Os melhores filmes de 2022

Possivelmente é o título que mais vai marcar presença nas listas de melhores filmes de 2022, e a verdade é que concordamos. ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ é o espetáculo hiperativo e formalmente anárquico típico do ecossistema midiático de nosso tempo, mas que consegue imprimir em seu frenesi visual uma história maravilhosa sobre o horror, o absurdo e a beleza de ser uma pessoa comum em meio ao vazio do universo. Você pode ler mais sobre ele em nossa crítica. – Lalo Ortega

Dirigido apenas por Joel Coen, que geralmente conta com a presença do irmão Ethan, essa adaptação da clássica história de Shakespeare ganha contornos poéticos com uma direção de arte e fotografia que amplificam a experiência e deixam tudo mais interessante. Isso sem falar das atuações de Denzel Washington e Frances McDormand, que apenas engrandecem ainda mais um filme que já tinha tudo pra dar certo -- apesar da esnobada injusta no Oscar de 2022. Leia mais em nossa análise do filme. – Matheus Mans

Asghar Farhadi, ganhador do Oscar de melhor filme internacional por ‘A Separação', é um excelente dramaturgo, que baseia sua obra em apresentar intrincados dilemas morais, onde o entendimento de certo e errado se desenvolve ao percorrer de seus filmes, nos questionando continuamente e despindo seus personagens de uma interpretação maniqueísta. A beleza de 'Um Herói' jaz justamente em sua composição, que é crua e honesta. Todos os personagens são compreensíveis, e todos os dilemas são relacionáveis. O trabalho sobre o drama é composto de maneira magistral e com uma linguagem universal, que dialoga diretamente com qualquer espectador. Uma aula de linguagem cinematográfica, do poder do uso da imagem e forma narrativa para construir um drama social potente e profundamente humanizado. Clique aqui para ler a crítica completa. – Miguel Possebon

Empoderamento feminino, representatividade preta, africana, e um enredo épico e muito bem construído. Essa poderia ser a descrição tanto de ‘Pantera Negra 2’ quanto de ‘A Mulher Rei’, ambos filmes que marcam presença nesta lista. ‘The Woman King’, no original, traz a incrível Viola Davis como a General Nanisca, líder do Agojie, um grupo de mulheres guerreiras encarregadas de proteger o reino de Daomé na África Ocidental na década de 1820, quando uma tribo vizinha maior e mais poderosa começa a sequestrar cidadãos para vender a traficantes de escravos europeus. Não à toa, as Agojie eram reais e foram a inspiração para as Dora Milaje de ‘Pantera Negra’. Dirigido por Gina Prince-Bythewood (‘The Old Guard’), ‘A Mulher Rei’ é um filme rico, tanto em termos de entretenimento e arte quanto de significados culturais. E vale cada minuto de suas 2h14. – Vitória Pratini

Em breve nos cinemas. Falar sobre arte, sua moralidade, a dos artistas que a criam e a separação (ou não) de ambos, costuma ser um assunto espinhoso hoje: as posições tendem a ser radicais, polarizadas ainda mais pelas bolhas das redes sociais. Com Tár, o diretor Todd Field nos conta a história de uma eminente maestrina (Cate Blanchett) e suas questionáveis ​​decisões pessoais, convidando-nos a pensar em uma alternativa: que as respostas não são tão fáceis. O mundo da arte é cheio de contradições, e nada melhor do que ver Blanchett se imolar em um dos papéis de sua carreira para refletir sobre isso e tirar nossas próprias conclusões. E falamos mais a fundo sobre como ‘Tár’ questiona a moralidade dos artistas. – Lalo Ortega

Delicadeza em forma de filme. ‘A Pior Pessoa do Mundo’ acerta em cheio ao falar sobre uma jovem que tenta acertar e seguir o caminho mais esperado na jornada de sua vida, mas sempre acaba tomando decisões inesperadas e/ou precipitadas. Com uma atuação certeira de Renate Reinsve, o longa-metragem norueguês volta a mostrar duas coisas: Joachim Trier é um dos grandes cineastas em atividade e ninguém consegue segurar o cinema nórdico. Leia mais sobre o filme em nossa crítica. – Matheus Mans

Em um tempo que o cinema blockbuster está completamente inundado de franquias intermináveis, sem criatividade e que parecem seguir um algoritmo repetidamente, ‘Top Gun: Maverick’ surge como um contraponto improvável. Afinal, o que o resgate de um filme discutivelmente datado dos anos 80 poderia oferecer? E assim surge a maior surpresa de 2022, batendo recordes de bilheteria e se mantendo em cartaz por meses, essa continuação provou seu valor. Um espetáculo visual e técnico, experiência incrível na tela grande e, além de tudo, um filme que traz um discurso poderoso: Maverick fala em seu cerne sobre a celebração da realização humana, e do poder da determinação. Filme para assistir com a família, vibrar e se emocionar. Para se aprofundar mais nos temas, sugerimos ‘Top Gun: Maverick’ e a Síndrome de Peter Pan – Miguel Possebon

De todos os super-heróis que tiveram suas versões cinematográficas, o Homem-Morcego foi o que mais protagonizou bons filmes. Desde a elogiada trilogia de Christopher Nolan que rendeu um Oscar póstumo para Heath Ledger até ‘The Batman’, lançado em 2022. O longa-metragem dirigido por Matt Reeves tem uma proposta diferente: um Batman noir, melancólico, com foco no lado detetive do herói. A fotografia caprichada e a trilha sonora intensa dão tom a uma Gotham chuvosa e fria. Robert Pattinson, de vampiro na Saga Crepúsculo a “Morcegão” em Batman, interpreta um Bruce Wayne em crise, assombrado por seu passado e descobrindo o que fazer no futuro. O elenco coadjuvante não fica para trás. Paul Dano, Zoe Kravitz e Colin Farrell entregam atuações dignas de seus ricos personagens das HQs. – Vitória Pratini

Nenhuma lista dos melhores filmes de 2022 ficaria completa sem esta produção que, mais do que um simples documentário, é o mais próximo que o cinema pode chegar de uma viagem cósmica pela mente e obra de um dos maiores artistas do século XX. : David Bowie. Como se fosse a montagem de um quebra-cabeça, ‘Moonage Daydream’ utiliza uma mistura de imagens inéditas, gravações do próprio músico e uma edição de outro planeta para construir uma narrativa em que é o próprio Bowie quem nos guia por suas experiências, ideias e uma forma fascinante de ver o mundo, tão à frente do seu tempo que até hoje parece progressista. Leia mais sobre ‘Moonage Daydream’ em nossa crítica. – Lalo Ortega

Um dos filmes mais incômodos de 2022, ‘Titane’ lembra o melhor de David Cronenberg ao contar a história de uma mulher que está virando máquina. Isso mesmo. É um filme potente e provocativo e que, apesar de repetir uma temática que já foi abordada em outros filmes de maneira bem semelhante, consegue trazer uma discussão contemporânea importante com as atuações de luxo de Vincent Lindon e Agathe Rousselle. Um filmaço de 2022. – Matheus Mans

Honesto, singelo, pessoal e fortemente relacionável, ‘Marte Um’ foi o filme brasileiro perfeito para o ano. É sobre luta, dificuldade, perrengue, mas acima de tudo sobre companheirismo e amor. Conta sobre uma família de classe média baixa mineira, onde cada membro busca se entender em meio a adversidades, e o amor e esperança que os une.Uma família tão única, mas ao mesmo tempo tão comum que é impossível não se identificar com eles. Um filme feito por nós e pra nós, que dá gosto de ser brasileiro e nos recorda que não importa o que aconteça, ninguém pode nos tirar o direito de sonhar. – Miguel Possebon

Os filmes da Pixar têm um lugar especial no coração de muitos espectadores – incluindo esta que vos fala. Com ‘Red: Crescer é uma Fera’ não foi diferente. Assim como ‘Divertida Mente’ e ‘Viva - A Vida é uma Festa’ colocaram às emoções tanto dos personagens quanto dos fãs à flor da pele, ‘Red’ traz à tona os altos e baixos dos anos escolares literalmente à flor da pele: a jovem de 13 anos, Mei, descobre que vira um panda vermelho enorme quando é tomada por fortes emoções. Que adolescente não se sentiu assim, não é mesmo? A animação foi a estreia de Domee Shi na direção de um longa-metragem, após ter comandado o curta da Pixar ‘Bao’, de 2018. E que estreia! A trama mistura muito bem comédia, fantasia, além de temas como representatividade feminina, amadurecimento, nostalgia e uma mensagem empoderada. – Vitória Pratini

Das três versõesde Pinóquio lançadas em 2022, uma foi claramente superior e muito mais inspirada. O diretor mexicano Guillermo del Toro põe sua peculiar sensibilidade para o cinema de terror a serviço de uma fábula sobre o surgimento do ódio -situa-se na ascensão do fascismo na Itália- e o amor como antídoto para resistir a ele. Maravilhoso em todos os sentidos, ‘Pinóquio de Guillermo del Toro’ é sem dúvida um dos melhores filmes de 2022, e você pode ler mais sobre ele em nossa crítica. – Lalo Ortega

Seria esta, talvez, a presença mais polêmica da nossa lista de melhores filmes de 2022? ‘Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental’, vencedor de Berlim em 2021, começa com um cena de sexo explícito. É estranho, desconfortável. Até que entendemos: aquela sequência é, na verdade, como um vídeo amador. Logo depois disso, Radu Jude mostra as reações de uma sociedade hipócrita com o vazamento daquele vídeo e como isso impacta a vida da protagonista. Brilhantemente conduzido, o filme expõe como nossa sociedade está cada vez mais doente. – Matheus Mans

‘Não! Não Olhe!’ é o terceiro filme de Jordan Peele, e provavelmente o seu mais ousado. Uma espécie de mistura entre ‘Tubarão’ (Spielberg) e ‘Sinais’ (Shyamalan), esse scifi com um pé no terror é extremamente metalinguístico, e trata essencialmente o poder e a influência da imagem no homem, seja por medo, ganância ou até fascínio, criando um contraponto forte entre a exploração comercial da imagem e o desejo de capturar o impossível. Com planos deslumbrantes e uma tensão palpável permeando o filme do começo ao fim, ‘Não! Não Olhe!’ é um espetáculo em todos os sentidos, desses filmes que dão gosto de assistir e as cenas ficam presas na sua cabeça por dias. Falamos mais sobre nessa crítica. – Miguel Possebon

Filme policial, com toques de drama e suspense, ‘O Desconhecido’ conta a história de um policial disfarçado que constrói uma relação intensa com um suspeito de assassinato na tentativa de conseguir uma confissão. Com atuações fortes de Joel Edgerton (‘O Presente’) e Sean Harris (‘Missão: Impossível - Efeito Fallout’), o longa-metragem traz um clima sombrio e mostra os limites das relações humanas – com um roteiro instigante de Thomas M. Wright (‘Acute Misfortune’), também diretor do longa, que deixa o público preso na trama.

Nos últimos tempos, a internet tem sido retratada no cinema como um espaço distópico de negatividade e recuo – com razão. No entanto, o cineasta japonês Mamoru Hosoda argumenta que não precisa ser assim, desde que mantenhamos nossos laços humanos e comunidade fortes no mundo real. Com ‘Belle’, o diretor expande essa ideia por meio de uma reinterpretação de ‘A Bela e a Fera’ no ciberespaço, que também se livra das conotações sexistas da história original. Através de sua incrível barroquidade visual e uma trilha sonora capaz de envergonhar qualquer clássico da Disney, ‘Belle’ apresenta a internet como uma chance de se conectar, se refugiar no outro e crescer. – Lalo Ortega

E quem disse que os filmes de terror não nos surpreenderam em 2022? ‘Noites Brutais’ traz a história de uma mulher que, durante uma viagem a trabalho, se hospeda em um Airbnb. Só que as coisas começam a ir mal quando um estranho já está hospedado no local, em um caso de reserva dupla. Obviamente, logo as coisas começam a dar errado durante a noite – e nem um pouco do jeito que a gente espera, com algumas reviravoltas bizarras e grotescas. É preciso embarcar na história para gostar do que está vendo ali na tela. – Matheus Mans

Sean Baker é um dos mais interessantes cineastas americanos independentes da atualidade, e tem uma capacidade de composição magistral. Seus filmes sempre marcam, são tocantes, profundos em temas sociais, sabem mesclar muito bem diferentes sentimentos e, talvez sua característica mais marcante: verossimilhantes. Ele compõe filmes que são pedaços de vida, com personagens completamente humanizados e conflitos sem maniqueísmo. Ganhou muita atenção por seu último trabalho, ‘Projeto Flórida’, e agora retornou em 2022 com seu filme mais ousado e instigante até o momento. ‘Red Rocket’ traz a odisséia às avessas do carismático e extremo mal caráter Mikey Saber, um ex-ator pornô que retorna para sua família. Uma dramédia ácida e cheia de tensão, ‘Red Rocket’ é uma desventura completa. – Miguel Possebon

Os Racionais MC’s se confundem com a história da música brasileira. Afinal, o grupo formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay trouxe o rap para o Brasil e mostrou como as pessoas das periferias também poderiam ter música e poesia para falar sobre suas dores, aflições, desejos e afins. ‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’, assim, segue a cartilha dos documentários biográficos e fala sobre detalhes da jornada desse grupo, com entrevistas com os principais integrantes e pessoas que participaram ativamente da história do Racionais. Um filme para celebrar, cantar e se emocionar.

Às vezes, você não precisa virar uma fórmula inteira de cabeça para baixo para atualizar uma franquia, basta contar uma história interessante e inteligente. ‘O Predador: A Caçada’ é, de longe, um dos melhores filmes da saga ‘Predador’ por voltar ao básico: um alienígena invencível e um personagem humano lutando para sobreviver – mas, agora, em território de nativos norte-americanos no final do século XVIII. No entanto, ter uma protagonista feminina (Amber Midthunder) em um cenário tipicamente masculino redefine todo o discurso do idealizado herói machista americano do original, dando-nos uma heroína de ação exemplar em um dos melhores filmes de 2022. – Lalo Ortega

Não poderia faltar Nicolas Cage na lista dos melhores filmes de 2022. Além do bom ‘O Peso do Talento’, ‘Pig’ se tornou um acerto de destaque em sua carreira -- e um dos melhores filmes do ano. O filme conta a história de Rob (Cage), um homem solitário que vive apenas com a companhia de sua porca caçando trufas, iguaria apreciada na gastronomia. Só que toda sua vida muda de uma hora para outra quando o animal é sequestrado. A partir daí, o filme mostra que não é um novo ‘John Wick’, mas uma pérola sobre memória, vingança e luto. – Matheus Mans

‘Tico e Teco: Defensores da Lei’ é simplesmente o filme mais original da Disney em muito tempo. Irreverente, engraçado, empolgante e muito mais ácido do que você esperaria de um desenho infantil, o filme não poupa piadas para satirizar seu estúdio, e nem escolhas estilísticas ficam impunes. Misturando live-action com animação 2D e 3D, ‘Defensores da Lei’ é uma aventura policial cheia de criatividade, para assistir em família e garantida a entreter os adultos. – Miguel Possebon

Que me desculpe Martin Scorsese, mas (de vez em quando) Marvel é cinema sim. ‘Pantera Negra: Wakanda para Sempre’ pode até não ser tão bom quanto o primeiro longa-metragem do herói – considerado um dos melhores filmes de super-herói da Marvel, quiçá dos demais estúdios também. Porém, mesmo sem seu protagonista, o diretor Ryan Coogler e o elenco de ‘Pantera Negra 2’ conseguiram contar uma história que respeita o lendário Chadwick Boseman e ainda deixa 90% dos espectadores com os olhos marejados. Além, é claro, de dar a deixa na cena pós-créditos para o Universo Cinematográfico Marvel continuar para além da morte do ator. Leia nossa crítica do filme. – Vitória Pratini

Um filme é genial quando consegue cativar seu público em seu humor macabro para rir discretamente dele e, ao mesmo tempo, de si mesmo. ‘O Menu’ é um thriller de humor ácido sobre um grupo de gourmets ricos que pagam milhares de dólares pela experiência de ir ao restaurante exclusivo de um chef famoso (Ralph Fiennes), apenas para se verem envolvidos em um sinistro jogo de vingança por terem profanaram a arte da gastronomia. Anya Taylor-Joy brilha novamente neste filme que tem muito a nos dizer sobre o mundo da arte e nosso lugar nele, algo que falamos com mais detalhes em nossa crítica. – Lalo Ortega

Este longa de Andrea Arnold (‘Docinho da América’) escancara os bastidores de uma fazenda de leite, mostrando o tratamento dispensado a uma vaca que vive por lá. É um documentário cru e realista, sem qualquer tipo de distração, que traz um dos finais mais duros de assistir do ano – é desesperador, mesmo sabendo o que vai acontecer. Assim como ‘Safári’, documentário potente de Ulrich Seidl, é um filmaço que nunca mais quero ver. Confira nossa análise do filme. – Matheus Mans

Um dos filmes mais sensíveis e peculiares do ano, ‘Aftersun’ é um íntimo retrato familiar. Um pai (em uma interpretação maravilhosa por Paul Mescal, de A Filha Perdida) e sua filha de 11 anos passam férias idílicas em um resort turco. No presente, breves momentos apontam que estamos assistindo à filha, já adulta, recordando esse momento, e o filme quase todo é construído de maneira a remeter um diário de viagem. A grande beleza aqui é o que jaz no não dito. ‘Aftersun’ constantemente mescla a nostalgia da memória com a melancolia da percepção amadurecida de algo que não existe mais. É um filme tão forte quanto delicado, sobre a experiência de recordar, e não deve passar despercebido. – Miguel Possebon

David Leitch se destaca novamente. O diretor de ‘John Wick’, ‘Atômica’ e ‘Deadpool 2’ concentra em ‘Trem-Bala’ o melhor de cada um dos seus filmes anteriores: cenas de ação espetaculares, direção impecável, fotografia em tons neon, roteiro com sátiras ácidas, incríveis referências à cultura pop e participações especiais. Junte a essa fórmula um elenco de peso, que inclui Brad Pitt, Aaron Taylor-Johson, Brian Tyree Henry, Joey King e até Sandra Bullock. Além de uma trama que se passa 90% dentro dos vagões de um trem em movimento. – Vitória Pratini

Estreia da MUBI no início do ano, esta produção poderia passar despercebida nas listas dos melhores filmes de 2023, embora a verdade seja que conquistou o seu lugar desde então. O que vemos quando olhamos para o céu? Tudo começa como um conto de fadas moderno: um homem e uma mulher se encontram por acaso e é amor à primeira vista, então eles concordam em se encontrar no dia seguinte. Porém, na manhã seguinte, ambos acordam em corpos diferentes, diferentes de como se encontraram. A partir dessa anedota, o diretor Alexandre Koberidze explora lentamente as belezas cotidianas da vida de amantes perdidos na cidade georgiana de Kutaisi, na qual eles se reencontram (ou não). A questão é retratar a beleza do pouco controle que temos sobre a vida, e que vai acontecer como tem que acontecer. Leia nossa entrevista com o diretor aqui. – Lalo Ortega

Que o cinema indiano está em crescimento, ninguém pode negar. Mas não dava para esperar um filme tão bom e grandioso quanto ‘RRR’. Com suas três horas de duração, o longa-metragem fala sobre um guerreiro corajoso que, durante uma missão perigosa, encontra um policial durão que serve ao exército britânico. Apesar de efeitos especiais um tanto problemáticos, o filme conta com cenas musicais grandiosas e que surpreendem. – Matheus Mans

Apichatpong Weerasethakul é um dos diretores contemporâneos internacionais mais singulares da atualidade, com uma filmografia consolidada nas últimas décadas e alguns prêmios coletados em Cannes. O tailandês é adepto de um estilo chamado slow cinema (ou cinema lento), cuja ideia é justamente a exploração da dilatação do tempo pelo plano. Em ‘Memoria’, ele se reúne com a consagradíssima Tilda Swinton para seu primeiro filme fora da Tailândia, um drama que se desenrola na busca por um conceito abstrato - um estrondo que a personagem de Tilda escuta ecoando em sua cabeça-. É uma experiência desafiadora, e deve ser assistido com grande atenção. Para os determinados porém, uma vivência única se recebe aqui. – Miguel Possebon

Entre as décadas de 90 e 2010, Adam Sandler foi das comédias pastelão para o par amoroso das comédias românticas. Recentemente, dedicou sua carreira ao drama em filmes como ‘Jóias Brutas’ – que colocou seu nome nas principais premiações do cinema. Em ‘Arremessando Alto’, o ator mistura um pouco dos dois mundos com uma “jogada de mestre”. Trata-se de um filme da Netflix feito em parceria com os estúdios de Adam Sandler e LeBron James, com inspiração e referência direta a ‘Rocky - Um Lutador’. O longa aborda temas como superação e paixão pelo esporte, e ainda traz a maior concentração de astros da NBA nos cinemas desde ‘Space Jam’. Brincadeiras à parte, a inserção de ‘não-atores’ permite sequências de ação e de jogos de basquete muito genuínas, que enriquecem o roteiro, a direção e a fotografia. – Vitória Pratini

O “gigante asiático” é um país que se fala com tanta admiração quanto desconfiança, e não é por menos: a China teve um crescimento econômico brutal que coloca o país no caminho de se tornar a grande superpotência econômica do século XXI. Mas a que custo? Indicado ao Oscar e premiado no Tribeca Film Festival, ‘Ascension’ é um documentário que busca respostas nos mares de trabalhadores, lixo plástico e mercadorias de consumo que a nação asiática produz aos milhões a cada minuto, passando da classe trabalhadora à contraditória elites que abraçaram o capitalismo. Não há narrador além dos significados criados pelas imagens justapostas, demonstrando as virtudes e os horrores da expansão da economia chinesa de hoje. – Lalo Ortega.

Ganhador do Oscar de melhor filme internacional em 2022, ‘Drive My Car’ de Ryusuke Hamaguchi é uma verdadeira obra. Traz uma reflexão complexa sobre luto e superação, cotidiano e arte. É um filme contemplativo, que toma seu tempo para nos levar em uma jornada impactante sobre a vida. Adaptado de um conto de Haruki Murakami, é um filme dotado de delicadeza e sensibilidade. Uma joia lapidada cuidadosa e precisamente para mostrar toda sua beleza, e essencialmente uma jornada metalinguística sobre o amor e o luto. – Miguel Possebon

Filme tão espetacular quanto produções como ‘O Resgate do Soldado Ryan’ e ‘Dunkirk’, ‘Nada de Novo no Front’ chama a atenção, principalmente, pelo mergulho que Edward Berger (‘Jack’) consegue promover, colocando o espectador no coração dos embates da Primeira Guerra Mundial. O foco é principalmente a jornada de um jovem soldado alemão na frente ocidental, enfrentando as terríveis experiências que irão lhe marcar pelo resto da vida. Vale assistir com foco total no filme, som no máximo, para absorver toda a emoção.

O consagrado e polêmico diretor Gaspar Noé, expoente do Cinema Extremo Francês, compõe em ‘Vortex’ o ponto mais fora da curva em sua carreira, com uma obra surpreendentemente intimista e contemplativa. Aqui Noé substitui a usual provocação imagética de seus filmes anteriores por outra perturbação -a do significado do que estamos vendo, a gradativa jornada de um casal acometido pela demência, que inclusive reflete a marcante frase da carreira do diretor ”o tempo destrói tudo”. Melancólico, duro e provavelmente o filme mais pessoal do diretor. – Miguel Possebon

Como é a vida de uma aeromoça em uma companhia aérea de baixo custo? Essa é a história de ‘Bem-vindos a Bordo’, filme da dupla Emmanuel Marre e Julie Lecoustre que mostra o dia a dia de Cassandre (Adèle Exarchopoulos) no avião enquanto foge dos problemas com a família e da falta de qualquer relação verdadeira — seja com amigos ou interesses amorosos. Com ótima atuação da atriz francesa, o filme ainda encontra espaço para refletir sobre a precarização dos serviços e como as pessoas são afetadas nesses processos. Um bom drama francês que deve cativar e emocionar.

A rotina de um chef de cozinha pode parecer chata ou até mesmo banal em um primeiro momento, certo? Errado: ‘O Chef’ mostra como essa rotina pode ser maluca, descompensada, insana. Dirigido por Philip Barantini (‘Villain’), que assina o roteiro ao lado de James Cummings, o longa-metragem é um mergulho tenso e desesperador nos bastidores das cozinhas. Para criar esse ambiente, o filme usa técnicas e efeitos para dar a impressão de que é sem cortes, como um único plano-sequência. Dá a sensação de ansiedade, de que aquela coisa que estamos assistindo na tela não tem fim. Tudo é ainda mais ampliado com a atuação potente de Stephen Graham, que mergulha na vida de um chef que não consegue se controlar, nem controlar as coisas ao seu redor. No fim, ‘O Chef’ é um drama inesperado. Saiba mais lendo a entrevista com o diretor - Matheus Mans.

Dentre os documentários true crime lançados no streaming, nenhum chega perto de ‘A Verdadeira História do Roubo do Século’, produção exclusiva da Netflix. Aqui, acompanhamos a história de um grupo que fez um roubo inacreditável de um banco argentino. É como se fosse ‘La Casa de Papel’ da vida real, com toda aquela empolgação natural do tema. Além de ser bem contada, a história também surpreende por artifícios adotados pelo diretor Matías Gueilburt que traz um final maravilhoso. - Matheus Mans.

Mesmo quando o cinema recorre ao artifício dramático, vale a pena nos perguntarmos qual o motivo disso. Há casos valiosos em que a artificialidade do cinema contribui para gerar a sempre necessária memória histórica, como é o caso da ‘Argentina, 1985’. Protagonizado por Ricardo Darín e Peter Lanzani, o filme recria a crônica do julgamento histórico sobre as consequências nefastas e históricas da ditadura militar argentina, em uma trama cheia de acobertamentos e ameaças, mas também de esperança. "Nunca mais", gritaram os argentinos naquele ano. Que o cinema os ajude a nunca mais esquecê-los. – Lalo Ortega