Não é de hoje que o terror brasileiro busca seu espaço, mas A Própria Carne acerta em cheio ao trocar sustos fáceis por uma tensão sufocante. Com direção de Ian SBF e o selo Jovem Nerd, o filme mergulha no horror histórico da Guerra do Paraguai com uma crueza rara, focando na psicologia de personagens como o de Jorge Guerreiro. Um dos grandes trunfos é ver o veterano Luiz Carlos Persy (a voz de Joel em The Last of Us) brilhando em cena. É cinema de gênero feito com "sangue nos olhos". No fim das contas, é um achado obrigatório para quem busca intensidade.
Sonhos (Dreams: Sueños) é um drama do cineasta mexicano Michel Franco (Nuevo Orden) que, por meio de uma intensa relação sexual e romântica na tela, também busca oferecer uma alegoria sobre a desigual relação bilateral entre o México e os Estados Unidos. A trama segue uma filântropa (Jessica Chastain) com fundações dedicadas a promover as artes nos Estados Unidos, que incentiva um bailarino mexicano (Isaac Hernández, um dos melhores bailarinos do mundo) a cruzar a fronteira ilegalmente para realizar uma demonstração de sua dança. A tórrida relação que se desenvolve, no entanto, provoca questionamentos sobre os desequilíbrios de poder e o abuso entre pessoas de origens tão distintas, mas também entre os dois países vizinhos. Vale avisar, no entanto, que o filme padece dos mesmos vícios tremendistas e tendenciosos de outras obras de Franco, embora as duas atuações principais sejam bastante elogiáveis.
Um drama biográfico que revisita a revolução estética da Nouvelle Vague sob a direção do indicado ao Oscar Richard Linklater (Boyhood, Before Sunrise), que recria o nascimento de Acossado ao lado de jovens intérpretes que assumem figuras centrais da mitologia do cinema francês, como Jean Seberg, Jean-Paul Belmondo e o próprio Godard. A produção mergulha na energia improvisada, na rebeldia formal e no caos criativo que transformaram aquele filme em um marco mundial, celebrando o impacto cultural de 1959 e a força transformadora da cinefilia — uma oportunidade rara de revisitar, com novo olhar, o momento em que o cinema decidiu reinventar a si mesmo.



