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‘Pearl’ coloca terror no marasmo de uma vida sem perspectivas

É absolutamente indiscutível o sucesso ‘X: A Marca da Morte‘, produção da A24 em que o cineasta Ti West homenageia o slasher. É um filme bem dirigido, tenso, com uma boa dose de sustos e que, acima de tudo, traz uma atuação acima da média de Mia Goth (‘A Cura’, ‘Suspiria‘). Agora, West consegue subir ainda mais a barra dessa sua nova franquia com o ótimo ‘Pearl‘, filme que chega aos cinemas brasileiros já a partir desta quinta-feira, 9 de fevereiro.

Enquanto ‘X’ é uma homenagem aos anos 1980, ‘Pearl’ vai ainda mais longe e mergulha nos anos 1910. E não poderia ser diferente: o novo longa-metragem desta trilogia, a ser encerrada com ‘MaxXxine’, é uma chamada “prequência”. Ou seja: ao invés de ter uma história que acontece após os acontecimentos do primeiro filme, ele volta ao passado.

Mia Goth é o grande destaque de ‘Pearl’ (Crédito: A24)
Na trama, acompanhamos a história da jovem Pearl (Goth) que não aguenta mais morar na zona rural com sua mãe abusiva e com o pai em estado vegetativo. Entre idas e vindas, erros e acertos, Pearl acaba tendo um surto – por não aguentar mais, por desejar mudança, por ser passada sempre para trás. É uma produção muito mais madura do que ‘X’, enquanto o terror é apenas uma ferramenta muito bem usada para fazer uma análise e leitura de personagem.

Qual o significado de ‘Pearl’?

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Afinal, de alguma maneira, ‘X: A Marca da Morte’ é um filme de acontecimento, de caos, de apresentação. Temos o primeiro contato com aquela personagem bizarra interpretada por Mia Goth, enquanto coisas inacreditáveis acontecem ao seu redor. Aqui, enquanto isso, temos contato com sua origem. Entendemos (em partes) quem é Pearl, como ela chegou naquela situação, como sua personalidade foi moldada. Sabemos de onde vem sua violência. Tudo fica ainda mais interessante quando sabemos como ‘Pearl’ foi pensado — não apenas por West, mas também por Goth. Segundo eles contam, estavam filmando ‘X: A Marca da Morte’ na Nova Zelândia, em uma fazendinha no meio do nada, quando a pandemia começou a ficar ainda mais complicada. Goth, isolada junto com West e parte do elenco, começou a pensar ainda mais em Pearl. Quem era aquela personagem? O que fazia? Foi aí que nasceu a ideia do filme.
E percebe-se, realmente, que esta é uma história que só pode nascer no set de filmagem, em conversas e, acima de tudo, no sentimento inexplicável que um ator pode ter com um personagem. A protagonista é desenvolvida em profundidade. Conhecemos, através de seu próprio olhar, a realidade de 1918, quando a gripe espanhola é um medo real. Dessa forma, 1918 se conecta com 2022, com nossos tempos, e a personagem trafega em seu tempo. As sementes da psicopatia são plantadas, sempre com uma “limpeza” absolutamente desconcertante. A fotografia com inspiração em Technicolor, que nos coloca quase em um terror dentro do cenário de ‘O Mágico de Oz‘, deixa tudo estranho, quase fora de tom. A mesma coisa acontece com a história, que faz com que o público tenha empatia por essa personagem tão complicada. De um lado, é violenta e inclemente. Do outro, vive uma vida sem perspectivas.

Nasce uma estrela: Mia Goth

Nesse ínterim, Mia Goth é o grande acontecimento do filme. A atriz, que é neta da brasileira Maria Gladys, coloca de vez seu nome na indústria, depois de papéis sem muito espaço (ainda que com muito estranheza) em ‘Suspiria’, ‘A Cura’ e ‘Emma.’. Ela se entrega, de corpo e alma, em construir essa personagem tão complexa e repleta de camadas. Oras, veja como ela é certeira em cena. Na sequência da conversa dela com Mitsy (Emma Jenkins-Purro), temos uma tragédia completa. Ela acabou de perder o papel dos sonhos, não sabe como vai sair daquela situação infeliz, não vê perspectivas em sua vida. Está destruída, acabada. E Goth, tomando esse discurso no peito, tem uma das cenas mais impactantes do cinema em 2023: fala com verdade e emoção. O terror não nasce da direção, mas de sua atuação.
O Technicolor de ‘Pearl’ traz um visual diferente ao filme de terror (Crédito: A24)
Por outro lado, há cenas como o assassinato de um dos personagens centrais da trama, quando Goth derrama toda a sua insanidade em cena. Ou, ainda, quando ela faz o teste para fazer parte da tal companhia de dança e não alcança o resultado desejado. A atriz se desdobra em cena, se transforma, mostra como consegue atingir diferentes espaços com sua força. Se não fosse Mia Goth, certamente ‘Pearl’ seria um filme muito menos interessante e impactante.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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