Às vezes, deixamo-nos levar pelo poder de marketing de estúdios como a Disney Pixar e deixamos de olhar para outros lados em busca de histórias animadas profundas e poderosas, que não precisam de tramas excessivamente complexas para emocionar. Este é o caso de Meu Amigo Robô, uma produção hispano-francesa dirigida por Pablo Berger (do filme espanhol Branca de Neve de 2012), baseada na novela gráfica Robot Dreams de Sara Varon. Ambientada em Nova York durante os anos 80, a história segue Dog, cuja vida solitária o leva a comprar um robô para fazer-lhe companhia. A amizade cresce, mas um dia infeliz na praia os obriga a se separarem e ansiarem pelo dia do reencontro. Praticamente sem diálogos, com uma animação vibrante e uma linguagem visual cativante, o filme conta uma história simples, mas profundamente emocionante, sobre (curiosamente) as relações humanas e o curso que tomam apesar (ou devido) a acidentes, circunstâncias fortuitas e eventos incontroláveis que acontecem ao longo da vida.
A grande maioria dos filmes de ficção sobre o Holocausto aborda, de uma forma ou de outra, a brutal violência que suas vítimas sofreram. Mas com Zona de Interesse (The Zone of Interest), o diretor Jonathan Glazer aborda o outro lado da moeda: os mecanismos de cumplicidade que permitiram que tais atrocidades ocorressem. A trama segue Rudolf Höss (interpretado por Christian Friedel) e sua família, instalados confortavelmente em uma casa de campo, um paraíso privado separado do campo de concentração de Auschwitz apenas por uma cerca de concreto. Sem expor nunca violência desnecessariamente gráfica, o filme analisa mais seus origens e suas consequências, permitindo assim ver as maneiras como a história e seus perigos se repetem até os dias atuais. Leia mais na crítica completa de Zona de Interesse.
Essa comédia britânica foi exibida e premiada no Festival South by Southwest 2019 com o nome de ‘Boyz in the Wood’, mas agora ganhou o título de ‘Get Duked!’ - uma brincadeira com um palavrão, em inglês, e com a trama do filme. A história mostra as aventuras de quatro adolescentes nas Terras Altas da Escócia para completarem o chamado “Desafio do Duque de Edimburgo”. Eles precisam fazer um trajeto no meio da selva e, como se isso já não fosse uma tarefa árdua, eles ainda precisam fugir de uma dupla de caçadores que querem matá-los. ‘Get Duked!’ é carregado de humor ácido e boas críticas à cultura jovem, em relação ao consumo de drogas e também da diferença entre classes sociais. A produção pode ser comparada ao tipo de comédia de Taika Waititi, que consegue falar de temas sérios e ainda extrair piada disso. Exemplo disso é o premiado ‘Jojo Rabbit’ e ‘A Incrível Aventura de Rick Baker’. ‘Get Duked!’ tem uma ótima trilha sonora - para quem for fã de hip-hop - e um enredo bem original, que mistura momentos de tensão com muito humor. O elenco do filme não é muito conhecido, os rostos mais populares são de Eddie Izzard, Kate Dickie, Jonathan Aris e James Cosmo, que entregam ótimas atuações. Os quatro protagonistas não ficam atrás, destaque para Lewis Gribben - é difícil não dar risada com as falas dele.
Em Uma Ideia de Você (The Idea of You), Solène (Anne Hathaway), uma mãe solteira de 40 anos, começa um romance inesperado com Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), de 24 anos, vocalista do August Moon, a boy band do momento. Mas não demora muito para que o status de superstar de Hayes coloque desafios inevitáveis ao seu relacionamento, e Solène logo descobre que a vida sob os holofotes dele pode ser mais do que ela esperava. Um romance emocionante, inspirado em uma fanfic de sucesso.
Este longa-metragem de estreia de Regina King na direção é adaptação de uma peça homônima, escrita por Kemp Powers. E a estreia não poderia ser mais interessante. Afinal, ainda que seja simplista em algumas decisões e um pouco cansativo com tamanha verborragia dos diálogos, o longa-metragem recria o encontro que nunca aconteceu de quatro dos maiores ícones do movimento negro dos anos 1960. É uma conversa deliciosa, que qualquer um tem vontade de participar. Há, aqui, emoção, sentimento, medo, angústia. Felicidade com o que mudou, preocupação com o que continua na mesma. King, enquanto isso, não aceita fazer desse filme apenas uma peça teatral filmada. Ela tem elegância na condução da trama, ajudando a destacar a amizade dessas quatro figuras e, principalmente, ressaltar aspectos do movimento negro dos anos 1960 que ressoam décadas depois. É um filme poderoso, urgente, elegante, necessário, preciso. É só aceitar o formato, entender o estilo e mergulhar na imaginação da trama que, segundo King, é uma história de amor.