróes e Rogério Fróes. “Ao invés de misturar atores e não-atores, como antes, trabalhei com quem eu queria. Foi um encontro muito feliz”.

Agora, a cineasta diz estar entusiasmada com os próximos passos do filme. Afinal, ‘Três Verões’ é o primeiro filme com o selo de exclusivo do Telecine. Fora do Brasil, enquanto isso, também está tendo bons resultados. Na França, saltou de 70 para 90 salas após a reabertura dos cinemas. Também está em exibição em países vizinhos como Holanda, Polônia e Espanha.

“Quando você faz um filme, você quer que chegue no maior número de pessoas. A gente achou que ia ser nas salas de cinema. Mas foram outros caminhos”, diz ela. “Estou muito animada. O drive-in ressurgiu, o streaming cresceu durante a pandemia. É mais uma maneira de ver filmes. Estou super animada com a possibilidade desse filme nascer aqui no Brasil”.

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