Lançamentos da semana de 1º de maio de 2020

Um dos melhores e mais curiosos filmes de 2019, ‘O Paraíso Deve Ser Aqui’ é uma comédia totalmente fora dos padrões. Dirigido, roteirizado e protagonizado por Elia Suleiman, o longa-metragem se propõe a fazer uma única coisa: traçar paralelos entre a Palestina com outros países, como França e Estados Unidos. A partir disso, Suleiman mostra como o mundo enxerga seu país de origem de maneira estereotipada, enquanto lugares “mais civilizados” fazem coisas brutais e não são condenados por isso. É delicado, é íntimo e, sobretudo, traz um humor inteligente que se vale dos silêncios e da própria miséria humana para produzir riso, numa mistura do cinema francês com Charlie Chaplin. Recebeu menção especial do júri no Festival de Cannes. [-]

Lançado durante a Quinzena dos Diretores no Festival de Cannes de 2019, 'Zombi Child', do cineasta francês Bertrand Bonello ('Saint Laurent'), é inspirado na vida de Clairvius Narcisse, homem que alegou ter sido transformado em zumbi pela magia vodu haitiana. É um história de terror pouco convencional, que convida para reflexões mais profundas sobre colonialismo, racismo e apropriação cultural. Problemas com raízes que estão profundamente enterradas no passado, mas com impactos que podem ser sentidos no presente, não importa o quanto queira deixá-los pra trás. Esteticamente inspirado nos filmes de terror italianos conhecidos como “giallo” (dos quais surgiram filmes como 'Suspiria', de Dario Argento, e inspiraram filmes recentes como ‘O Demônio Neon’) e com temas que o aproximam de seu contemporâneo senegalês ‘Atlantique’, este filme funciona como puro entretenimento, mas ainda deixará você refletindo muito tempo após subir os créditos. Com a crise do novo coronavírus, o longa foi lançado direto no streaming. [-]

Para o público, a premissa de ‘Mentiras Perigosas’ se parecerá com a de ‘Entre Facas e Segredos’: uma cuidadora recebe toda a herança do paciente, para a fúria do resto da família. No entanto, há uma ênfase maior nas disputas entre os personagens e não no humor. Pensado como aqueles “filmes para a TV” americana, o longa tem um nível de produção compatível, embora os espectadores em geral não devam notar uma queda perceptível de qualidade. O destaque, mesmo, fica pela presença de Camila Mendes, estrela de ‘Riverdale’ e que é filha de brasileiros e fala português. Junto de Camila estão Elliott Gould, além de jovens talentos como Jessie Usher e Jamie Chung. Filme exclusivo da Netflix. [-]

Estrelando Sophia Lillis (a versão jovem da personagem Beverly na mais recente adaptação cinematográfica de 'It: A Coisa'), esta é uma reinterpretação de ‘João e Maria’, o clássico conto de fadas, mas alinhado com filmes como ‘A Bruxa’, de Robert Eggers - ou seja, carregando no pesadelo e no ocultismo. Com 'Maria e João: O Conto das Bruxas', o diretor Oz Perkins (também responsável por 'A Enviada do Mal') coloca menos ênfase em um ritmo narrativo ágil e em “sustos fáceis” para concentre-se na criação de uma atmosfera perturbadora e hipnótica - com a brilhante fotografia do mexicano Galo Olivares ('Roma') - além de contar uma história inteligente de empoderamento feminino. Talvez seja um longa-metragem um tanto parcimonioso e contemplativo para quem prefere o cinema de terror mais comercial, mas quem procura uma proposta mais interessante ficará certamente satisfeito. [-]

Nas comédias românticas, estreladas ou não adolescentes, os triângulos amorosos são bastante comuns (principalmente naquelas inspiradas de alguma forma pelo drama teatral de 'Cyrano de Bergerac') - inclusive, na própria Netflix, temos ‘Sierra Burgess é uma Loser’ como um exemplo. Por isso, é interessante que a diretora e roteirista Alice Wu ('Livrando a Cara') dê a este filme uma pequena reviravolta que muda tudo: colocar um vértice lésbico nesse triângulo. Por esse motivo, 'Você Nem Imagina' é mais do que a comédia romântica adolescente típica, pois retrata com sensibilidade as experiências de amizade e amor (ou falta de amor) nesse contexto. Mesmo que o longa em si não mude a história do cinema, certamente envolverá você com uma história cheia de afeto e descoberta, que ganha um brilho maior por meio da atuação de sua jovem protagonista, Leah Lewis. Mais um lançamento que é exclusivo da Netflix. [-]

Do diretor mexicano Julián Hernández ('Eu Sou a Felicidade Deste Mundo'), 'A Vingadora' é um thriller com profundas influências do cinema sombrio de antigamente - e feito para nos apresentar uma história que, se apesar de se passar na década de 1990, continua refletindo (infelizmente) o contexto contemporâneo de violência de gênero e feminicídios em todo o México e, claro, no resto da América Latina. Com um estilo visual instantaneamente identificável, a realidade atual e infeliz se mistura com a fantasia da vingança contra crimes impunes e o machismo por meio de uma heroína que se fortalece protegendo os outros e fazendo justiça por suas próprias mãos. Também é uma novidade da semana que chega primeiro ao streaming. [-]

Em ‘Ricos de Amor’, o cineasta Bruno Garotti (do simpático ‘Cinderela Pop’) seguiu ao pé da letra o termo “comédia romântica”. Afinal, na trama protagonizada por Giovanna Lancellotti (‘Eu Sou Mais Eu’) e Danilo Mesquita (da novela ‘Segundo Sol’), há praticamente duas histórias. De um lado, o romance batido entre os dois protagonistas, que vivem as agruras de serem de universos distintos. Ele é rico e despreocupado. Ela gosta das coisas simples. Por isso, o rapaz acaba mentindo sua identidade para se passar por alguém pobre e de família humilde. Do outro lado, a partir dessa troca de identidades, surgem as confusões clássicas de uma comédia de situações. Personagens entrando em novos papéis, fingindo ser quem não são. O ápice acontece com Marcos Oliveira (o eterno Beiçola de ‘A Grande Família’), que arranca gargalhadas. E dessa forma, ‘Ricos de Amor’ funciona bem como um filme romântico, para quem quer se apaixonar novamente por casais improváveis como de ‘Uma Linda Mulher’ e ‘Podres de Ricos’, e ainda se divertir com uma comédia ao estilo daqueles especiais de fim de noite da Globo. É para todos os gostos. Produção exclusiva da Netflix. [-]

Existe uma obra mais representativa dos ideais franceses modernos de justiça, moral e direito do que 'Les Misérables', de Victor Hugo? Provavelmente não, então não é coincidência que o diretor Ladj Ly peça emprestado o título para este filme dramático, baseado em seu curta-metragem. Inspirado nos tumultos nos subúrbios parisienses de 2005 e vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes de 2019, 'Os Miseráveis' resgata esse espírito de luta e o aplica à França contemporânea: inflamada, desigual e dividida pela pobreza, brutalidade policial, além de marcada pelo preconceito étnico e religioso. [-]

Do roteirista de 'Pantera Negra', Joe Robert Cole, 'Dias Sem Fim' é o tipo de filme que explora a vida masculina à margem da sociedade americana, na linha de longas como ‘Las olas’ ou ' Moonlight', e de fato compartilha com o último um de seus principais atores, Ashton Sanders. Ele divide a cena com o grande Jeffrey Wright ('Basquiat'), e juntos eles oferecem performances poderosas que levam a uma reflexão sobre o ciclo de violência na criminalidade nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que tentam oferecer uma saída. Longa com a assinatura da Netflix. [-]

Com o subgênero já consolidado, pode-se dizer que filmes de zumbis contam com três vertentes. De um lado, aquelas histórias que usam os zumbis como meio de crítica, social e política, e que vai além de uma mera diversão. É o caso de ‘Despertar dos Mortos’ e ‘A Noite dos Mortos-Vivos’. No meio, filmes que privilegiam a ação e o thriller e que atingem o grande público, como ‘Invasão Zumbi’ e ‘Guerra Mundial Z’. Por fim, há o cinema trash. É o caso de ‘Zona de Quarentena’, produção britânica dirigida por Chee Keong Cheung (do terrível ‘Bodyguard: A New Beginning’) sobre um grupo de resgate numa região afetada por um apocalipse zumbi. Aqui, nada faz sentido, nada é bem feito e pouca coisa empolga realmente. No entanto, quem quer uma produção Z para rir de bizarrices e de histórias sem pé nem cabeça, vai encontrar diversão garantida aqui. Afinal, é um filme feito pra isso. Lançamento direto para o video on demand. [-]

Dirigido pelo cineasta asturiano Marc Vigil ('El ministerio del tiempo'), 'O Silêncio do Pântano' é um thriller criminal ambicioso em exagero, pois sua interseção de enredos acaba sendo um pouco confusa. Baseado na estréia literária do escritor Juanjo Braulio, o filme funciona como uma estrutura na qual os homicídios se cruzam com a ambição e a corrupção dos mais altos escalões do poder, mas a história também fala da imersão do artista em sua produção criativa, levado às últimas conseqüências (algo que certamente o lembrará de 'Adaptação', de Spike Jonze). Destaca-se o trabalho do protagonista Pedro Alonso, que aproveita ao máximo a capacidade de nos perturbar que ele já mostrou em 'La casa de papel', embora a atriz Carmina Barrientos também se destaque. Lançamento direto para a Netflix. [-]

O primeiro ‘Bad Boys’, lançado em 1995, tem a sua importância: além de ter sido o primeiro longa-metragem dirigido pelo tão amado quanto odiado Michael Bay, foi o responsável por alçar Will Smith ao posto de herói de ação (até então, o ator era mais conhecido pelo sitcom ‘Um Maluco no Pedaço’). Depois de 25 anos, Smith e seu companheiro de franquia, Martin Lawrence, retornam em uma história que tenta brincar justamente com a passagem de tempo – trazendo temas como aposentadoria e família. Agora, o roteiro está longe de ser minimamente inovador e lembra muito outro filme recente de Will Smith, ‘Projeto Gemini’. Ok, por mais que fique devendo a pretensa profundidade do citado filme, ‘Bad Boys Para Sempre’ se aproveita do subgênero de buddy cops para ser um divertido passatempo. [-]

Levemente baseada em eventos reais, a primeira seção do filme francês 'Estranhos em Casa' se desenrola como um thriller, com subtextos sobre racismo sistemático e um pouco de análise sobre masculinidade e violência. Mais tarde, porém, de maneira semelhante ao seu contemporâneo 'Parasita', o filme se transforma em algo muito diferente, que pode parecer à primeira vista um filme de terror do subgênero de invasões, mas com os papéis invertidos e com claros comentários sociais sobre a burguesia rica e assustada diante de uma classe pobre disposta a fazer qualquer coisa, ambos com seus respectivos extremismos. Mais uma novidade da semana que é da Netflix. [-]

Depois de interpretar um candidato à presidência com sua vida íntima revelada pela mídia em ‘O Favorito’, Hugh Jackman volta a viver um homem no meio de um furacão em ‘Má Educação’. Desta vez, porém, não são casos extraconjugais que o perseguem, mas sim um esquema de corrupção numa escola americana. Com uma direção firme e “pé no chão” de Cory Finley (do interessante ‘Puro-Sangue’) e um roteiro inteligente de Mike Makowsky (de ‘Take Me’), o longa-metragem é esperto ao não entregar tudo de uma vez para o público. As revelações sobre o caso real, que abalou o distrito norte-americano de Long Island, vão sendo feitas aos poucos, quase de maneira cruel. Afinal, o público embarca numa direção e o filme, sem piedade, logo muda o sentido daquela história, sempre mantendo a fidelidade ao clima quase documental. Personagens são desconstruídos, tramas são quebradas. E o filme surpreende com histórias da vida real, sem nunca apostar em reviravoltas mirabolantes ou coisas do tipo. É um drama forte, contundente, digno de premiações na temporada. Destaque, ainda, para a atuação de Allison Janney, oscarizada pela sua personagem em ‘Eu, Tonya’, que aqui interpreta o braço direito de Hugh Jackman. [-]

Bebendo da fonte de ‘O Código da Vinci’ e do recente thriller espanhol ‘O Legado dos Ossos’, o longa-metragem polonês ‘Morte às Seis da Tarde’ é um filme com uma narrativa convencional, mas com uma abordagem diferenciada. Afinal, por mais que volte a bater na tecla de crimes do passado que voltam a ser cometidos no presente, o diretor Patryk Vega (‘Pitbull’) segue caminhos tortuosos para levar essa mensagem ao público. A violência, por exemplo, é explícita, com corpos sendo dilacerados e crânios abertos. Já a protagonista, vivida por uma transformada Malgorzata Kozuchowska, é fria, distante e pouco empática. Assim, o interesse do espectador pelo filme acaba ficando condicionado à resolução do mistério num ambiente inóspito. Para aqueles que isso basta, vai ser uma boa diversão. Mas aqueles que buscam tramas mais intrincadas vão se decepcionar. Exclusivo da Netflix. [-]

Existem muitos exemplos de filmes motivadores nos quais uma equipe que luta contra tudo e contra todos consegue superar as adversidades graças a um treinador que passa por sua própria história de superação (‘O Homem Que Mudou o Jogo’ é um desses exemplos). 'O Caminho de Volta' é um drama esportivo com uma premissa semelhante, mas tratado com uma abordagem ainda mais séria, com um protagonista imerso em alcoolismo, depressão e arrependimento. Trata-se de uma sólida atuação de Ben Affleck (em um papel o que também pode ser muito pessoal para o ator, que relatou ter passado por problemas parecidos em sua vida). Este é um longa-metragem dado ao sentimentalismo e um tanto convencional dentro de seu tipo, mas vale assistir se você se identifica com esses temas pu precisa de uma história de “volta por cima” para se inspirar. Mais uma estreia que, com a crise atual, pulou o lançamento nos cinemas e chega direto para o VOD. [-]

‘Em Busca da Felicidade Parte II’, como o próprio nome diz, é a sequência do documentário que se aprofundou na vida dos Jonas Brothers -- boy band de sucesso nos anos 2000 e que teve sua carreira impulsionada pelo Disney Channel. No entanto, enquanto a primeira parte fala mais do surgimento de vínculos e da infância dos três irmãos, essa aqui se debruça sobre a nova fase da banda e de seus integrantes, destacando até mesmo brigas e irritações. Mantendo o mesmo visual, o filme se destaca por uma narrativa mais inteligente e que se desenvolve em camadas, revelando os bastidores aos poucos. Além disso, é interessante o clima de ineditismo que surge com as histórias, por mais que elas já sejam antigas conhecidas. É um filme, assim como ‘Miss Americana’, sobre Taylor Swift, que se preocupa mais em agradar aquele público que conhece as músicas da banda do que apresentá-la para outras pessoas. Mas, sem dúvidas, deve empolgar os fãs. Exclusivo do Amazon Prime Video. [-]

Com uma carreira consolidada como diretor de séries de TV como ‘Freaks & Geeks’ e ‘The Office’, o cineasta Miguel Arteta também criou uma marca nos cinemas: a comédia despretensiosa, com um pé no humor de besteirol. Foi assim com ‘Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso’, ‘Rebelde com Causa’ e, agora, com ‘Sócias em Guerra’. Protagonizado por Tiffany Haddish, Salma Hayek e Rose Byrne, o longa-metragem aposta na comédia de situações para fazer rir. A maioria das piadas é absurda, quase fora do tom, com o objetivo de criar um clima de surreal ao redor da trama. A atuação de Hayek evidencia isso, cheia de maneirismos e momentos exagerados. Não há, de fato, uma mensagem ou uma profundidade de roteiro. Assim como ‘Viagem das Garotas’ e ‘Perfeita é a Mãe’, o objetivo é dar uma espiada no universo feminino (pelo olhar masculino, vale dizer) e mostrar mulheres vivendo e se divertindo em festas, intrigas e bebedeiras -- algo que era exclusivo aos homens no cinema. Vale para quem quiser rir sem pretensões e em busca de um divertimento passageiro, com algumas boas gargalhadas e uma história passageira. Lançamento exclusivo para o streaming. [-]

'Red Line Crossing' é um thriller de mistério japonês com alguns elementos de horror e um enredo certamente controverso por várias razões. Por um lado, trata da questão do assédio sexual de mulheres jovens por figuras de autoridade do sexo masculino (neste caso, de professores e alunas). Por outro lado, também expõe as distâncias que as instituições comunitárias estão dispostas a percorrer para proteger sua reputação, mesmo que isso signifique encobrir um crime. Um filme japonês que compensa sua estética austera com o trabalho de câmera que destaca a expressividade, bem como um roteiro em que as aparências escondem algo mais, com reviravoltas surpreendentes que revelam personagens muito sombrios. Novidade em primeira mão no Spamflix. [-]

Um dos filmes mais aclamados apresentados durante o Sundance Film Festival de 2019 (onde recebeu o prêmio do júri). Semi-autobiográfico, dirigido por Joanna Hogg e estrelado por Honor Swinton Byrne (filha de Tilda Swinton e dramaturgo John Byrne), 'The Souvenir' é um drama do subgênero "amadurecimento", com uma visão incisiva madura e feminina de um relacionamento romântico e destrutivo. Um conto agridoce de amor confundido com narcisismo, oportunismo e ansiedade, com grandes atuações de Tom Burke ('Só Deus Perdoa') e da grande Tilda Swinton ('Precisamos Falar Sobre o Kevin'). Mais uma novidade que, com cinemas fechados, chegou primeiro ao VOD. [-]

Do cineasta japonês Shûgô Fujii ('Red Line Crossing'), 'Mimicry Freaks' é um filme que, além de entrar na categoria de terror, é um pouco difícil de classificar. Afinal, sua narração delirante salta entre passado e presente, e empresta elementos de histórias folclóricas japonesas, ficção científica (às vezes lembra 'The Hut of Terror') e gore. A violência no filme é extrema, por isso não é adequada para estômagos fracos. No entanto, fãs de horror japonês e sua propensão a mostrar jatos de sangue, mortes e tripas voando pela tela se sentirão em casa. Filme selecionado no Festival Internacional de Cinema de Bruxelas. Lançamento em primeira mão no Spamflix. [-]

Filme que tem causado polêmica entre o público americano. Afinal, de um lado, alguns espectadores acreditam que ‘The Kill Team’ surge quase como um filme-denúncia sobre os horrores de conflitos armados, assim como foi com o clássico ‘Johnny Vai à Guerra’ ou, ainda, ‘Nascido em 4 de Julho’. Do outro lado, parte do público vê como uma mentira exagerada, e perigosa, sobre o que acontece nos bastidores da guerra. Um filme político, num espectro diametralmente oposto à ‘Sniper Americano’, por exemplo. Independente da visão que se tem, porém, destaca-se a crueza dos atos retratados pelo diretor Dan Krauss. Ele, que já tinha dirigido um documentário de mesmo título sobre o acontecimento, vai fundo no abalo psicológico de um soldado que vê seu superior e colegas cometendo crimes dispensáveis. Nat Wolff (do romance ‘Cidades de Papel’) e Alexander Skarsgård (de ‘Melancolia’) entregam as interpretações mais difíceis de suas carreiras, colocando textura e dor sobre seus personagens. Não é um filme fácil de digerir, tampouco de entrar em um consenso. No entanto, é certeiro ao criar clima de guerra. E isso, talvez, já seja o bastante. Mais um longa da semana que chega primeiro ao VOD. [-]

Lançado durante o Festival de Cinema de Tribeca, 'Atrás da Estante' é o tipo de documentário de muitas coisas ao mesmo tempo: por um lado, é uma cápsula do tempo da comunidade LGBT de Los Angeles no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, época do boom da fita VHS e de seu papel na comercialização da pornografia (como em 'Boogie Nights'), mas também sobre a epidemia da AIDS. Por outro lado, é uma curiosa anedota que também é pessoal para a diretora, a artista Rachel Mason, uma vez que é sobre a história de seus pais e o legado de comunidade e empatia que eles deixaram em sua loja, chamada ‘Circus of Books’. Igualmente divertido e comovente. Exclusivo da Netflix. [-]

Tema pouquíssimo abordado nos cinemas e na literatura, as “escravas brancas” são mulheres, geralmente traficadas para o Brasil e vindas do leste europeu, e que são forçadas a se prostituírem. Aqui, em ‘Jovens Polacas’, o cineasta Alex Levy-Heller (do bom ‘Christabel’) traz luz à essas pessoas, escondidas na sombra de preconceito e desatenção. Refinado esteticamente, o longa-metragem acerta ao tratar o tema com cuidado, sem explicitar situações extremas e com uma fotografia que salta aos olhos. Acaba se alinhando mais à filmes como ‘Tráfico de Inocentes’ e se afasta de produções como ‘O Livro das Revelações’ e ‘Bound to Vengeance’, revelando principalmente o drama das personagens. É um filme lento, com divagações e até algumas experimentações narrativas, mas que se justifica ao servir de alerta e dando voz para essas pessoas reais, mas tão esquecidas. [-]

Além de ter se consolidado no melodrama com filmes como ‘A Vida Invisível’ e ‘Céu de Suely’, o cineasta Karim Aïnouz também se arriscou em documentários como ‘Catedrais da Cultura’ e ‘Sertão de Acrílico Azul Piscina’ -- no entanto, sempre dividindo a direção com outros parceiros. Agora, porém, ele faz seu primeiro voo solo no gênero com ‘Aeroporto Central’, premiado no Festival de Berlim. Aqui, ele mantém seu estilo contemplativo e melodramático para falar sobre o aeroporto desativado de Berlim-Tempelhof, que hoje serve como ponto de encontro de alemães e de refugiados. É inegável a presença de um estilo próprio de Karim, que se vale de uma emoção embargada no retrato das pessoas que cruzem aquele ambiente cheio de histórias. Não tem a força de seus dramas, mas mostra, a partir dessa história curiosa, o olhar do premiado cineasta sobre acontecimentos cotidianos. Quem gosta do estilo dos filmes de Karim, sem dúvidas, vai encontrar aqui um acalento. [-]

Produzido por Jason Blum (de filmes como ‘Corra!’ e ‘Whiplash’) e Ryan Murphy (‘American Horror Story’ e ‘Pose’), o documentário ‘Secreto e Proibido’ não tem nada a ver com as principais produções da dupla. Longe do horror, o filme conta a história de amor entre duas mulheres, em 1947, que decidem desafiar tabus e romper com preconceitos que persistem até os dias de hoje, mais de 70 anos depois. Assim como a ficção ‘Loving: Uma História de Amor’, há uma preocupação em mostrar o poder e a conexão entre as duas protagonistas do documentário, sem deixar que esses aspectos negativos -- ainda assim evidenciados -- tomem conta. Ou seja: é um filme para quem quer mergulhar numa bonita história de amor e, de quebra, refletir sobre as injustiças na sociedade que perduram até os dias atuais. Lançamento da Netflix. [-]

Signe Baumane é uma diretora e artista letã cujo trabalho recebeu indicações e prêmios em vários festivais internacionais de cinema, incluindo Berlim e o mais importante na indústria da animação, Annie -- ela também é diretora do aclamado longa-metragem de animação 'Rockets in My Pockets’. Agora, ‘Ten Animated Films by Signe Baumane' é uma coleção de curtas-metragens animados feitos pela diretora entre 1991 e 2005, com seu estilo característico de desenhos planos e infantis, com temas adultos que vão do feminismo à psicanálise, à separação de sexo, amor e sonhos. Uma coleção indispensável para encontrar uma figura de animação que, sem dúvida, merece UM maior reconhecimento. Novidade que chega pela Spamflix. [-]

É impossível não tecer paralelos entre ‘Fim de Festa’, novo filme do cineasta Hilton Lacerda, e ‘Tatuagem’, seu grande sucesso. Afinal, além deste último ser referência no trabalho do pernambucano, ele também é a origem da frutífera parceria entre o cineasta e o excelente ator Irandhir Santos. No entanto, as duas produções não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Tatuagem é um filme sobre um futuro positivo e cheio de possibilidades, trafegando no mar das narrativas provocativas, ‘Fim de Festa’ é sobre a melancolia que surge após a euforia. É o período após as festas, onde bate o cansaço, dúvidas sobre o futuro. Com um ar que mistura João Ubaldo Ribeiro, Rubem Braga e Nelson Rodrigues, a história se debruça sobre diferentes tipos urbanos -- os jovens desconstruídos, o policial melancólicos -- e se aprofunda nas dores, nas melancolias, nos sofrimentos. Enquanto ‘Tatuagem’ dava um indicativo que as coisas iam melhorar após perrengues, ‘Fim de Festa’ traz o olhar de dúvida. O que nos aguarda depois da euforia? Filme que estava em cartaz nos cinemas quando a crise começou e que, por isso, teve o lançamento no streaming adiantado. [-]

O caso de Cyntoia Brown, uma mulher negra prostituta desde a adolescência e julgada adulta aos dezesseis anos por assassinato, ganhou um interesse renovado dos ativistas em 2017, depois que sua petição por clemência foi rejeitada. Tampouco é o primeiro documentário sobre o assunto (já existe 'Me Facing Life: Cyntoia's Story' de 2011, pelo mesmo diretor), mas 'Clemência: A História de Cyntoia Brown’ chega quase uma década de batalhas legais depois, com novos os novos andamentos do caso. Esta produção da Netflix transcende a mera curiosidade dos documentários típicos sobre crimes reais, pois além de contar o caso polêmico (com imagens das alegações em tribunal), também explora quais são as condições sociais que levam a uma pessoa pelo caminho trilhado por Cyntoia. [-]

Caminhando em um significado mais literal de “crime passional”, o longa-metragem ‘A Serial Killer’ surpreende ao mostrar a história de uma esposa que assume o risco de matar pessoas para livrar seu marido da prisão -- uma história maluca, digna do filme argentino ‘Relatos Selvagens’. No entanto, o diretor indiano Shirish Kunder (do estranho ‘Joker’) não abraça a comédia e o bizarro, como parece num primeiro momento, e desenvolve um thriller de ação e suspense tenso do começo ao fim. Trazendo ambientações típicas da Índia, o filme surpreende por colocar a mulher indiana -- geralmente submissa -- num papel forte e proativo, modulando a personagens em diferentes e inusitadas situações, lembrando um pouco o recente filme ‘A Justiceira’, protagonizado por Jennifer Garner. Dessa forma, ‘A Serial Killer’ pode ser uma boa porta de entrada para o cinema de Bollywood, que vem ganhando cada vez mais força e destaque, inclusive no serviço de streaming da Netflix - onde este longa foi lançado com exclusividade. [-]

Antes do Pelé existiu o pequeno Gasolina, o garoto jovem com habilidade com a bola que jogava pelas ruas de Bauru. Este filme independente, curto (de apenas 43 minutos), conta os primeiros passos de Edson Arantes do Nascimento no mundo do futebol - tudo isso misturando registros históricos e reencenações. Vai, certamente, agradar os fãs do Rei do Futebol, os torcedores do Santos e os adoradores do futebol arte de antigamente. [-]

O brutal assassinato da atriz Sharon Tate e de vários amigos em sua casa, em agosto de 1969, é um dos eventos mais chocantes não apenas na história de Hollywood, mas nos anos 1960 em geral. Por décadas, o acontecimento inspirou interesse e até curiosidade do público em geral sobre a atriz e seu então marido, o cineasta Roman Polanski ('O Bebê de Rosemary'); assim como nos integrantes da "Família Manson", manifestada em inúmeras publicações e até filmes (‘Era uma vez em ... Hollywood’, de Quentin Tarantino, é um dos exemplos mais populares). ‘A Maldição de Sharon Tate’ mistura eventos reais com ficção, inspirados em uma declaração controversa feita pela atriz em 1967, na qual ela mencionou um suposto sonho com a própria morte. O resultado é este thriller de terror estrelado por Hilary Duff (‘Gossip Girl’'), que apesar de não violar as convenções do gênero, oferece um toque peculiar a um dos assassinatos mais perturbadores do século XX. Lançamento direto para o VOD. [-]

Filme do cineasta Thales Corrêa que, primeiramente, foi distribuído de graça e, agora, chega às plataformas digitais. Com forte inspiração no cinema de Sean Baker, do excelente ‘Tangerine’, o longa-metragem aposta no formato de road movie para tentar explorar a jornada íntima e pessoal do protagonista, que busca uma antiga paixão. O caos e a bagunça de direção e roteiro, em ‘Nos Becos de São Francisco’, fica claro desde o primeiro instante. Não há muito estabilidade na história, quiçá dos personagens. O ar independente se sobressai. Dessa forma, espectadores que buscam alguma profundidade na trama devem se afastar rapidamente da proposta do filme, que acaba recaindo em estereótipos. No entanto, como uma trama de costumes e descobertas, o longa-metragem funciona. E pode até agradar. Só é preciso ir com baixas expectativas e estar aberto à experimentação. [-]