‘Parasita’ surpreende e é o grande vencedor do Oscar 2020
Antes de começar, todos os bolões e apostas do mundo do entretenimento indicavam que ‘1917‘ seria escolhido como o Melhor Filme na 92ª edição do Academy Awards. Porém, o Oscar – na madrugada deste domingo (9) para segunda (10) – não só surpreendeu, como elegeu o seu primeiro filme em língua não-inglesa como o melhor do ano: ‘Parasita‘.
Não que ‘Parasita’ não mereça, muito pelo contrário. Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2019, o filme de Bong Joon Ho é uma demonstração do cinema sul-coreano e do investimento cultural do país, mas também uma crítica ao resultado das políticas econômicas naquele país. Tudo isso embalado em um roteiro envolvente, que mistura drama, comédia e thriller. Porém, não é o tipo de filme que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas costuma premiar.
Um dos grandes momentos de ‘Parasita’ (divulgação / Pandora Filmes)Nesse sentido, ‘1917’ e ‘Era Uma Vez em Hollywood‘ entregam aquilo que, normalmente, os eleitores do Oscar gostam: enredos de época, um sobre guerra e com grande feito técnico; o outro com um elenco de queridinhos e que fala sobre a própria Hollywood. Derrotá-los faz da vitória de ‘Parasita’ ainda mais contundente – e, em outro sentido, também mostra que a política de aumentar a diversidade entre os membros da Academia deu, de alguma forma, resultado.
Outro desafio que o longa sul-coreano superou foi o das legendas. O público americano em geral, incluindo quem vota no Oscar, não está acostumado com produções em língua estrangeira com legendas. Tudo isso faz a conquista deste filme ser ainda maior.
Vale registrar, claro, que não faz muito tempo que ‘O Artista’ venceu o Oscar como Melhor Filme – mas aquela era uma produção francesa quase muda (com poucos diálogos, e em inglês) que homenageava justamente a Hollywood de antigamente. No número de estatuetas, ‘Parasita’ foi também o maior vencedor: quatro, incluindo as também prestigiadas de Filme Internacional, Roteiro Original e Direção (a primeira para um diretor sul-coreano). ‘1917’ veio logo atrás, todas técnicas: Efeitos Visuais, Mixagem de Som e Fotografia, essa última pelo trabalho de Roger Deakins.
Três filmes venceram em duas categorias. A maior surpresa foi ‘Ford vs Ferrari‘, que levou Edição de Som e Montagem. Já ‘Coringa‘ levou nas duas em que era favorito: Ator (com Joaquin Phoenix) e Trilha Original (em um formidável trabalho de Hildur Guðnadóttir. ‘Era Uma Vez em Hollywood’ levou por Ator Coadjuvante (Brad Pitt, na primeira estatueta da carreira) e Design de Produção. ‘1917’ era o favorito para Melhor Filme, mas não levou (divulgação / Universal)Por outro lado, a maior frustração da noite foi ‘O Irlandês‘. O longa começou a premiação com dez indicações e terminou a festa sem nenhuma vitória. O Oscar 2020 também representou a última vez que tivemos indicados que foram lançados pela 20th Century Fox – o grupo foi comprado pela Disney, o estúdio se tornou mais um selo da empresa e agora atende apenas pelo nome de 20th Century Studios. O mesmo aconteceu com a Fox Searchlight, focada em produções mais artísticas, que passou a ser apenas Searchlight Fims. Por tudo isso, o nome Fox nos cinemas encerra a sua centenária existência com três Academy Awards: os dois de ‘Ford vs Ferrari’ e o de roteiro adaptado para Taika Waititi e ‘Jojo Rabbit‘. Foi o fim de uma era. Na categoria de Documentário Longa-Metragem, o Brasil acabou ficando sem a sua primeira estatueta: ‘Democracia em Vertigem‘ perdeu para o favorito, ‘Indústria Americana‘. Curiosamente, é possível traçar alguns paralelos entre o documentário norte-americano, que também mostra a vida dos trabalhadores, com ‘Parasita’. A Academia teve, realmente, uma visão coesa.
Confira a seguir os indicados e vitoriosos da premiação – quando disponível, clique no título para saber mais informações e onde poderá assistir. A nossa cobertura no Twitter está logo após.
Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.