‘A Pequena Sereia’: semelhanças e diferenças do remake live-action e da animação original
A nova versão de A Pequena Sereia chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de maio. É mais um lançamento na longa tendência da Disney de refazer seus clássicos animados em live-action ou imagem real.
Desta vez, é a vez do amado clássico de 1989, o primeiro filme no período conhecido como o “Renascimento da Disney”. Para os fãs do Mickey Mouse, não é qualquer coisa. Quanto a produção manteve a essência do original no remake?
Semelhanças e diferenças entre A Pequena Sereia animada e live-action
Semelhança: A trama (em linhas gerais)
Sejamos claros: os remakes live-action da Disney não se destacam por sua originalidade, exatamente. Em termos gerais, todos eles respeitam a história das versões animadas, adicionando algumas cenas ou personagens que não mudam muito o objetivo da narrativa.
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Na superfície, podemos dizer que A Pequena Sereia não é exceção. Ambas as versões contam a história da sereia Ariel, a filha mais jovem do Rei Tritão, que se rebela contra ele para conhecer o mundo dos humanos. Ariel faz um acordo com a bruxa do mar, Úrsula, para trocar sua voz por pernas humanas e poder conhecer o Príncipe Eric, que está obcecado em encontrar a mulher de bela voz que o salva de se afogar. Ambos devem se apaixonar em um prazo máximo de três dias para que ela possa recuperar sua voz e se salvar de Úrsula.
Diferença: Um subtexto sobre tolerância e abraçar o diferente
Dito isso, uma das mudanças que A Pequena Sereia live-action traz em relação à animação original é a expansão das motivações de Ariel (Halle Bailey) e Eric (Jonah Hauer-King), o que enriquece seu relacionamento eventual. De um lado, Ariel continua sendo motivada pelo seu desejo de conhecer o mundo humano, mas aqui isso não é usado como um pretexto para conhecer Eric e se apaixonar por ele. Por outro lado, embora a versão animada original estabeleça certos preconceitos de Tritão e do povo do mar em relação aos humanos, aqui isso é explicado em mais detalhes: o rei acredita que eles são selvagens, mencionando que a mãe de Ariel foi assassinada por eles. A contraparte é que Eric não é mais apenas um príncipe bonito e corajoso por quem a protagonista se apaixona para que ele a salve. Ele é um jovem homem com uma genuína curiosidade em conhecer o mundo, o que o conecta finalmente a Ariel. No entanto, assim como existe o preconceito do povo do mar em relação aos habitantes da superfície, também há uma profunda superstição e desconhecimento por parte dos humanos em relação aos “deuses do mar”. Com tudo isso, a nova versão live-action de A Pequena Sereia constrói uma história sobre abrir nossos corações e mentes para o que é diferente de nós, para podermos conhecê-lo, compreendê-lo, superar o ódio e o medo e, talvez, amá-lo. É um subtexto muito mais interessante e valioso do que é apenas sugerido na animação original, onde Ariel é retratada como uma menina rebelde, cujas decisões são tomadas ou resolvidas por ela no final. Falaremos mais sobre este último ponto mais adiante.
Semelhança: Personagens clássicos
Assim como a estrutura da trama permanece quase idêntica no live-action em comparação com a animação, esta versão de A Pequena Sereia traz de volta todos os personagens essenciais do filme original. Embora com redesigns evidentes e algumas outras mudanças significativas, Ariel e Eric são acompanhados pelo Rei Tritão (Javier Bardem), Úrsula (Melissa McCarthy), o caranguejo Sebastião (voz de Daveed Diggs) e o peixe tropical Linguado (voz de Jacob Tremblay). Gaivota (voz de Awkwafina) é reimaginada aqui como uma fragata fêmea em vez de um gaivota macho, mas sua função na história é a mesma.
Embora os remakes live-action da Disney geralmente não adicionem muito valor narrativo aos seus clássicos animados originais, eles costumam trazer personagens novos que acrescentam alguma ideia, linha narrativa ou contexto. No caso de A Pequena Sereia, há alguns rostos e nomes novos. No entanto, o mais destacado é o da Rainha Selina (Noma Dumezweni), que governa o reino do qual Eric é príncipe (algo que nunca é explicado ou contextualizado melhor no filme original). Além disso, é sugerido que Eric é filho adotivo de Selina, que chegou às costas de seu reino por meio de um naufrágio. Um pequeno detalhe do roteiro que alimenta o desejo de Eric de conhecer o mundo, o desejo da rainha de retê-lo e o medo de seu reino em relação ao mundo do mar.
Diferença: Ariel
Se formos sinceros, a animação original nos apresenta uma caracterização de Ariel muito questionável, especialmente para as sensibilidades mais conscientes hoje em dia. A sereia é retratada como uma adolescente que decide fazer um acordo com Úrsula – e arriscar a coroa de seu pai no processo – por um mero encantamento. Depois, são Sebastião, Eric, Linguado e o próprio Tritão que acabam resolvendo a vida dela.
Embora muitos dos eventos da versão original sejam mantidos, o papel de Ariel neles muda significativamente, pois ela assume um papel muito mais ativo. A rejeição da filha à intolerância de seu pai em relação ao mundo humano lhe dá uma motivação racional com a qual é mais fácil simpatizar.
Semelhança: A música de Alan Menken e Howard Ashman
Uma coisa que os remakes live-action da Disney não ousam mexer – e com razão – é a música das animações originais. Pode-se pensar o que quiser sobre os filmes em si, mas o consenso comum é que as músicas são obras-primas. A Pequena Sereia live-action resgata todas as músicas originais da animação compostas por Alan Menken e pelo letrista Howard Ashman, que faleceu em 1991. Exceto por ajustes nas letras (especificamente em Poor Unfortunate Souls e Kiss the Girl) e outros arranjos, elas estão integralmente no remake.
Diferença: Novas músicas
Dito isso, o remake traz algumas novas canções. Alan Menken foi trazido de volta para compor novas músicas junto com Lin-Manuel Miranda (Hamilton, O Retorno de Mary Poppins). No total, foram quatro músicas, embora apenas três tenham entrado na versão final do filme. Expressando sua admiração por Menken e Ashman, Miranda explicou que se recusou a escrever novas músicas para Sebastião, mas que na produção encontraram “novos momentos para musicar“.
Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.