HBO Max vale a pena? Plataforma tem problemas e trunfos na Guerra do Streaming HBO Max vale a pena? Plataforma tem problemas e trunfos na Guerra do Streaming

HBO Max vale a pena? Plataforma tem problemas e trunfos na Guerra do Streaming

Os contratempos no lançamento – incluindo falhas na cobrança – evidenciam que nada é tão fácil quanto parece no video on demand, mas serviço da WarnerMedia mostra que tem boas armas

30 de junho de 2021 16:30
- Atualizado em 1 de julho de 2021 15:40

Tirando a parte que deu errado, deu tudo certo: a sabedoria popular brasileira cabe como uma luva para a estreia do HBO Max no nosso país. A nova plataforma de streaming da WarnerMedia, lançada ontem (29) na América Latina, chega tarde frente a concorrentes como Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video, além de ter enfrentado alguns problemas em sua estreia. Porém, relevando essa parte, é um grande avanço da estratégia direta para o consumidor do conglomerado internacional de mídia.

Sim, não foi um lançamento fácil. Diversos usuários brasileiros não conseguiram efetivar o débito em seus cartões, por diversas questões. Eu mesmo tive problemas: para o banco, a cobrança foi uma fraude e o cartão foi bloqueado. Variações do problema povoaram as redes sociais durante toda a terça.

Outros usuários relataram problemas na hora de ativar a assinatura a partir de parceiros de TV paga, enquanto outros afirmaram ter questões com a transmissão ou lentidão no uso da plataforma para buscar os títulos. Tirando a lentidão, a equipe do Filmelier não encontrou tais problemas durante o dia de estreia.

'Mulher-Maravilha 1984' é o grande destaque do HBO Max neste lançamento da plataforma (Imagem: reprodução / WarnerMedia)
‘Mulher-Maravilha 1984’ é o grande destaque do HBO Max neste lançamento da plataforma (Imagem: reprodução / WarnerMedia)

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De qualquer forma, esse panorama era algo esperado. Lançar e manter uma plataforma de streaming traz dois grandes desafios para qualquer empresa: ter uma estrutura de rede de servidores que aguente a demanda, além de uma cobrança fluída.

Pode parecer simples, mas criar um serviço de video on demand de grande escala não é tarefa fácil, ainda mais para uma empresa que não é, originalmente, de tecnologia – mesmo que esteja (por enquanto) dentro de um grupo de telecomunicações, a AT&T.

Isso se soma a uma reclamação recorrente dos novos assinantes até aqui: as legendas. Ainda que não tenha havido o mesmo problema de localização que aconteceu com o Disney+, há legendas em três linhas, descentralizadas, muito pequenas e outras questões do tipo, variando de acordo com o dispositivo e o conteúdo. Nas redes sociais, o HBO Max informou que está empenhado em resolver o problema.

Relacionado a isso, há muitos filmes e episódios com o título original em inglês, e não com a versão localizada. O mesmo acontece com diversas sinopses.

Vale lembrar que a América Latina foi o primeiro mercado do HBO Max onde a legenda e a localização são importantes, por isso são reclamações que, antes, certamente não estavam no radar da empresa.

Tudo isso é também reflexo de uma questão importante para o HBO Max: o atraso. A Netflix, pioneira no setor, lançou o seu serviço de streaming em 2007, e chegou ao Brasil em 2011. Outros grandes grupos de mídia se movimentaram mais rápido que a WarnerMedia.

Agora, dizer que tudo está perdido por conta desse atraso é um exagero. O Disney+ foi lançado apenas em novembro de 2019, chegando ao nosso país um ano depois – e, nesse meio tempo, já passou da marca dos 100 milhões de assinantes em todo o globo. Tão importante quanto chegar cedo é ter uma estratégia forte para ganhar terreno, e isso será importantíssimo para o futuro do HBO Max.

Nada de HBO GO

Talvez o maior problema do HBO Max esteja em seu nome. Claro, a marca HBO é super consolidada no mundo do entretenimento, mas a nova plataforma de streaming é muito maior que os canais pagos. Pior: traz, automaticamente, uma lembrança do HBO GO, a agora finada plataforma de streaming com péssimas memórias para o usuário.

O HBO GO nunca funcionou bem e o HBO Max nada carrega do antigo serviço. Isso não é figura de linguagem: em 2017 a AT&T adquiriu a Otter Media, empresa de mídia digital que trouxe toda uma nova tecnologia para a futura plataforma. Eles criaram tudo praticamente do zero.

Pensando em tecnologia e conteúdo, um nome “Warner Max” faria muito mais sentido para este novo serviço.

Visualmente, temos uma plataforma muito mais agradável de se navegar do que era o HBO GO, com uma certa facilidade para encontrar os conteúdos e, claramente, uma boa curadoria do que é mostrado. É extremamente visual, fazendo com que a escolha de um novo filme ou série não seja algo tão doloroso.

Há, por exemplo, menus para encontrar o que foi recém-adicionado, ou os conteúdos que estão deixando o HBO Max em breve.

Falta, ainda, algumas melhorias na versão para a América Latina. É que, tirando os títulos destacados pela curadoria, fica difícil encontrar produções mais específicas – a não ser que você as conheça pelo título e use a busca. Eu, por exemplo, senti falta de um maior destaque para clássicos do catálogo da Warner Bros. e Hanna-Barbera.

Nos EUA, o HBO Max tem mais "hubs" de conteúdo do que no Brasil (Imagem: divulgação / WarnerMedia)
Nos EUA, o HBO Max tem mais “hubs” de conteúdo do que no Brasil (Imagem: divulgação / WarnerMedia)

Nos EUA isso fica um pouco mais fácil: por lá, há uma divisão maior por marcas, compreendendo divisões como Adult Swim, TCM (só de filmes clássicos) e Looney Tunes. Por aqui, temos apenas DC, HBO, Max Originals e Cartoon Network.

Conteúdo é rei

Seguindo nos clichês, aquela velha máxima do “conteúdo é rei” é ainda mais importante no mundo do video on demand. Afinal, ninguém assina uma plataforma porque ela é bonita ou fluída, ou porque a transmissão acontece sem “soluços”. As pessoas fazem isso para ter bons filmes e séries para assistir.

Nesse sentido, o HBO Max está em uma posição privilegiada, pois tem acesso ao vasto catálogo da WarnerMedia, que, além das produções de cinema e TV da Warner Bros, tem clássicos da Hanna-Barbera, MGM, Ruby-Spears, New Line, entre outras companhias e produtoras de antigamente.

Acontece que nem tudo isso está disponível neste lançamento nacional. Faltam séries do passado, animações clássicas, alguns filmes e muito mais.

O Filmelier questionou o HBO Max sobre essas e outras baixas no catálogo, que informou, via assessoria de imprensa, que “não temos estas informações [sobre ausências] no momento. Mas, novos conteúdos serão frequentemente adicionados à plataforma.”

A verdade é que tal fato não surpreende.

'Godzilla vs. Kong' foi uma das ausências mais sentidas na estreia do HBO Max (Imagem: divulgação / Warner Bros.)
‘Godzilla vs. Kong’ foi uma das ausências mais sentidas na estreia do HBO Max (Imagem: divulgação / Warner Bros.)

É necessário levar alguns pontos em consideração. O primeiro é o técnico: estamos falando de uma plataforma nova, criada do zero, que envolve disponibilizar um grande volume de conteúdo audiovisual para o seu lançamento. Chegar atrasado na festa do streaming reflete, também, em uma “correria” para compensar essa diferença na área técnica, e é necessário fazer a escolha de Sofia para definir aquilo que será disponibilizado primeiro.

Outro ponto é a localização. Como dito, a grande diferença da América Latina para os EUA é que o lançamento por aqui envolve a legendagem de filmes e séries e, em muitos casos, disponibilizar dublagens. Esse último caso pode ser delicado, pois envolve não só a qualidade técnica desses áudios mas também os direitos conexos, que podem ou não serem devidos aos dubladores ou seus herdeiros.

Além disso tudo, há outras questões legais, sobre acordos de licenciamento existentes com terceiros, e até mesmo a chamada estratégia da escassez. Liberar o conteúdo aos poucos é uma tática para manter a base de assinantes por mais tempo.

Por tudo isso, séries como ‘Arrow’, ‘The Flash’, ‘Legends of Tomorrow’, ou filmes como ‘Godzilla vs. Kong‘, ‘Aquaman‘ e ‘Mortal Kombat‘ (o de 2021) estão, por enquanto, de fora do novo streaming.

Catálogo robusto

Considerando apenas o que está disponível hoje, o HBO Max tem boas armas, sim.

Entre as séries que podem ser assistidas na plataforma, temos queridinhas do público como ‘Friends’, ‘Sex and The City’, ‘Supernatural’, ‘Game of Thrones’, ‘Two and a Half Men’, ‘Um Maluco no Pedaço’, ou mesmo bons títulos recentes como ‘Watchmen’, ‘Ballers’, ‘Chernobyl’, ‘Euphoria’, ‘Batwoman’ e tantas outras.

Entre os filmes, surgem clássicos como ‘Disque M Para Matar‘, ‘King Kong’ original, ‘2001: Uma Odisseia no Espaço‘, ‘Ben-Hur’, ‘Blade Runner‘, ‘Bullit’, ‘Casablanca‘, ‘O Mágico de Oz‘, ‘Cidadão Kane‘, ‘…E o Vento Levou”, Bonnie e Clyde’, e ‘Laranja Mecânica’.

Para quem quer algo mais recente, há longas como ‘J. Edgar’, toda a série principal de ‘Harry Potter’, ‘Moonlight: Sob a Luz do Luar‘, ‘O Abutre’, ‘Mulher-Maravilha 1984‘, ‘Os Infiltrados‘, ‘Coringa‘, ‘Aves de Rapina‘ e muito mais.

A franquia 'Harry Potter' é, certamente, um dos maiores trunfos do HBO Max (Foto: divulgação / Warner Bros.)
A franquia ‘Harry Potter’ é, certamente, um dos maiores trunfos do HBO Max (Foto: divulgação / Warner Bros.)

Em parte, o catálogo do HBO Max teve um reforço importante de títulos de outras distribuidoras, mais notadamente a da Diamond – ainda que continuem ausentes os longas da Sony, com quem a HBO tem acordo de licenciamento no Brasil.

Junto com isso, o HBO Max chega com diversas produções originais logo de cara, algo que não aconteceu com Disney+ e Paramount+ ao atracarem em nosso país. São nove longas-metragens inéditos exclusivos da plataforma logo no primeiro dia, com ‘Nem Um Passo em Falso’, de Steven Soderbergh, estreando amanhã (1º).

Sem contar as séries originais, como ‘The Flight Attendent’ e ‘It’s a Sin’.

Por isso, definitivamente, o HBO Max compensa o atraso chegando com um catálogo muito mais robusto do que o Disney+ tinha em seu lançamento brasileiro, em novembro passado.

Conteúdo infantil

Aqui, talvez, esteja o maior calcanhar de Aquiles do HBO Max.

Em um serviço de streaming que pretende ser para toda a família, a área infantil tem uma importância muito grande para o público, motivando novas assinaturas.

Porém, para começar, a marca HBO nunca teve muita tradição com esse tipo de produção, mesmo que tenha um canal pago chamado HBO Family. Em termos de marketing, a marca sempre esteve mais ligada a conteúdo para adultos.

Além disso, o serviço claramente deu mais preferência para outros segmentos de conteúdo – muita coisa para o público infantil, de recentes e clássicos, está faltando.

Ainda assim, é possível curtir Os Flintstones’ e ‘Os Jetsons’ completos, além de alguns curtas clássicos de ‘Looney Tunes’ e ‘Merry Melodies’. Para quem quer algo atual, tem ‘Jovens Titãs em Ação’ ‘Pocoyo’, longas e séries atuais do Scooby-Doo e afins.

Só que é difícil navegar por esses títulos. É possível criar um perfil infantil, inclusive definindo a idade da criança exigindo senha para editar ou alternar contas, mas a navegação não é intuitiva para os pequenos. Há divisão por idades, por exemplo. Qual criança procura conteúdo por idade?

A Netflix, por exemplo, privilegia os personagens e nem tanto as séries. O HBO Max até tem algo parecido, mas fica escondido.

Perfil infantil do HBO Max oferece conteúdos para maiores de 18, ainda que com bloqueio por senha (Imagem: reprodução / WarnerMedia)
Perfil infantil do HBO Max oferece conteúdos para maiores de 18, ainda que com bloqueio por senha (Imagem: reprodução / WarnerMedia)

O pior mesmo é que há muito conteúdo pré-adolescente e até mesmo adulto (como animações para maiores de 18 anos) misturado com produções para crianças bem pequenas. E, quando você coloca uma maior limitação na idade, esses conteúdos não somem do perfil infantil. Eles continuam lá, só que com o aviso de que está bloqueado.

Quem é pai ou mãe sabe que a pior coisa do mundo é mostrar algo para uma criança e, em seguida, dizer que ele não pode ter ou ver. Por isso, se você tem filhos, leve isso muito em consideração antes de apresentar o HBO Max para os pequenos.

Apertando o play

Se tem algo que o HBO Max acertou, sem qualquer dúvida, é na qualidade da imagem de suas produções. Até onde pude acompanhar, a maioria dos conteúdos está remasterizada e com uma qualidade de imagem, dentro do possível, impecável.

Isso inclui até títulos antigos, que estavam sendo exibidos de forma precária na TV paga. ‘Os Flinststones’ e ‘Looney Tunes’ são exemplos. Em ‘…E o Vento Levou’, a qualidade da imagem pouco deve ao Blu-ray.

É possível dizer que, nesse sentido, o HBO Max está em pé de igualdade com os destaques do quesito, Disney+ e Apple TV.

Talvez isso explique a dificuldade que alguns passaram com a fluidez do vídeo. Alta qualidade se reflete em uma alta exigência de internet, e conseguir encontrar o equilíbrio entre isso e servidor, banda e qualidade de internet do assinante é quase uma alquimia – algo que a Netflix domina muito bem.

Com o aprendizado e maiores investimentos, esses “soluços” têm tudo para serem superados.

No bolso

Por tudo isso, o HBO Max cobra um preço extremamente interessante: R$ 19,90 no plano Mobile (para usar apenas em celulares ou tablets) ou R$ 27,90 (no Multitelas, que permite ver na TV ou computador e tem resolução 4K).

São valores menores que o da Netflix, e próximos (no plano padrão) ao Disney+ – o que seria, por si só, competitivo.

Só que a WarnerMedia foi mais agressiva no lançamento: 50% de desconto no valor mensal para quem assinar até o dia 31 de julho. Com isso, o plano padrão fica em R$ 13,95.

As opções de assinatura do HBO Max (Imagem: reprodução / WarnerMedia)
As opções de assinatura do HBO Max (Imagem: reprodução / WarnerMedia)

O valor coloca a plataforma como a mais barata do mercado, à exceção do Amazon Prime Video. Porém, o valor de R$ 9,90 cobrado pela gigante do e-commerce é subsidiado. Ou seja, há um prejuízo a cada assinatura, mas a empresa ganha ao oferecer outros produtos atrelados ao pacote Amazon Prime – entre eles o frete grátis, o que fomenta o maior consumo na loja online.

Vale ressaltar que, se você já assina os canais HBO na TV paga, o HBO Max já está incluso no seu plano, sem custo adicional.

O HBO Max vale a pena?

Sem ficar em cima do muro: sim. Claro que assinar o serviço de streaming é uma decisão extremamente pessoal e depende de uma série de fatores. De qualquer forma, o HBO Max é um grande passo além, em temos de streaming, para a WarnerMedia, e cobra um preço extremamente justo pelo que entrega.

Obviamente se você não se engajar com os conteúdos das marcas do grupo, não faz sentido ter mais uma assinatura mensal. Por outro lado, se espera encontrar produções exclusivas interessantes e filmes e séries “de conforto” – ou seja, reencontrar sucessos do passado que você já assistiu e gostou -, o HBO Max é o seu lugar.

Encontre centenas de filmes para assistir no HBO Max.

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