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‘I Wanna Dance with Somebody’ usa fórmulas para celebrar Whitney Houston

Depois do sucesso e das premiações de ‘Bohemian Rhapsody‘, filme sobre a banda Queen, abriu-se um portal em Hollywood em que produções sobre bandas, cantores e músicos de sucesso ganham cinebiografias aos montes. Algumas funcionam mais, como ‘Rocketman‘ e ‘Elvis‘, enquanto outras decepcionam até mesmo aqueles fãs mais aguerridos (‘Respect‘, ‘Billie Holliday‘). E, infelizmente, I Wanna Dance with Somebody se encaixa no segundo grupo.

Dirigido pela cineasta Kasi Lemmons (‘Harriet‘, ‘A Vida e a História de Madam C.J. Walker’) e com estreia marcada no Brasil para esta quinta-feira, 12 de janeiro, o longa-metragem da Sony Pictures apresenta um objetivo narrativo direto ao ponto: falar da vida e carreira de Whitney Houston, uma das mais celebradas atrizes e cantoras do mundo.
Cena do Super Bowl deveria ser uma das mais emblemáticas do filme, mas não funciona (Crédito: Sony Pictures)

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A partir disso, sem dúvidas a cinebiografia poderia ser interessante, profunda, dramática, potente. Oras, o documentário de Kevin MacDonald é tudo isso apenas com entrevistas e imagens de arquivo. Tendo ao lado uma atriz talentosa (Naomi Ackie) e o poder da ficção, ‘I Wanna Dance with Somebody’ poderia ser muito melhor. Mas não é: o longa-metragem simplesmente não consegue encontrar seu tom, sua força e o que realmente se destaca em Whitney.

O problema de ‘I Wanna Dance with Somebody’: as fórmulas

Enquanto assistia ao longa-metragem sobre Whitney Houston, não conseguia parar de imaginar como foi o processo de escrita do filme, sob a responsabilidade de Anthony McCarten (‘A Teoria de Tudo’ e, claro, ‘Bohemian Rhapsody’). Ao invés de ‘I Wanna Dance with Somebody:’ ser fluído, ele é atravancado por uma série de temas que parecem ter sido listados pelo roteirista e que, aos poucos, foram ticados de uma longa lista a ser tratada nesta cinebiografia. O vício em drogas, a relação conturbada com o pai, a sexualidade, os abusos do marido, a questão com o sucesso. Tudo isso vai surgindo de uma maneira quase cadenciada, um tema atrás do outro. O pior: eles não se sobrepõem para formar um quadro completo, mas um substitui o outro. Começa a falar do pai? Deixa as drogas de lado. Agora é o momento de falar sobre a sexualidade? Então o roteiro simplesmente esquece de tratar do marido de Whitney.
Isso deixa o filme não apenas artificial, como se fosse realmente uma longa lista ficcionalizada, como também se torna cansativo. Tudo é previsível. Com isso, o filme também perde algo de suma importância: sua profundidade dramática.

Whitney Houston?

Ainda que seja uma cantora querida, e que facilmente atrai a atenção do público, Whitney Houston se torna apenas sombra do que realmente é. Suas questões mais profundas, como o debate racial em torno de seu posicionamento como pessoa, cantora e figura pública, e até mesmo a questão com as drogas. Lemmons parece ter medo de tocar em assuntos mais espinhosos — lembra um pouco o que aconteceu em ‘Elis’, a cinebiografia da cantora brasileira.

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Quando as coisas começam a acontecer, lá pelo final, o filme ganha um ar ainda mais estranho. Parece tudo absurdamente repentino. Nem mesmo a boa atuação de Naomi Ackie como Whitney Houston salva o filme de cair dentro de si próprio: a atriz tem dificuldade em entender a própria Whitney e, em cena, tem alguns momentos que mais parece estar imitando a cantora do que realmente interpretando. Enfim: vira uma bola de neve. ‘I Wanna Dance with Somebody’ até tem algumas cenas musicais mais interessantes e que devem fazer o público se empolgar. Mas não é o bastante — afinal, ao invés disso, dá para ouvir um CD ou assistir a gravação de algum show de Whitney. A tentativa final de emular o que deu certo em ‘Bohemian Rhapsody’, com a mesma estrutura de conclusão, é a pá de cal. E o filme, apesar de recheado de boas intenções, se torna uma amarga decepção. Whitney merecia mais. Para comprar ingressos do filme, clique aqui.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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