Com uma oferta de filmes e séries derivadas de grandes franquias de entretenimento, é inegável que o Disney+ é uma plataforma de streaming com força para competir com a Netflix. No entanto, a plataforma do Mickey Mouse não enfrenta esta última exatamente nos mesmos termos, graças ao seu modelo de lançamento de estreias, pelo Premier Access.
Os usuários da plataforma já devem ter notado: suas assinaturas dão acesso a praticamente todo o catálogo da plataforma, com exceção de lançamentos selecionados e cobiçados, como ‘Raya e o Último Dragão‘ e ‘Cruella‘. Para acessá-los, deve ser paga uma taxa adicional.
Emma Stone em ‘Cruella’: o filme está, agora, disponível no Disney+ via Premier Access (Foto: divulgação / Disney)A seguir, explicamos em detalhes:
O que é o Disney+ Premier Access?
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Como o próprio nome sugere, Premier Access é o acesso dentro do Disney+ a filmes inéditos, ao mesmo tempo em que estão disponíveis nos cinemas. Porém, este acesso não funciona da mesma forma que o resto do catálogo da plataforma. Os usuários devem pagar uma taxa adicional para poder ver esses filmes, “antes de seu lançamento para o resto dos assinantes Disney+”, como a própria plataforma descreve. Para referência, a Netflix fornece acesso a todo o seu catálogo com uma única taxa de assinatura mensal, conhecida como Subscription Video On Demand (SVOD). É o oposto do modelo de plataformas como Apple TV (iTunes), Google Play ou NOW, que seguem o modelo Transactional Video On Demand (TVOD), em que você paga por filme assistido. Assim, o Disney+ adota um modelo misto: principalmente SVOD, mas com elementos de TVOD.
Quanto custa o Premier Access e como ele funciona?
A taxa adicional para assistir aos filmes do Premier Access é, no momento da publicação, de R$ 69,90. Para acessar o conteúdo nesta modalidade, você deve ter uma conta Disney+ ativa, em um dispositivo compatível com a plataforma e com uma forma de pagamento válida. Assim que o filme for comprado, os assinantes poderão assisti-lo quantas vezes quiserem antes de ser lançado para outros assinantes.
Porém, é muito importante mencionar que a janela para compra de um filme no Premier Access não fica aberta por tempo indeterminado, ela dura aproximadamente duas semanas. Por exemplo, ‘Cruella’ estreou na plataforma em 28 de maio de 2021 e está disponível para compra nesta modalidade até o dia 11 de junho.
Posso assistir aos filmes do Premier Access mais tarde sem nenhum custo adicional?
Sim. A exclusividade das estreias nesta modalidade é temporária. Cedo ou tarde, os títulos acabam chegando ao catálogo geral Disney+. ‘Raya e o Último Dragão’, por exemplo, foi lançado a um custo adicional em 5 de março de 2021, e chegou ao catálogo aberto pouco menos de dois meses depois, no dia 23 de abril seguinte. Aparentemente, até agora, as datas de lançamento dos filmes Premier para assinantes padrão podem variar a cada filme, e a expectativa média é de ao menos um mês.
Por que o Disney+ implementou a estratégia Premier Access?
Notavelmente, a estratégia do Premier Access começou com a estreia de ‘Mulan‘ nos Estados Unidos em setembro de 2020, no contexto da pandemia covid-19 e com as salas de cinema fechadas. Embora a estreia do filme fosse destinada aos cinemas, a Disney escolheu aproveitar a oportunidade para testar esse modelo de venda em sua nova plataforma de streaming. Embora as circunstâncias fossem menos restritivas em vários países na época do lançamento de ‘Raya e o Último Dragão’, a empresa optou por lançar o filme simultaneamente nos cinemas e em sua plataforma por uma taxa adicional. “Estamos tentando monitorar se os consumidores estão dispostos a voltar aos cinemas”, explicou Bob Chapek, CEO da Disney, durante a última reunião de divulgação de lucros da empresa, em maio passado. “Suponhamos que 90% do mercado interno (Estados Unidos) esteja aberto atualmente”, disse o executivo. “Mas se você olhar a bilheteria do último fim de semana [8 e 9 de maio de 2021], por exemplo, e comparar com a média de bilheteria dos últimos três anos pré-covid, ela está 85% menor no mercado interno, e 67% abaixo internacionalmente”. Ou seja, o objetivo tem sido minimizar as perdas em um contexto que limita muito a receita dos cinemas. No entanto, é uma estratégia que não está gravada em pedra. “Uma coisa que aprendemos é que a flexibilidade é boa”, disse Chapek durante a 49ª Conferência Global de Tecnologia, Mídia e Comunicações na J.P. Morgan, em maio de 2021. “Celebramos essa flexibilidade, tentamos oferecer mais opções aos consumidores.” De qualquer forma, no momento da publicação deste artigo, a Disney está testando diferentes estratégias de lançamento para seus filmes enquanto dura a pandemia. Lançamentos da Pixar como ‘Soul‘, por exemplo, foram direto para o Disney+ sem nenhum custo adicional. Outros, como ‘Jungle Cruise’, ‘Free Guy: Taking Control’ e ‘Viúva Negra’, estão programados para uma estreia simultânea no Premier Access e nos cinemas. ‘Jungle Cruise’ chega ao Premiere Access em 30 de julho (Imagem: reprodução / Disney+)Teremos que esperar a pandemia passar para saber se a Disney continuará com essa estratégia híbrida no futuro, ou vai se comprometer apenas com os cinemas ou sua plataforma. Vale destacar que a sua rival, WarnerMedia, estabeleceu no Brasil uma estratégia de estreias na sua plataforma, HBO Max, de apenas 35 dias após a chegada dos filmes aos cinemas.
Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.