Poucos filmes representam uma virada tão espetacular na vida de um ator e cineasta quanto ‘Rocky: Um Lutador’. Sylvester Stallone, já desenganado da carreira e tendo atuado em soft porns, concebeu no quartinho em que vivia um roteiro sobre a história de superação de Rocky Balboa, um boxeador tão desenganado quanto o próprio roteirista, mas que via a sorte finalmente lhe sorrir. Inspirado por lendas do boxe como Rocky Marciano, Joe Frazier e Muhammad Ali, Stallone escreveu tudo em apenas três dias e meio e vendeu o script para a United Arts. O estúdio inicialmente queria nomes como Robert Redford e Burt Reynolds para o papel-título, mas Sly convenceu os produtores a colocarem ele mesmo como o protagonista. O orçamento foi baixo mesmo para a época, justamente por causa do elenco, e o compositor Bill Conti teve uma verba de US$ 25 para compor toda a trilha sonora do longa - e, dali, tirou o tema ‘Gonna Fly Now’, hoje um clássico e que ficou em número um na parada da Billboard. Não preciso nem dizer: ‘Rocky’ se tornou um sucesso estrondoso e surpreendente, vencendo três Oscars - incluindo de Melhor Filme.
Depois do sucesso estrondoso e surpreendente de ‘Rocky: Um Lutador’, a United Arts deu luz verde para uma continuação, lançada nos cinemas três anos depois do longa original. Dessa vez, Sylvester Stallone assumiu a direção. A história lida com os desdobramentos da primeira luta, na qual o boxeador Apollo Creed (inspirado na lenda Muhammad Ali) se deixou levar pela festa e ganhou apenas por pontos - o que o leva a propor uma revanche e, dessa vez, se preparar e lutar a sério. Com orçamento sete vezes maior que o primeiro longa (mas ainda modesto para os tempos atuais), o filme sabe mesclar muito bem as dificuldades da vida do protagonista com os dilemas da carreira de atleta em mais uma história de superação. Ainda que não seja uma produção brilhante e tenha seus problemas, sabe muito bem explorar e expandir os acontecimentos da primeira parte, além de trazer um clímax empolgante.
Com o segundo filme da série ‘Rocky’ fazendo uma bilheteria muito próxima ao do primeiro, a United Arts (a essa altura já unida à MGM) aprovou um terceiro longa-metragem para a franquia, mais uma vez dirigido por Sylvester Stallone. Agora, a história troca o contexto do fracassado em busca da glória por um homem que é vítima de seu próprio sucesso, preso em uma rotina criada apenas para mantê-lo como o grande campeão, mas sem desafios. Isso até surgir o vilão da vez: Clubber Lang, interpretado por Mr. T (que ficou famoso na luta livre e na série ‘Esquadrão Classe A’). Agora, Rocky recorre ao seu ex-desafiante, Apollo Creed, para ajudá-lo no treinamento. ‘Rocky III’ está (muito) longe do brilhantismo do filme original, mas tem o mérito de procurar inovar nas motivações de seu protagonista. Além disso, introduz um novo tema musical épico: ‘Eye of Tiger’, música da banda Survivor inspirada em uma das falas de Creed e que se transformou em enorme sucesso na época, inclusive alcançando o posto de tema musical das lutas de boxe na Rede Globo nas eras de Mike Tyson e Maguila.
Com a Guerra Fria ainda em voga, Sylvester Stallone usou-a como pano de fundo para ‘Rocky IV’, longa produzido, dirigido e estrelado por ele próprio. E esse é o principal erro do filme: traz uma visão maniqueísta do conflito, ainda que toque em dois temas relevantes: o falso amadorismo dos atletas soviéticos e o uso de substâncias ilegais por eles. O vilão da vez é interpretado por Dolph Lundgren, em seu primeiro papel de destaque em Hollywood. Mesmo que com acontecimentos marcantes para mais uma vez evocar a superação (e que, depois, serão retomados em ‘Creed II’), ‘Rocky IV’ apenas recicla elementos dos três filmes anteriores e nada agrega de novo. Ainda assim, tem o mérito de continuar a evolução do protagonista e funciona como uma diversão despretensiosa para quem gosta da farofa de ação que eram os anos 1980. Porém, tudo muito longe do brilhantismo de ‘Rocky: Um Lutador’.
‘Rocky V’ é, certamente, o ponto mais baixo da franquia de Rocky Balboa, o Garanhão Italiano. Dirigido por John G. Avildsen (o mesmo de ‘Rocky: Um Lutador’) e mais uma vez com roteiro de Sylvester Stallone, o filme tira o personagem-título de combate por conta de problemas de saúde causados pelo clímax de ‘Rocky IV’, colocando-o como o técnico de Tommy Gunn, um rebelde talento do boxe. Falta liga na tentativa de “volta às origens” na Filadélfia, é quase impossível ao espectador se simpatizar com Tommy e ver Stallone quase como um coadjuvante não ajuda. Além disso, o clímax do longa-metragem é uma luta de rua entre os dois. Infelizmente, o fracasso da produção colocou a franquia em um limbo, do qual demoraria muito a sair. Indicado apenas para quem é fã de filmes de boxe e que, principalmente, está maratonando toda a franquia - ainda que pouco dessa história seja aproveitado no que virá depois.