Nos EUA, filmes da Warner vão demorar mais para chegar à HBO Max; ‘Elvis’ é a 1ª vítima Nos EUA, filmes da Warner vão demorar mais para chegar à HBO Max; ‘Elvis’ é a 1ª vítima

Nos EUA, filmes da Warner vão demorar mais para chegar à HBO Max; ‘Elvis’ é a 1ª vítima

Nova direção da Warner Bros. Discovery quer potencializar a passagem de seus filmes pelo cinema e pelas plataformas de aluguel e compra; é provável que grupo siga a mesma estratégia no Brasil

9 de agosto de 2022 13:02
- Atualizado em 10 de agosto de 2022 18:07

O sonho acabou: a janela obrigatória de 45 dias entre a estreia dos filmes da Warner Bros. nos cinemas e o lançamento na HBO Max chegou ao fim – ao menos nos Estados Unidos. Começando por ‘Elvis‘, o estúdio retorna ao modelo anterior: ou seja, após os 45 dias de exclusividade na tela grande, os longas-metragens chegam primeiro ao video on demand premium e, só um bom tempo depois, são liberados no streaming por assinatura.

O chamado PVOD, ou vídeo sob demanda premium na tradução literal, é uma modalidade do streaming transacional (conhecido como TVOD) que traz produções recentes dos cinemas, mas por uma faixa de preço mais elevada.

Nos EUA, ‘Elvis’ chegou nessas plataformas de aluguel e compra, como Apple TV, já nesta terça, 9 de agosto – exatos 45 dias depois da estreia na tela grande, o que naquele país ocorreu em 24 de junho. Porém, nada da produção aparecer no catálogo da HBO Max, o que ainda não tem data para acontecer.

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Enquanto isso, ‘Elvis’ chegou aos cinemas brasileiros em 14 de julho e o lançamento no VOD transacional daqui está marcado para 29 de agosto. Porém, até o momento, o escritório local da HBO Max não confirmou se seguirá essa mesma data – e o título não consta nos destaques divulgados para agosto.

O Filmelier questionou a plataforma sobre o assunto, que informou que “ainda não temos a definição de quando o filme ‘Elvis’ será lançado na HBO Max aqui no Brasil, as janelas ainda estão sendo estudadas.” O conteúdo será atualizado assim que houver um novo posicionamento.

De qualquer forma, é provável que as filiais da HBO Max sigam os EUA e deixem de praticar a janela de 45 dias.

Elvis, o Rei do Rock, demorará um pouco mais para chegar à HBO Max (crédito: divulgação / Warner Bros.)
O Rei do Rock demorará um pouco mais para chegar à HBO Max (crédito: divulgação / Warner Bros.)

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Mudanças de calendário na HBO Max

A janela de 45 dias foi anunciada para 2022 após o streaming adotar uma estratégia diferente para cada região do mundo em 2021. Na Terra do Tio Sam, os filmes da Warner Bros. do ano passado estrearam na HBO Max no mesmo dia que a tela grande, no chamado Project Popcorn. Já no Brasil e no resto da América Latina, esse período era de 35 dias. O prazo de um mês e meio para todo o globo foi adotado neste ano.

A mudança mais recente, com o fim dos 45 dias, reflete a troca de poder dentro do conglomerado de mídia, além de uma grande mudança no mercado de entretenimento. Antes parte da AT&T, a então WarnerMedia via, principalmente na figura do CEO Jason Kilar, a necessidade de turbinar as iniciativas no streaming para competir com Netflix e Disney.

Em meados de 2021, a AT&T anunciou que estava desmembrando a WarnerMedia – que passaria por uma fusão com a Discovery, Inc., formando a Warner Bros. Discovery em abril passado. Isso em meio a um novo momento, no qual a Netflix e Disney começaram a patinar no mercado de vídeo sob demanda, causando pânico entre os investidores.

Por tudo isso, o CEO do novo grupo, David Zaslav, possui uma visão radicalmente diferente do antecessor em vários sentidos – entre eles, do tamanho do investimento e do esforço com a streaming. O executivo anunciou que não irá investir em orçamentos volumosos para a mídia, fazendo de ‘Batgirl’ a primeira vítima dessa mudança.

“Nós temos uma visão diferente sobre lançamento direto no streaming. Estamos corrigindo o curso da administração anterior”, explicou Zalav durante a primeira conferência para o anúncio dos resultados financeiros do novo grupo, realizada na semana passada.

HBO Max: agora, a WBD quer diversificar as janelas onde atua - e potencializar faturamento sem se canibalizar (crédito: reprodução / Warner Bros. Discovery)
Agora, a WBD quer diversificar as janelas onde atua – e potencializar faturamento sem se canibalizar (crédito: reprodução / Warner Bros. Discovery)

“Essa ideia de filmes caros indo direto para streaming, não podemos encontrar um argumento econômico para isso”, continuou o CEO durante a apresentação. “Estamos fazendo uma mudança estratégica. Como parte disso, estivemos por Hollywood falando sobre nosso compromisso à exibição nos cinemas, e a janela dos cinemas. Vários filmes serão lançados com janelas mais curtas.”

É claro que “janela curta” depende do ponto de vista. Comparada com o passado recente, um filme estrear no TVOD em 45 dias é mais curto do que os 90 da realidade pré-pandemia. Porém, quando lembramos do lançamento simultâneo visto em 2021, a Warner Bros. Discovery claramente quer ampliar esse prazo – e potencializar a receita em cada janela.

“Nós vamos abraçar totalmente os cinemas”, disse um contundente Zaslav.

Efeito ‘Top Gun: Maverick’

Na prática, os olhos de Zaslav – e de todo o mercado – estão brilhando com os resultados de ‘Top Gun: Maverick‘. O longa-metragem, até por exigência do astro e produtor Tom Cruise, terá uma janela de exclusividade nos cinemas à moda antiga, de 90 dias. Isso para chegar ao streaming de aluguel e compra premium: para as plataformas por assinatura, é provável que o espectador brasileiro tenha que esperar seis meses.

Com o público sabendo que o longa poderá ser assistido apenas na tela grande, sem competição de outras mídia e sem uma cópia em 4K caindo na pirataria – e, de forma inegável, pela qualidade do filme e pelo fenômeno cultural que virou -, a continuação de ‘Top Gun’ já chegou na marca de US$ 1,35 bilhão de bilheteria mundial.

Enquanto isso, produções que tiveram uma janela de 45 dias antes de entrarem no streaming por assinatura não tiveram o mesmo desempenho. ‘Thor: Amor e Trovão‘ está na casa dos US$ 700 milhões, enquanto ‘Lightyear‘ ficou em US$ 225 milhões. Pelos lados da Warner Bros., ‘Elvis’ ainda está em US$ 251 milhões.

Não dá para dizer que foi tudo um desastre, claro. ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura‘ teve uma bilheteria de US$ 954 milhões, enquanto ‘Batman‘ (que tem quase 3h de duração, o que atrapalha) chegou em uma receita de US$ 770 milhões. Porém, se não fosse o fantasma do lançamento no Disney+ e na HBO Max, será que esses resultados não seriam ainda melhores?

'Batman' foi bem de bilheteria, mas será que não teria ido melhor se não fosse o fantasma do lançamento na HBO Max? (crédito: divulgação / Warner Bros. Pictures)
‘Batman’ foi bem de bilheteria, mas será que não teria ido melhor se não fosse o fantasma do lançamento na HBO Max? (crédito: divulgação / Warner Bros. Pictures)

Há, também, a monetização da segunda janela, a do vídeo sob demanda de aluguel e compra – que substitui o mercado de mídia física, das lojas e locadoras. Se um filme está na HBO Max, por que pagar R$ 60 ou mais no Google Play? Caso ‘Top Gun: Maverick’ mantenha o mesmo fenômeno dos cinemas com a estreia exclusiva no PVOD, é provável que essa janela de exibição seja fortificada.

Por tudo isso, a norma na Warner Bros. Discovery é maximizar a distribuição, entendendo o conteúdo da “melhor forma possível”: “É importante ser flexível e ágil”, disse Zaslav aos investidores.

“Quando você está no cinema, todo o conteúdo é elevado. Quando vai para o PVOD, para o streaming, é elevado novamente”, definiu o CEO.

No final das contas, com idas e vindas da pandemia, o mercado percebeu que fortificar o período de exclusividade dos exibidores, na prática, fortifica também as janelas que vêm a seguir – além de amplificar a receita. A tela grande tem capacidade de criar um fenômeno cultural que traz assinantes e interesse para o streaming, enquanto o lançamento exclusivo ou rápido no streaming mina o interesse pelos cinemas, pelos filmes e por si próprio.

Resumindo: a era de ter conteúdo mais rápido em casa, pagando menos, está chegando ao fim. E a conta será cara, tanto em termos de tempo de espera quanto para quem quiser desembolsar mais para ver antes.

Atualizado às 15h50 de 9 de agosto com o posicionamento da HBO Max no Brasil.

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