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No auge de crise criativa, Pixar parece gritar por socorro em ‘Lightyear’

É poético, e um tanto quanto melancólico, que ‘Toy Story‘ tenha sido o primeiro filme da Pixar e, agora, um personagem desse filme que marcou gerações e o cinema de animação esteja sendo representado no momento criativo mais baixo do estúdio. ‘Lightyear‘, que estreia exclusivamente nos cinemas nesta quinta-feira, 16, não é ruim, mas apenas mostra que a Disney-Pixar continua sem rumo e ainda tentando entender onde foi parar sua antes onipresente criatividade.

Mas vamos com calma. Antes de falar do estúdio, vamos falar sobre o filme. ‘Lightyear’ conta a história de Buzz (voz original de Chris Evans, não mais Tim Allen), um patrulheiro espacial que bate a aeronave que está pilotando e, junto com a colega Alisha Hawthorne e vários outros tripulantes, fica preso em planeta ermo. É aí que começa a graça do filme, com Buzz tentando desesperadamente encontrar o combustível certo para salvar toda a patrulha espacial e voltar pra casa.
Buzz Lightyear ganha feições mais humanas em histórias sobre erros e amizade (Crédito: Divulgação/Disney)

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É um filme essencialmente de aventura espacial com elementos que já vimos aos montes por aí: hiperespaço, tiros de laser, espadas que cortam com um feixe de luz, aeronaves poderosas e por aí vai. É, em suma, uma mistura batida no liquidificador de ‘Star Wars‘ e ‘Star Trek‘, com uma pitada de ‘Top Gun‘ e, como tempero final, ainda um cheiro de ‘Capitã Marvel‘. Tudo isso embalado em um pacote de ‘Toy Story‘, com várias referências, frases e personagens soltos.

‘Lightyear’ não é bom?

Isso bem feito, é claro, poderia resultar em um filme minimamente divertido. E isso não dá para negar: apesar dos erros do diretor Angus MacLane, que também assinou a direção de ‘Procurando Dory‘, ‘Lightyear’ tem 20 minutos iniciais realmente divertidos e com um sopro de originalidade. As brincadeiras temporais, com consequências interessantes, e a relação dele com o gato-robô Sox são o ponto alto do filme, rendendo alguns bons momentos. Só que para por aí. Logo depois desse começo promissor, ‘Lightyear’ apresenta três personagens desastrosos que se tornam companheiros de Buzz na tentativa de salvar os patrulheiros daquele planeta e, ainda, de uma nova ameaça, o misterioso Zurg. São personagens preguiçosos, sem qualquer desenvolvimento. MacLane, que assina o roteiro com Jason Headley (de ‘Dois Irmãos‘), aposta em uma única piada para cada um deles para fazer com que prossigam.
É a idosa envolvida com o mundo do crime, o cara atrapalhado (e chato!) que fica obcecado com a caneta que existe em seu traje, a jovem com medo do espaço e com o peso de seu sobrenome… São personagens que não saem disso e que, do nada, começam a fazer com que a trama perca todo o seu vigor narrativo. Fica andando em círculos, com os personagens cometendo erros subsequentes e exagerados que tiram qualquer leveza e interesse por essa história. Pelo menos, no final das contas, sobre um visual deslumbrante (é impressionante o trabalho com as texturas aqui) e um ou outro momento divertido. Mas será que isso é o bastante para a Pixar, esse estúdio que aprendemos a amar?

Pixar e a crise de identidade

Não, não é. Em seus primeiros anos de existência, a Pixar mostrou que sabia contar histórias para toda a família com suas animações. Para toda a família mesmo. Crianças se divertiam com os baleiês de ‘Procurando Nemo‘ enquanto pais e responsáveis se emocionavam com as lições sobre paternidade. ‘Toy Story 3‘ é uma aventura divertida para os pequenos, mas faz os adultos se emocionarem enquanto lembram das memórias (e brinquedos) perdidos no passado. Isso sempre aconteceu com maior ou menor força, sendo a franquia ‘Carros‘ talvez a mais questionada — e, ainda assim, com dois de seus três filmes recebendo críticas mais positivas do que negativas. Só que a coisa desandou. 2015 parece ter sido o último ano consistente do estúdio com ‘Divertidamente’. Depois disso, a Pixar se dividiu entre filmes mornos e outros um pouco melhores, mas nenhum conseguiu chegar perto do que o estúdio fez no passado.
Lightyear traz o querido personagem de ‘Toy Story’ em versão mais ‘realista’ (Crédito: Divulgação/Disney)
São continuações medianas (‘Procurando Dory’, ‘Incríveis 2’, ‘Toy Story 4’), filmes que não conseguiram cativar (‘O Bom Dinossauro’, ‘Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica’). Acertar virou exceção (‘Soul’, ‘Luca’) quando antes era a regra. ‘Lightyear’, assim, parece um grito de socorro do estúdio. Ou, até mesmo, um chamamento para seus criativos. O filme fala, sobretudo, sobre erro. Buzz erra. Seus colegas erram demais, o tempo todo. Quase matam Sox, deixam cair o combustível, erram o caminho, brincam em serviço. A grande mensagem, porém, é que dá para errar e, em algum momento, acertar. Encontrar o caminho. Será que não é a Pixar tentando se convencer de que tudo vai dar certo? Por enquanto, o caminho continua estranho, nebuloso. ‘Lightyear’ não é o sopro de ousadia e criatividade que poderia ter sido para o estúdio — e, muito menos, convence como o filme favorito de Andy. Fica aqui a torcida para que ‘Elemental’, próximo filme da Pixar que deve ser lançado em 2023, seja um pouco mais fora da caixinha. Afinal, quando a Pixar se encontrar, todos nós, como amantes do cinema, saímos ganhando. Boas histórias inspiram. E fazem falta.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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