Mercado de streaming

O impossível aconteceu? Netflix faz acordos históricos para ter filme nos maiores cinemas do mundo

O streaming veio para matar os cinemas e a TV paga: essa era o pensamento comum há alguns anos, algo que se intensificou ainda mais no começo da pandemia de covid-19. Porém, enquanto a televisão por assinatura vai realmente definhando, a tela grande parece querer encontrar uma nova vida. E o mais surpreendente: tendo justamente o streaming como aliado. Quem diz isso? A própria Netflix, aquela que já foi a mensageira do apocalipse.

Na última semana, a gigante do streaming fechou um acordo com as redes de cinema AMC, Regal e Cinemark, nos EUA, garantindo que a sequência de ‘Entre Facas e Segredos‘ (chamada ‘Glass Onion: Um Mistério Knives Out’) seja exibida com exclusividade em cerca de 600 salas de cinema por uma semana, antes da estreia na plataforma de vídeo por assinatura.

Essa será a primeira vez que as grandes exibidoras do mercado norte-americano, AMC (a maior do mundo em salas) e Regal (a segunda maior dos EUA), vão projetar um filme da Netflix.

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“Este anúncio do nosso primeiro acordo com a Netflix é significativo para a AMC e para os amantes do cinema em todo o mundo”, disse Adam Aron, CEO da AMC, ao Deadline. “Como já dissemos muitas vezes, acreditamos que tanto os exibidores quanto os streamers podem continuar a coexistir com sucesso. Além disso, porém, nosso desejo é encontrar uma maneira de decifrar o código e trabalhar juntos de forma sinérgica.”
‘Glass Onion’ tem um elenco estelar e pode render uma boa bilheteria nos cinemas (crédito: divulgação / Netflix)

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Pelo acordo, o longa-metragem chega à tela grande no fim de semana do Dia de Ação de Graças, que ocorre em 23 de novembro. Será um mês antes das estreia no streaming, programada para 23 de dezembro. Ou seja, haverá um “blecaute” entre esses dos períodos de exibição, pelo acordo. Agora, não duvide que, se a produção for um sucesso (e tem tudo para ser), esses cinemas vão continuar com ‘Glass Onion’ por outras três semanas antes do público poder vê-lo na Netflix. “Esperamos que uma exibição bem-sucedida em nossos cinemas neste Dia de Ação de Graças leve a mais cooperação entre a Netflix e a AMC nos próximos meses e anos”, completou Aron. Além disso, a gigante do streaming já confirmou que a produção será exibida em “cinemas selecionados” de Irlanda, Itália, Alemanha, Israel, Austrália e Nova Zelândia. Tem o Reino Unido, também. Na terra do (agora) rei, a Netflix fechou acordos com as redes Vue e a Cineworld. Há conversas para ter ‘Glass Onion’ em outros grandes exibidores pela Europa. “Este é um momento emocionante em nosso relacionamento com plataformas de streaming e para o ecossistema como um todo”, disse Tim Richards, fundador e CEO da Vue International, por meio de comunicado oficial. “Os estúdios reconheceram o valor da janela dos cinemas e agora estamos vendo a Netflix abraçando o lançamento nos cinemas também.” “Este experimento é um avanço tanto para a indústria de cinema quanto para a Netflix e pode abrir caminho para uma cooperação mais forte no futuro, já que os filmes de grande orçamento da Netflix certamente pertencem primeiro à tela grande”, afirmou o CEO da Cineworld, Mooky Greidinger, ao Deadline. A rede é a segunda maior do mundo. Não se sabe, ainda, se haverá esse tipo de acordo no Brasil, mas é possível. O Cinemark, por exemplo, corresponde sozinha a 30% do mercado exibidor nacional.

Netflix e cinemas: um amor recente

Essa é uma grande quebra de paradigma para a indústria como um todo. Não é como se a Netflix não quisesse lançar seus filmes em cinemas anteriormente – um dos primeiros casos famosos foi o de ‘O Irlandês‘, por vontade do diretor Martin Scorsese. No entanto, os grandes exibidores jogaram tudo exigindo uma janela de exclusividade maior do que a plataforma pretendia negociar e o longa-metragem acabou A Netflix, então, passou a recorrer aos pequenos exibidores, fazendo lançamentos limitados na tela grande, sempre com janela de exclusividade curta e poucas salas. Nos EUA, isso também abriu as portas para que os longas se qualificassem ao Oscar. A empresa também passou a operar algumas (e históricas) salas naquele país.
Sede da Netflix em Los Gatos, Califórnia: os acordos com os grandes distribuidores começam a sair do papel (crédito: divulgação / Netflix)
A pandemia mudou esse cenário. Se, em um primeiro momento, o fechamento dos cinemas, o medo da covid e a diminuição de lançamentos fez os exibidores sofrerem, o alongamento da pandemia também revelou o caminho a seguir. Sucessos como o de ‘Top Gun: Maverick‘ comprovaram que o público está disposto a sair de casa para ver o filme-evento certo, e que a exclusividade na tela grande pode ajudar a criar uma espécie de fenômeno social que impulsiona a produção. Ao mesmo tempo, o streaming cresceu bastante na primeira fase da pandemia, com as pessoas em casa. Porém, o video on demand alcançou rapidamente uma fase de saturação – principalmente em mercados mais maduros, como os Estados Unidos. Hoje, a Netflix vive uma espécie de encruzilhada. A empresa precisa encontrar outras formas de receita, e a boa e velha bilheteria pode ser parte da solução – fora que uma carreira de sucesso no cinema pode impulsionar mais o filme no streaming do que o lançamento direto na plataforma. Vale lembrar que o primeiro ‘Entre Facas e Segredos’, produzido pela Lionsgate e com uma distribuição tradicional, rendeu uma bilheteria de US$ 311 milhões. Já os cinemas estão mais dispostos a negociar janelas menores, uma realidade que se impôs na pandemia. Ou seja: 30 dias de exclusividade, o que antes era muito para a Netflix e pouco para os exibidores, se tornou um meio termo bom para ambas as partes. Pois é. Cada vez mais o streaming vai parecendo a antiga TV paga, enquanto os cinemas vão se restabelecendo como… cinemas, ainda que um pouco diferentes. É o tão antecipado “novo normal”, que se parece bastante com o velho.

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

Escrito por
Renan Martins Frade

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